Dilma, Cunha e a Globo
O arrependimento tardio da ex-presidente Dilma, que numa entrevista em Genebra, na Suíça, admitiu que cometeu um “grande erro” ao promover a desoneração fiscal, deveria ser assunto para várias pautas na imprensa brasileira. Dilma disse que acreditava que, se diminuísse impostos, os empresários aumentariam os investimentos. “Eu diminuí e me arrependo disso. No lugar de investir, eles aumentaram a margem de lucro”, afirmou.
O único fato novo é ela dizer-se arrependida. Porque, na prática, o “arrependimento” já havia sido demonstrado quando ela enviou ao Congresso a Medida Provisória, que passaria a vigorar em junho de 2015, propondo o fim de todas as desonerações iniciadas em 2011.
Nas mãos de Eduardo Cunha, eleito presidente da Câmara para fazer a sangria que resultou no golpe contra a presidenta, o projeto que previa o fim das desonerações da folha de pagamento a 56 setores da economia virou bolsa de negócios. Especialmente o setor de comunicação, onde as Organizações Globo desponta como grande beneficiária das desonerações.
Com uma das mãos, em abril de 2015, Cunha entregou medalha do mérito ao empresário João Roberto Marinho pela passagem dos 50 anos do grupo Globo, com direito à proibição de presença de “manifestantes” no plenário. Com a outra, com o seu histórico e usando o rolo compressor que instalou na Câmara, com votos de deputados eleitos, agora se sabe, com dinheiro captado pelo “operador” Cunha no mercado da propinagem, manteve a benesse da renúncia de impostos ao setor de comunicação. E não foi por acaso que o hoje preso Cunha transitou à época com toda a regalia nas mídias da Globo, inclusive para opor-se abertamente ao governo a cujo seu partido integrava.
O jornalista Paulo Henrique Amorim, com sua crítica sempre mordaz, chegou a dizer à época no blog Conversa Afiada que Cunha “foi eleito com e para a Globo”. E a Globo, como se sabe, tem se não a maior uma das maiores folhas de pagamento dentre todas as empresas do Brasil.