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Reparo milionário do mergulhão


Viga fraturada do mergulhão da Marquês de Paraná

Depois de afirmar por vários meses que o mergulhão da rua Marquês de Paraná não oferece riscos à população, apesar das denúncias do Ministério Público Estadual e das marcas visíveis de deterioração da obra, a Prefeitura de Niterói anunciou em seu site que estariam começando ontem mesmo os “serviços de reparo e manutenção” da estrutura, com interdições da via das 23h às 5h durante os próximos três meses. Curiosamente o release não informava o valor da obra, que, no entanto, pode ser lido em letras miúdas no Diário Oficial de ontem: quase um milhão e meio de reais.

A publicação oficial informa que a Construtora Joama Ltda saiu vencedora do pregão presencial nº. 003/2017, realizado em 18 de abril para “contratação de empresa especializada para tratamento, pintura e recuperação do mergulhão com fornecimento de material”. O valor exato da obra, de R$ 1,495 milhões, assim como o prazo de realização de 90 dias, em nada condizem com a ideia de um reparo trivial de uma estrutura absolutamente segura, conforme se esforçam em transmitir o prefeito Rodrigo Neves e sua assessoria.

Embora estejam omitidos dos comunicados oficiais os detalhes dos procedimentos que começaram a ser realizados ontem mesmo, com a primeira interdição do túnel a partir das 23h, o valor milionário da obra, assim com o seu dilatado prazo de realização (pelo menos 540 horas de trabalho), indicam ações complexas e de grande porte. Algo muito além do que pequenos reparos e algumas demãos de tinta.

A prefeitura não acatou até o momento a diretriz do Ministério Público Estadual para que seja interditado o tráfego de ônibus e caminhões sobre a laje do mergulhão. No entanto, a celeridade com que foi realizada a licitação – cuja homologação também foi publicada no Diário Oficial ontem, logo abaixo do resultado do pregão – e o início abrupto da obra, sem qualquer prévio aviso, denotam a urgência – não admitida explicitamente – atribuída pela própria prefeitura à obra de reparação.

Enredo ridículo

Beira as raias do ridículo, porém, o enredo imaginado anteontem e aprimorado ontem pela assessoria de imprensa da prefeitura. Na ânsia de minimizar a importância das imagens de uma viga totalmente fraturada que circulam nas redes sociais e publicadas por alguns veículos, a prefeitura divulgou a versão de que a rachadura teria sido causada pelo choque de um caminhão-baú, cuja altura estaria acima da permitida para transitar no mergulhão.

Em sua edição digital de ontem o jornal TODA PALAVRA levantou as incoerências dessa “teoria”: 1) a altura operacional do mergulhão é de 4,5 metros, enquanto a altura máxima dos caminhões fabricados no Brasil, por determinação do DNIT, é de 4,4 metros, ou seja, dez centímetros a menos; 2) mesmo considerando que exista um veículo mais alto do que a passagem subterrânea da Av. Marquês do Paraná, ao colidir com a estrutura ele ficaria entalado ou teria que recuar de marcha-ré, numa manobra que dificilmente passaria despercebida na principal artéria da cidade; 3) embora fraturada, a viga não apresenta sinais de um choque frontal violento, indicando que a pressão estrutural – e não uma força externa – teria sido a razão da fadiga da peça.

Mas o release de ontem da assessoria do prefeito não só sustenta como aprimora o enredo, trazendo, talvez à giza de uma tentativa bisonha de explicação, uma informação adicional – a de que o acidente teria acontecido em 2014. Ou seja, a viga estaria avariada há três anos e só agora alguém teria percebido. Enfim, por mais ridícula que seja, essa “informação” segue a lógica da ópera bufa representada desde as primeiras denúncias de falhas estruturais no mergulhão até o reconhecimento, agora, da necessidade de intervenções urgentes.

Leia mais

Há cinco meses o jornal TODA PALAVRA tem publicado, em suas edições mensais impressas, denúncias de problemas graves apresentados pelo túnel subterrâneo da Av. Marquês de Paraná. Conheça detalhes impressionantes das investigações do Ministério Público e das persistentes contradições da prefeitura em algumas das matérias republicadas agora pela edição digital do TP:

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