Juliana Benício: uma novata contra a mediocridade (parte 1)
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Juliana Benício: uma novata contra a mediocridade (parte 1)

Entrevista a Luiz Augusto Erthal

(colaborou Apio Gomes)

Juliana Benício, pré-candidata do Novo

O Novo - partido comandado nacionalmente pelo banqueiro João Amoedo - terá como candidata a prefeita em Niterói uma novata na política: Juliana Benício, 42 anos, mestre em Economia e doutora em Engenharia de Produção. Trabalha com gestão educacional há 15 anos. É coordenadora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFRJ – Campus Niterói, e avaliadora do INEP/MEC. Ela se apresenta como oposição ao "governo medíocre" de Rodrigo Neves.

TP - Fale um pouco como surgiu o seu interesse pela política.

Eu sou neta de um deputado estadual, que foi secretário de Estado também, Câmara Torres; que, [mesmo] diante de sua dedicação extrema à política, não conseguiu que um filho o seguisse.

Então, quando a política começou a mudar muito, mudar as suas práticas, naquela época (década de 50) meu avô foi se afastando da política. Na verdade, eu não vivi a política do meu avô. Mas parece que estava no meu sangue; porque eu sempre fui muito política, na vida, desde a escola com participação em grêmio no Abel; sempre fui representante de turma. Percebo que, na minha trajetória, a própria vida na educação tem a ver com o fazer político, que é o necessário.

Mas nunca encontrei espaço para fazer isto, até porque, quando entrei na faculdade (onde a gente se consolida como agente político atuante) os espaços que encontrei ali não me pareceram próximos a mim. Não tinham a ver com as minhas lutas de então.

Então, fui me afastando, casei muito cedo, tive filho muito cedo, e fui vivendo umas experiências diferentes. Eu acho que isto foi muito legal; porque acho que várias Julianas vivem durante estes 42 anos: Juliana executiva; Juliana mãe; Juliana professora. E essas Julianas foram vivendo experiências diferentes, e sempre muito com um olhar de tentar entregar algo para a coletividade.

Aí apareceu o Novo para mim. Já gostei no Novo desde o início. Sou mestre em Economia, pela UFF e desde o meu mestrado me afinei muito com as ideias liberai. Logicamente que sempre contrapondo com as leituras heterodoxas, também. Li muitos heterodoxos: Li Keynes, li Marx. E isto foi construindo meu ideal.

Eu me afinei ao partido, mas não era filiada. Aí, um amigo falou comigo: “Tem um processo seletivo aberto, no Novo”. Isto em março de 2019. E eu: “Processo seletivo para quê? Será que é para trabalhar no Novo? Eu já gostei da ideia”. “É para candidato a prefeito”, disse ele. “O quê? Tá maluco, cara? Está querendo o meu mal…”. Para mim, naquela altura, política era algo intransponível. E falei: “Quer saber? Se é um processo seletivo, então, vou!…”. A coisa que mais fiz na minha vida foi participar de processo seletivo. Adoro processo seletivo. “Então eu vou encarar isso”. Este processo seletivo durou uns sete meses. E durante este processo, eu fui sabatinada quanto ao conhecimento da cidade; fui sabatinada quanto ao meu carisma, minha desenvoltura ao falar; e meu alinhamento às ideias liberais do partido.

E durante este processo – foi um processo profundo de autoconhecimento e redescobertas.

TP - Você concorreu com quantas pessoas?

Foram 15 inscritos. Só que todos os inscritos éramos sigilosos. Até hoje, só fiquei sabendo de um. Na verdade, um outro eu soube depois.

TP - Então, a primeira eleição você já ganhou…

As prévias… As prévias eu ganhei.

TP - Foi dura esta prova?

Acho que foi uma das maiores provas que já tive. Foram sete meses. Não foi só uma prova: foram quatro entrevistas e uma prova; fora a prova de currículo. Foram alguns meses. É que eu queria muito. Eu comecei a descobrir que eu queria muito. E, aí, eu comecei a ter acesso a informações que não tinha antes. E aquilo para mim foi desafiador. Eu comecei a descobrir que é possível fazer um grande trabalho. Eu acho que meu período no processo seletivo foi me dando garra e força – e descobri que eu era capaz. Fui percebendo que existia uma força interna de me sentir capaz de assumir este desafio.

TP - Vivemos um momento de grandes tensões políticas. Como você pretende encarar esta briga?

Vamos separar os problemas? Tensão política e tensão ideológica. Para mim, são dois problemas diferentes.

Então, é o que você está dizendo: estou entrando num jogo que está sendo jogado. E eu estou querendo fazer outras rotas dentro deste jogo. Isto é um processo incrível! E não é uma coisa que vai ser somente quando eu assumir - possivelmente assumir: é um jogo que já está agora.

Por exemplo, quando vou atrás de captação, são diversos doadores que não podem doar; não podem botar o CPF, porque têm medo de retaliação, porque já ajudam outros candidatos que fazem por caixa dois (e a gente não faz). Então, a gente tem uma campanha extremamente humilde e barata, porque é quase uma campanha com voluntários – “Ah, isto é lindo!… Isto é lindo…”. Exatamente: isto é lindo. Só que, na prática, isto é muito difícil. Você tocar um desafio deste, lutar contra as pessoas que têm a máquina, que têm infiltração em todas a comunidades; e você trabalhar só com voluntários, é muito difícil.

