18 de mai de 20212 min
Nesta segunda-feira (17/5), o Sistema Único de Saúde completou 33 anos. Foi em maio de 1988 que os constituintes tomaram a decisão de criar o SUS, no âmbito da Assembleia Nacional Constituinte. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Paulo Capel Narvai, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, comenta a criação do sistema.
Segundo Narvai, a própria data de aniversário do SUS é motivo de discussão. Há quem diga que o sistema é de outubro de 1988, quando a Constituição foi promulgada, mas o professor discorda.
“Sem a sessão que aconteceu em maio, em que se aprovou a criação do Sistema Único de Saúde, nós não teríamos o SUS”, afirma. “A Constituição poderia ter sido aprovada sem o sistema”, acrescenta.
Para o professor, o SUS é fruto da campanha das Diretas Já e da 8ª Conferência Nacional de Saúde, de 1986, mas a criação foi em 17 de maio, quando o sistema foi aprovado com 472 votos favoráveis.
“Foi uma vitória importantíssima, o SUS é criado com a legitimidade dessa força do voto dos deputados e senadores da Assembleia”, diz.
De acordo com Narvai, um dos grandes debates sobre a criação de um sistema universal girou em torno da questão de financiamento.
“A grande instituição vinculada ao Estado que atendia a saúde dos brasileiros era o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), que atendia segurados e dependentes”.
Por conta disso, os recursos da Previdência foram considerados para financiar o SUS, o que não ocorreu. O programa foi aprovado sem vinculação, sob o pretexto de não limitar a flexibilidade orçamentária dos governantes.
“Atualmente o SUS entra nos orçamentos de todos os entes federativos, porque é um sistema nacional”, comenta.
Segundo o professor, as leis vigentes tratam da transferência de recursos da União para Estados e municípios, mas nunca se conseguiu vincular esses recursos ao sistema.
“O SUS é criado em 1988, a legislação que o regulamenta é de 1990, e apenas em 2012 é aprovada a lei fixando porcentuais dos orçamentos de municípios que devem ser destinados à saúde.”
Entretanto, em 2016, uma emenda constitucional “vinculou o orçamento do SUS ao aplicado em 2016, mais a inflação do ano anterior, e congelou por 20 anos os recursos”, segundo Narvai.
“Para a saúde isso é dramático”, afirma.
Como a população envelhece e os recursos necessários para a saúde são cada vez maiores, o professor acredita que congelar os gastos na realidade significa que há disponibilidade de menos verba.
“A estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é de que o SUS perca, entre 2018 e 2036, R$ 400 bilhões.”.
Para Narvai, a pandemia de coronavírus evidencia a importância de um sistema como o brasileiro.
“O Brasil tem aproximadamente 3% da população mundial e 9% dos casos de covid-19 no mundo.”
No caso dos óbitos, o professor afirma que 13% deles acontecem no País, uma situação crítica.
“Nós poderíamos ter muito mais casos e mortes do que temos se a gente não tivesse o SUS. Há um reconhecimento universal de que o SUS tem sido de inestimável valor no enfrentamento da pandemia, embora subutilizado em muitos municípios”, completa.
Fonte: Jornal da USP