Eleição de Axel projeta Rodrigo como liderança do PDT
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Eleição de Axel projeta Rodrigo como liderança do PDT

Por Luiz Augusto Erthal



As urnas mal haviam esfriado quando o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, atravessou a Baía da Guanabara para se encontrar com o prefeito Rodrigo Neves. Foram almoçar na terça-feira, 17, no Caneco Gelado do Mário, tradicional reduto boêmio e brizolista da cidade, frequentado por Lupi desde a juventude, quando trabalhava como jornaleiro de dia, no Rio, e pegava as barcas para estudar, à noite, em Niterói.


Entre um e outro bolinho de bacalhau, veio, pela boca de Lupi, a razão principal da comemoração, conforme revelada por Rodrigo ao TODA PALAVRA: a vitória em Niterói foi “a mais simbólica para o PDT em todo o país”. De fato, o partido, que ainda disputa as eleições no segundo turno com grandes chances de vencer em duas capitais de estado - Fortaleza e Aracajú -, conquistou em Niterói a sua única vitória entre as 100 maiores cidades brasileiras no primeiro turno.


Mas a relevância do resultado - expressivo em si mesmo, com mais de 62% dos votos válidos dados ao ambientalista Axel Grael - não está só na dimensão da cidade, com pouco mais de meio milhão de habitantes. Nos últimos dias Rodrigo Neves tem reafirmado com frequência a condição de Niterói como bastião trabalhista. E agora mais ainda, depois que a “Cidade Invicta” - título conquistado por Niterói após de resistir em armas à Revolta da Armada para defender a República recém proclamada - “varreu do mapa”, no dizer do prefeito, a extrema direita.


Axel foi seguido de longe, na segunda colocação, por Flávio Serafini, do PSOL, com menos de 10% dos votos, o que demonstra o amplo domínio progressista na cidade que há mais de 30 anos é governada pela esquerda - na maior parte do tempo, pela esquerda trabalhista, que reassumiu, em 1988, o comando político na primeira eleição após a ditadura de 1964, com a ascenção de Jorge Roberto Silveira, filho do ex-governador trabalhista do Estado do Rio, Roberto Silveira.


Mas varrer a direita das ruas de Niterói e consolidar o Trabalhismo na cidade não foi a única façanha do atual prefeito, cuja gestão obteve 85% de aprovação popular. A vitória de Axel projetou Rodrigo como uma liderança do PDT com vistas às eleições de 2022 para o governo do estado, acoplada à candidatura de Ciro Gomes a presidente da República.


Estrategista

Rodrigo emerge do dia 15 de novembro não só como o principal eleitor do seu sucessor, mas como estrategista cuja capacidade de articulação foi percebida nos resultados das eleições de primeiro turno em cidades como São Gonçalo, Cabo Frio e Campos, fazendo mais uma vez de Niterói um centro irradiador político, como nos idos da Velha Província.

Porém, ainda é cedo para que os brotos dessa germinação possam eclodir mais claramente.


“As eleições estão muito longe ainda”, desconversa Rodrigo, que, após passar seis meses dormindo três horas por noite e liderando uma das mais aplaudidas - reconhecida inclusive internacionalmente por jornalões como The New York Times, Washington Post, Le Monde, El País e Deutsche Welle - reações de uma cidade à pandemia de coronavírus, tem planos mais caseiros e pessoais, como curtir a família e se dedicar a teses de sociologia e a um livro sobre gestão pública que tem em mente.


Mas também tem missões políticas a cumprir, como, a pedido de Carlos Lupi, ajudar na elaboração de um novo programa partidário do PDT. Depois de construir uma carreira de vereador a prefeito, passando por deputado estadual, dentro do Partido dos Trabalhadores, Rodrigo se devota, agora, por inteiro, ao ideário que conheceu em casa, ainda garoto, sobretudo pelas posições políticas de D. Maria Luiza Neves Barreto, sua mãe, professora e brizolista.


