3 de fev de 20213 min

Após golpe em Mianmar, denúncia torpe contra Nobel da Paz

Aung San Suu Kyi, principal líder civil de Mianmar, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991 (Foto: Reprodução)

A polícia de Mianmar acusou a líder civil deposta do país, Aung San Suu Kyi, de possuir vários walkie-talkies importados sem registro, que por isso ela ficará detida, informaram integrantes de seu partido nesta quarta-feira (3). União Europeia e Estados Unidos condenaram a ação militar na última segunda-feira (1º) e a classificaram como golpe de Estado no país.

Suu Kyi, principal autoridade civil do país, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 1991, foi presa na segunda-feira junto com outros políticos do primeiro escalão do governo civil quando o Exército deu um golpe no dia em que o novo parlamento seria inaugurado. De acordo com funcionários do partido de Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND), ela está em casa em prisão domiciliar. A denúncia contra Suu Kyi foi considerada "uma torpeza".

O texto da acusação contra Suu Kyi afirma que os walkie-talkies, que não foram registrados, eram para uso dos seguranças da agora ex-conselheira de Estado.

​O porta-voz da LND, Kyi Toe, confirmou a alegação em sua página no Facebook e acrescentou que o ex-presidente Win Myint foi acusado de violar a lei de gestão de desastres naturais. Phyo Zayar Thaw, legislador do partido, também confirmou as acusações, segundo a agência de notícias Associated Press.

Além da prisão e deposição dos principais líderes do governo civil, os militares de Mianmar decretaram o estado de emergência por um ano. Com isso, o general Min Aung Hlaing exercerá a presidência interina do país durante esse período.

De acordo com o novo governo interino, assim que acabar o estado de emergência, sem nenhuma garantia, o país realizará eleições para determinar quem vai assumir o governo.

O governo golpista assinalou que planeja investigar as denúncias de supostas fraudes nas eleições realizadas em novembro do ano passado, conforme anunciou nesta terça-feira (2) o general Aung Hlaing em sua primeira reunião de governo, citado pelo jornal estatal Global New Light of Myanmar.

Segundo o Exército do país, uma das razões para derrubar o governo civil liderado por Suu Kyi foi que este não investigou adequadamente as suas alegações de supostas irregularidades no pleito. Por sua vez, a Comissão Eleitoral afirmou, antes do golpe militar, que não ocorreram problemas significativos na votação.

Nas eleições de novembro de 2020, em votação secreta, o partido de Suu Kyi ganhou 396 dos 476 assentos em disputa em ambas as casas do parlamento, enquanto o principal partido de oposição, que é vinculado aos militares, obteve apenas 33 representantes. O Exército, no entanto, tem direito a 25% de todos os assentos nas duas câmaras com base na Constituição de 2008, que entrou em vigor sob o governo militar anterior.

Segundo o jornal estatal Global New Light of Myanmar, o general Aung Hlaing disse ao governo que uma nova comissão eleitoral, composta por funcionários que ele descreveu como independentes e imparciais, "avaliará os dados da votação para encontrar os resultados corretos, e as ações apropriadas serão tomadas no processo''. Além disso, as listas de eleitores serão examinadas para detectar os registros de famílias inteiras, acrescentou o militar.

De acordo com um comunicado divulgado nesta quarta-feira (3) em nome dos membros da liderança do partido de Suu Kyi, as autoridades de Mianmar começaram a fazer buscas nos escritórios da LND em Mandalay e em outros estados e regiões na terça-feira (2), confiscando diversos documentos e computadores.

O presidente Joe Biden, em uma contundente declaração na segunda-feira, disse que os Estados Unidos considerariam voltar a impor sanções ao país, que foram levantadas durante sua transição de uma década para a democracia. Washington contribuiu com US$ 1,5 bilhão para Mianmar desde 2012 para apoiar a democracia, a paz interna e as comunidades afetadas pela violência, segundo o Departamento de Estado. A União Europeia também condenou o golpe e reclama a libertação imediata dos detidos, que incluem, além dos líderes do governo democrático, também governadores regionais, escritores e ativistas.

Com a Sputnik