1ª vacina brasileira pode estar testada até julho

O governo de São Paulo anunciou nesta sexta-feira (26) que o Instituto Butantan pedirá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização para testes clínicos com a nova vacina ButanVac, que pode vir a ser o primeiro imunizante desenvolvido exclusivamente no Brasil contra a Covid-19. A expectativa é a de que os testes sejam finalizados até julho e, depois de aprovada pela Anvisa, a vacina possa ser aplicada na população já no segundo semestre deste ano.
O anúncio da nova vacina foi feito pelo governador de São Paulo, João Doria, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (26).
De acordo o presidente do Butantan, Dimas Covas, os resultados dos testes pré-clínicos feitos em animais se mostraram extremamente promissores, o que permite abrir o processo para que a agência autorize os testes clínicos, possivelmente já a partir de abril. Esse é o primeiro passo para a aprovação da Butanvac.
A ideia, segundo Covas, é disponibilizar 40 milhões de doses do primeiro imunizante genuinamente brasileiro até dezembro de 2021. Covas adiantou que o desenvolvimento da ButanVac não alterará o cronograma da CoronaVac. Atualmente, o Butantan é responsável pela fabricação da vacina desenvolvida pelo laboratório Sinovac, da China.
A iniciativa faz parte de um consórcio internacional em que o Butantan é o principal produtor, com 85% da capacidade total de produção, e tem o compromisso de fornecer a vacina ao Brasil e a países de baixa e média renda.
A vacina será desenvolvida integralmente no Brasil, sem depender de importação. Isso ocorre porque a fábrica de Influenza do Butantan pode produzir o insumo utilizando a tecnologia de vacina inativada com base em ovo. Segundo Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do instituto, a nova vacina terá perfil alto de segurança. “Nós sabemos produzir a ButanVac, temos tecnologia para isso e sabemos que vacinas inativadas são eficazes contra a Covid-19. Poder entregar mais vacinas é o que precisamos em um momento tão crítico”, explica.
A tecnologia da ButanVac utiliza um vetor viral que contém a proteína Spike do coronavírus de forma íntegra. O vírus utilizado como vetor nesta vacina é o da Doença de Newcastle, uma infecção que afeta aves. Por esta razão, o vírus se desenvolve bem em ovos embrionados permitindo eficiência produtiva num processo similar ao utilizado na vacina da gripe. Em contraste com o vírus da influenza, o vírus da doença de Newcastle não causa sintomas em seres humanos, sendo uma alternativa muito segura na produção. Além disso, o vírus é inativado para a formulação, facilitando sua estabilidade e deixando a vacina ainda mais segura.
Caso a Anvisa autorize o prosseguimento dos testes, a ButanVac passará pelas fases um e dois de avaliação, quando são verificadas a segurança e capacidade de resposta imune. Somente na fase três é que são estipulados os níveis de eficácia do imunizante.
Vacina com "apoio federal"
Algumas horas depois da divulgação do governo de São Paulo, o governo federal correu para divulgar também que está apoiando uma outra vacina. O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, foi escalado para fazer o anúncio. Ele disse que há uma candidata a vacina contra a Covid-19 apoiada pelo governo federal e que o pedido de autorização foi feito à Anvisa na quinta-feira (25). O nome do imunizante é Versamune®️-CoV-2FC, e, segundo o governo, a pesquisa é desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), em parceria com a empresa brasileira Farmacore Biotecnologia e a PDS Biotechnology Corporation (dos Estados Unidos).
"No meu ponto de vista, não tem nada a ver um ponto com o outro", disse o ministro, sem citar o nome do Butantan ou o da também candidata ButanVac. Vale lembrar que o presidente Jair Bolsonaro jamais apoiou a parceria do Butantan com o laboratório chinês Sinovac e chegou mesmo a dizer que jamais compraria ou tomaria a vacina CoronaVac, produzida em São Paulo em parceria sino-brasileira.