A contribuição de Rodrigo Neves, porém, não vai se basear apenas em teorias. Os oito anos em que administrou a cidade de Niterói sintetizaram, na sua opinião, um projeto a ser replicado. “Niterói tem um projeto de cidade, algo que falta ao Brasil, um projeto de nação, até mesmo ao Rio de Janeiro, como um projeto de estado”, enfatiza.


Alma lavada

Logo no início da entrevista ao TODA PALAVRA, o primeiro sentimento expressado por Rodrigo Neves foi de desafogo e realização:


“Realmente é uma alegria, estou com a alma lavada! Foi uma vitória retumbante, avassaladora, a onda trabalhista!”

A realização estava clara: ele deixa o governo com um índice de 85% de aprovação e elege seu sucessor com mais de 62% dos votos, além de fazer a maior bancada na Câmara de Vereadores, evidenciando o sucesso junto à opinião pública dos seus oito anos de gestão na cidade.


O prefeito se orgulha em dizer que poderá deixar para o cidadão niteroiense “o melhor índice de desenvolvimento humano do Estado e também a liderança em todos os rankings de políticas públicas que são divulgados na área de gestão fiscal, saneamento, limpeza urbana, cidades inteligentes, segurança pública, na área da saúde e educação”.


Quanto ao desafogo, esse é um tema que Rodrigo, após passar três meses preso, no início do ano passado, acusado pelo Ministério Público estadual por suposto recebimento de propina de empresas de ônibus, mas sem ter sido sequer ouvido em juízo durante o período da sua prisão, ainda promete abrir, em tempo oportuno, o seu coração.


No entanto, o resultado das urnas já seria, para ele, uma resposta imperativa:


“Niterói devolveu com uma resposta retumbante. E, ao mesmo tempo, essa direita odiosa, odienta, que nesses últimos anos, especialmente a partir de 2017, através de seus gabinetes de inteligência, milícias digitais e suas fake news, que atacou sistematicamente a minha reputação, a minha honra, minha pessoa com mentiras, ela teve um desempenho medíocre.”

A entrevista, na íntegra

Leia, a seguir, na íntegra, a primeira grande entrevista de Rodrigo Neves, dada com exclusividade ao TODA PALAVRA, após as eleições municipais de 15 de novembro. Antes mesmo da primeira pergunta, Rodrigo já começou expressando o seu sentimento:


Rodrigo: Muita alegria no coração! Realmente é uma alegria, estou com a alma lavada! Foi uma vitória retumbante, avassaladora, a onda trabalhista.

TP: Realmente, não é comum se ver um desempenho assim, do candidato de um governante em segundo mandato, já no final, conseguir um desempenho de mais de 60% dos votos...

Rodrigo: A gente teve oportunidade de mostrar na campanha o que foi feito ao longo desses anos, de reconstruir o orgulho do niteroiense, de resgatar a cidade, recuperar indicadores. Hoje, Niterói lidera todos os indicadores de gestão pública. Gestão fiscal, transparência, saneamento, limpeza urbana, cidade inteligente, segurança pública... E aí a aprovação ao governo aumentou, era de 80% e chegou a 85%. Tive oportunidade de fazer também uma prestação de contas. E, realmente, chegar ao fim da segunda gestão com 85% de aprovação, com o meu vice-prefeito [foi vice na primeira gestão de Rodrigo Neves], Axel Grael, vencendo dessa maneira... É um feito! Fizemos também a maior bancada da Câmara, o vereador mais votado da cidade... Acredito que o niteroiense devolveu todo o amor que eu e o Grael demos, todo trabalho, toda dedicação. Levamos muitos anos para reconstruir a autoestima, a perspectiva, a qualidade de vida da cidade. Niterói devolveu com uma resposta retumbante. E, ao mesmo tempo, essa direita odiosa, odienta, que nesses últimos anos, especialmente a partir de 2017, através de seus gabinetes de inteligente, milícias digitais e suas fakenews, que atacou sistematicamente a minha reputação, a minha honra, minha pessoa, com mentiras, ela teve um desempenho medíocre. Dois anos depois a gente teve uma onda trabalhista que varreu do mapa a extrema direita em Niterói.