Não que estes voluntários não andem, não acreditem no projeto; mas eles têm que resolver as próprias vidas; eles precisam, de alguma forma, ganhar dinheiro.

TP - É uma campanha pobre de um partido rico? Rico, no sentido de ser um partido de empresários, de profissionais liberais.

Então… Isto é uma coisa, que vou te falar… No início, quando conheci o Novo, eu gostei do Novo. Mas eu tinha este mesmo pré conceito. Até porque o Amoedo é um cara muito rico, que está à frente disso tudo, não é? Mas, na realidade, o Novo não é feito de pessoas como Amoedo. Se você conhecer as pessoas que fazem o Novo, por exemplo de Niterói, são pessoas que vão para São João de Meriti todo dia: cinco horas da manhã saem de casa; voltam às cinco hora da tarde, e começam a trabalhar para o povo.

TP - Então é um partido de trabalhadores…

São pessoas trabalhadoras comuns. As pessoas como eu, tem um marido médico; e sou professora estatutária. São pessoas que, de alguma forma, viram que, na prática, este partido não tem dinheiro voando… Este partido não tem dinheiro farto. Eu estou atrás de doador (“pelo amor de Deus, alguém que tiver dinheiro ajude…”) que acredite neste projeto; porque, na prática, esses ricos não estão aqui.

TP - A política nacional influir em Niterói, nesta eleição?

Na verdade, eu acho que vai. Eu, particularmente, não acho isto bom. Porque acho que a pauta municipal é muito local; você precisa saber se os candidatos se doam; se sabem dos problemas, quais são as prioridades. Quando a gente vai para uma pauta muito nacional, a gente vai perder como cidadão.

Mas, se for esta a demanda do eleitor, e ele quiser meu posicionamento quanto a isto, eu vou me doar totalmente. Porque eu tenho muita clareza de minhas posições. Então, se for esta a vontade dele, eu vou me expor neste sentido.

Agora, eu acharia ideal que a gente discutisse, realmente, pautas locais. Eu gostaria de falar sobre os dados que eu abri.

TP - Quais são esses dados?

Na minha leitura, o maior problema, hoje, da nossa gestão pública é o aparelhamento. Então, quando eu digo isto parece que estou inflamando as pessoas contra a corrupção. Mas não é… É que um governo aparelhado faz com que você não traga as escolhas corretas. E aí vem todo este meu estudo sobre economia municipal.

A gente tem 53 unidades administrativas, com status de secretário. Sabe o que é ter 53 subordinados? Você não consegue alinhar. Então, você não consegue trazer um alinhamento filosófico; não tem planejamento estratégico.

Segundo, a quantidade de comissionados: 45% da nossa estrutura de funcionários da prefeitura é de comissionado. E aí a gente sabe o que acontece nos bastidores – que é aquela moeda de troca: “olha, você teve tantos votos, você consegue este cargo”. E aí, você coloca uma pessoa ali porque teve tantos votos. Não é porque ela é capaz de fazer aquilo. Então, uma secretaria com quase 400 pessoas trabalhando, como a Secretaria Executiva… Isso não existe.

Outro dado que sempre falo: teve um ano (se não me engano, foi em 2018) em que 80% da receita da prefeitura foi alocada na Secretaria Executiva para ela disparar para as outras secretarias. O que isto mostra? Que as secretarias estão aparelhadas com outros partidos políticos. Ele não quer que o dinheiro chegue diretamente. Então, ele aloca a verba pública para que ele oriente a verba para onde ele quer. Então, isso são ineficiências que são muito graves para uma gestão pública. Isto é, no mínimo, inaceitável.

TP - Como economista, como você avalia a gestão do município hoje?

A palavra a ser utilizada é medíocre. É um governo medíocre.

TP - Por exemplo, o que você acha do fundo soberano criado pelo prefeito Rodrigo Neves?

Na verdade, toda essa gestão fiscal, que se fala, da Prefeitura, ela só ocorre, sem dúvida nenhuma, por causa dos royalties. Não tenho dúvida. Tirando os royalties (eu já fiz um estudo), a gente consegue pagar a administração central, saúde, educação e previdência. Fora isso, a gente não paga mais nada.

Sobre este fundo, eu gosto de ser específica. Eu não tenho dúvidas de que ele é feito só para a gente criar um indicador.

Quando a gente tem mais tem dinheiro guardado, mais a gente diz para esses agentes externos que a gente seria um bom pagador – porque a gente tem dívida para o futuro; como tem dinheiro guardado, a gente não vai dar calote. Na verdade, isto – para a cidadão – não significa nada! Porque o que vai fazer a gente pagar a conta, mesmo, é o recebimento dos royalties. Sem os royalties a gente não paga. Tanto é que, em 2016, a gente foi deficitário. Antes de 2016, a gente teve um mínimo de superávit. A gente conseguiu ter gordura, mesmo, quando o royalty bombou. Até porque é difícil prever o que a gente está esperando receber desta receita. Então, acabou entrando mais receita do que se colocou na LOA [Lei Orgânica], então a gente ficou superavitário. E então se colocou isto num fundo. Tem que se ter muita clareza disto.

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