Ítalo Marsili: a farsa olavista cotada para o Ministério da Saúde
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Ítalo Marsili: a farsa olavista cotada para o Ministério da Saúde

Atualizado: 29 de mai. de 2020



ítalo Marsili ofendeu diversos profissionais, notadamente pedagogos e professores. Foto: Reprodução de vídeo

No decorrer da última semana, um vídeo que repercutiu nas redes sociais deixou muitas pessoas estarrecidas. Nesse conteúdo, o médico Ítalo Marsili, que está entre os nomes cotados para assumir o Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, expressou posicionamentos extremamente agressivos e preconceituosos contra várias classes: pedagogos, professores no geral, astrônomos, entre outros, são algumas das profissões que, de forma extremamente generalizante e etnocêntrica, foram atacadas pelo médico. Nas palavras de Ítalo:

Professor não trabalha nada, porque professor não sabe o que tá fazendo. Quando entra em sala de aula, fica mais perdido que crente em fila de comunhão. Então professor é outra raça que ele se cansa, mas não trabalha, porque não sabe o que faz [...] Obviamente o professor no Brasil não sabe ensinar, porque ele é burro. Você tá entendendo? É burro! O sujeito que menos estudou na vida, sabe o que escolhe fazer na vida no terceiro ano? Pedagogia!”

Em tempos de normalidade, falas imbecis como essas proferidas pelo Sr. Ítalo, seriam desprezadas e ignoradas, tendo em vista que representam o mais raso, preconceituoso e superficial que poderia existir acerca de um conhecimento entendido como racional e/ou científico. Mas não vivemos esses tempos e, infelizmente, muitos desses que outrora seriam desconsiderados, hoje estão no poder. Pior, estão no governo federal. Por isso, desmascarar tais narrativas, inflamadas por fake news, senso comum e pouco conhecimento confiável, se faz extremamente necessário.

Em outros vídeos, Ítalo se coloca de forma machista, afirmando que o problema da democracia está no voto feminino, pois as mulheres são fáceis de se convencer, basta você “seduzi-las”. Também menospreza o conhecimento científico contemporâneo, chegando a afirmar que “cientistas de Harvard ou Stanford”, duas das melhores universidades do mundo, não passam de “meras crianças”, se comparados aos debates filosóficos que supostamente estaria inserido. Falas patéticas como essas, saindo da boca de alguém que defende a cloroquina no combate ao Covid-19, explicitam o quão baixo e rasteira é a visão desse cidadão aos olhos da comunidade científica. Em tempos marcados pela defesa de teorias conspiratórias e infundadas, como “ideologia de gênero”, “doutrinação nas universidades”, “kit gay” que nunca existiu e “terraplanismo”, as opiniões do Dr. Marsili só referendam essa perspectiva anticiência.

E até mesmo por não conseguir adentrar com excelência no campo científico, o Sr. Ítalo passa a difundir olhares completamente contrários a tudo que a ciência tem defendido. É uma forma nítida de se colocar como distinto a todos aqueles que estão acima de seu nível. E para isso, apela para a mediocridade como antítese a qualquer tese científica, tendo como base de seus posicionamentos os “frutos” acumulados a partir de sua assumida formação olavista.

Procuramos em seu currículo lattes (plataforma do CNPq onde os cientistas brasileiros explicitam suas referidas trajetórias acadêmicas) e, apesar de não atualizá-lo desde 2012, Ítalo explicita em sua introdução curricular que “morou por 2 anos com Olavo de Carvalho”, como se essa patética afirmação referendasse alguma relevância acadêmica. Ainda preenche em seu currículo, de forma equivocada, que o curso realizado com o antigo “guru” da ala bolsonarista, seria uma espécie de especialização (Pós-Graduação Lato Sensu), onde na verdade não passa de um cursinho vendido online por um pseudointelectual sem formação acadêmica alguma. E pasmem: ainda cita o nome de Olavo de Carvalho como se esse representasse uma universidade, evidenciando ainda mais sua mediocridade em termos de formação, não só acadêmica como teórica. Se não acreditem, confiram nesse link da Plataforma Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4732898H3

Pois bem, realizar críticas ao modelo educacional brasileiro, é algo extremamente louvável, democrático e bem-vindo, desde que debatidas de forma respeitosa e, assim, estabelecendo parâmetros para melhor qualificar o campo no Brasil. Isso, também, sem desconsiderar as várias realidades existentes pelo país, que influenciam diretamente na forma de se fazer educação em cada espaço, seja por fatores relacionados a desigualdade, exclusão, marginalização, entre outras questões.

Logo, além de ignorar tudo isso, o que o senhor Ítalo fez foi difamar, de forma completamente generalizante, toda uma classe de profissionais que estudam, se preparam e diariamente lutam contras as desigualdades sociais existentes na educação por todo o território brasileiro. São realidades que não ficam amostra nos rankings que o Sr. Ítalo se baseia para afirmar o “quanto o Brasil está atrás na educação mundial”. Rankings esses que desconsideram essas variantes já destacadas na realidade nacional e, também, ignoram os muitos avanços promovidos por muitas de nossas escolas e universidades, que continuam entre as melhores da América Latina em diferentes parâmetros avaliativos. Como possível integrante de uma parte da elite brasileira que ainda é marcada por olhares preconceituosos, racistas, misóginos e escravocratas, o Sr. Ítalo provavelmente opina sobre a educação nacional, sem minimamente conhecer a realidade do campo, já que dificilmente deve ter pisado em unidades escolares da rede pública espalhadas pelo país, sejam em periferias ou no interior. Por isso, direciona sua crítica de forma tão simplista e grosseira ao trabalho dos professores.

Vomitar conhecimentos toscos, de senso comum, preconceituosos, etnocêntricos e que desvalorizam outras classes, trata-se de uma máxima desse governo. E o referido médico, cotado para assumir o Ministério da Saúde, não só referenda esse olhar anticiência, como banca de pseudointelectual pela internet, vendendo cursos com análises filosóficas rasas, desmoralizando o conhecimento científico das universidades e seguindo os passos daquele que o inspirou, Olavo de Carvalho. Como dizia Darcy Ribeiro, a “crise na educação do Brasil, não é uma crise; é um projeto”. E posicionamentos que desmoralizam os guerreiros que diariamente lutam pela educação e o extermínio das desigualdades no país, como os proferidos pelo Sr. Ítalo, só reforçam tal projeto.

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