TP: O senhor disse que Niterói se consolida como uma cidadela do Trabalhismo. De fato, a cidade é um reduto trabalhista histórico, desde quando era capital do estado, antes de 1964, sediando os governos trabalhistas de Roberto Silveira e Badger Silveira. Hoje, qual seria, ao seu ver, a importância de Niterói para o Trabalhismo no Brasil, tanto em nível regional quanto nacional?

Rodrigo: O próprio Lupi [Carlos Lupi, presidente nacional do PDT] falou que a vitória de Niterói é a mais simbólica para o PDT no país, pela enorme tradição na cidade, pelas experiências bem sucedidas de governos trabalhistas. Não tenho dúvidas que graças a essa história e a essa trajetória e continuidade de políticas públicas nós conseguimos consolidar o Trabalhismo e proporcionar para o cidadão de Niterói as melhores políticas públicas, o melhor índice de desenvolvimento humano do Estado e também liderança em todos os rankings de políticas públicas que são divulgados na área de gestão fiscal, saneamento, limpeza urbana, cidades inteligentes, segurança pública, na área da saúde e educação, com investimentos recordes, e isso é muito significativo porque diz respeito ao trabalho que a gente fez para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Niterói tem um projeto de cidade, algo que falta ao Brasil, um projeto de nação, até mesmo ao Rio de Janeiro, como um projeto de estado. Niterói tem projeto de cidade no sentido da modernidade, da inovação, da sustentabilidade, da proteção social. Essa filosofia do Trabalhismo, esse programa político, que compreende a importância da iniciativa privada e acredita na economia de mercado como sistema capaz de produzir riquezas, mas ao tempo não abre mão do papel executor do estado no sentido de proteger os mais vulneráveis e garantir a dignidade do trabalho, sobretudo garantir a igualdade de oportunidades. Com certeza, não se pode imaginar discutir meritocracia sem que se garanta a igualdade de oportunidades, o ponto de partida minimamente justo e mais igual para que todos possam desenvolver as suas potencialidades. Então, esse programa e essa filosofia que nos orienta ajudou muito na construção desse projeto de cidade nos últimos anos e viabilizou o desenvolvimento sustentável de Niterói, inclusive em governos anteriores ao meu, ainda no governo do Jorge Roberto Silveira, e eu acredito que isso, hoje, se tornou uma referência no estado do Rio e no país, sobretudo porque nos últimos anos o estado e o país, principalmente as cidades, observaram retrocessos dramáticos na qualidade de vida da população.

TP: Como o senhor vê essa nova condição das relações de trabalho que estão surgindo, dentro dessa perspectiva trabalhista?

Rodrigo: O capitalismo selvagem, o neoliberalismo e mais recentemente esse pensamento autoritário protofascista foram capazes de construir algo que possui muito em termos de desenvolvimento econômico, social, cultural das sociedades que experimentaram esse modelo. Evidentemente que o Trabalhismo remonta ao início do século XX, que é uma teoria política que perpassa décadas no Brasil e precisa ser continuamente atualizada, sobretudo diante das transformações da Quarta Revolução Industrial, que é a revolução da inteligência artificial, de uma economia muito mais complexa e dinâmica do que a economia do século XX. Entretanto, os compromissos com a dignidade do trabalho, a proteção social dos mais vulneráveis e a necessária ação do estado para garantir a igualdade de oportunidades devem estar presentes em qualquer projeto de atualização do Trabalhismo, diante desse novo contexto da quarta revolução do trabalho.

TP: Essa vitória esmagadora do Axel com mais de 62% dos votos e esse índice de aprovação de mais de 85% da prefeitura na sua gestão, como isso pode impactar no cenário político das eleições de 2022?

Rodrigo: As eleições estão muito longe ainda. Na verdade, eu tenho uma sensação de missão cumprida. E como apóstolo Paulo escreve na carta a Timóteo, “combati o bom combate e guardei a fé”. A melhor resposta foi dada nesse momento pela sociedade de Niterói. É o reconhecimento ao trabalho, ao amor dedicado à cidade. Eu paguei cerca de R$ 400 milhões em dívida, mas o mais importante é que vou entregar a prefeitura de Niterói ao Axel com a dívida líquida da prefeitura zerada e mais de R$ 300 milhões em caixa. Manti uma gestão fiscal responsável nesses últimos anos e isso garante uma razoável tranquilidade em tempos difíceis que o Brasil e o Rio de Janeiro vão passar nos próximos anos. Inclusive, cito até a necessidade de unidade das forças populares e democráticas para construção de uma frente ampla que seja capaz de reconstruir o estado e reconstruir o país.

TP: Isso ficou muito claro na eleição do Rio, não é, prefeito?

Rodrigo: Sim, claro, é contrastante a situação do Rio com a situação de Niterói, Cabo Frio, Maricá, São Gonçalo e Campos.

TP: Uma coisa que parece muito clara é que o senhor vai trabalhar na costura das articulações políticas, no bastidores do partido, certo?

Rodrigo: Vou me dedicar a escrever um livro sobre a gestão pública, falando um pouco sobre a situação do município na área da segurança pública, planejamento urbano, a questão das contas públicas, contar um pouco dessa experiência na gestão de Niterói para que outros administradores municipais do país possam de alguma forma contar com esse relato. Muito do que a gente a fez em Niterói nós implementados a partir dos estudos e das experiências já bem sucedidas, sem inventar demais a roda, e fomos adaptando à realidade de Niterói experiências nacionais e internacionais, então quero escrever sobre isso. Recebi também vários convites para fazer projetos na minha área, Sociologia, e dedicar um pouco mais à família, à minha netinha. Estou realmente exausto. De março a agosto, eu passei a dormir em média três horas por dia, trabalhei em média 15 horas por dia, aí depois veio a campanha. Estou realmente exausto, mas com sensação de missão cumprido. E a convite do Lupi estou ajudando a pensar um programa partidário de atualização do programa do Trabalhismo e do PDT que possa aumentar nossa intervenção pública e levar isso para outras pessoas do partido.

TP: Então, o senhor assume mesmo uma missão partidária?

Rodrigo: Sim, sem dúvida. Eu sou uma pessoa que acredita na importância dos partidos políticos na democracia. Minha opção pelo PDT foi muito consciente. Já devia ter acontecido em 2016, só não aconteceu porque deu aquela confusão toda...

TP: Em Niterói tivemos nos anos 90 um encontro histórico do Paulo Freire com o Darcy Ribeiro. Nesse encontro, Paulo Freire afirmou que os CIEPs representavam o projeto educacional mais importante que já foi feito na América Latina. Queria que o senhor falasse sobre a importância do resgate dos CIEPs, que mesmo bombardeados se tornaram referência nacional e decisivos para que o ensino em tempo integral se tornasse uma meta para o Brasil inteiro.

Rodrigo: No projeto de atualização do programa do Trabalhismo eu pretendo resgatar e reafirmar, como elemento central, que está no cerne da proposta do trabalhismo, é a educação como política pública mais importante para o desenvolvimento nacional e a redução das desigualdades da sociedade brasileira. Se o país não conseguir um grande pacto pela Educação, pelo tempo integral, que seja capaz de elevar a consciência e melhorar a educação da população, vamos ficar pra trás. Isso é fundamental porque o estado do Rio de Janeiro, que foi devastado nessa década, convive com índices alarmantes, indecentes e imorais de marginalização juvenil e de jovens que não trabalham.

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