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O golpe desmorona


Um ano depois de chegar ao poder pelo golpe que depôs a presidente constitucional, Dilma Rousseff, Michel Temer é colhido pela delação devastadora dos irmãos Joesley e Wesley Batista, maiores produtores de proteína animal do mundo. Junto com ele, Aécio Neves, senador e presidente do PSDB, e Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados e deputado cassado e atualmente preso em Curitiba pela Lava Jato - a tríade que encabeçou o movimento golpista de 2016.

Gravações e monitoramento eletrônico de malas de dinheiro dadas em propina sustentam comprovadamente as delações e as tornam extremamente mais graves e verossímeis do que todas as denúncias protocoladas até agora pela Lava Jato. Ameaçados de morte, os donos da JBS deixaram o país com autorização da Polícia Federal e se encontram agora nos Estados Unidos. Logo após as revelações feitas pelo colunista de O Globo, Lauro Jardim, o povo tomou as ruas de Brasília e São Paulo na noite de ontem, 17/05, exigindo a renúncia de Temer. Dois pedidos de impreachment contra o presidente golpista já foram protocolados na Câmara dos Deputados.

Há uma unanimidade entre os analistas políticos de que os fatos emergidos ontem levam o atual governo ao colapso total, restando a dúvida sobre como será o desfecho, se com a renúncia ou a deposição de Temer. O golpe desmorona e, com ele, toda a plataforma golpista de retrocesso das conquistas trabalhistas do povo brasileiro e o desmonte da Petrobras, que começou a ser posta em marcha nos últimos meses. A tissuname política tem o poder de reverter todos os projetos reformistas que estava sendo impostos ao preço da compra despudorada de deputados e senadores, como as reformas trabalhista e da Previdência.

Cogita-se a possibilidade de prisão, nas próximas horas, de Aécio Neves. O próprio Temer poderia também correr esse risco, sendo que qualquer ação contra eles dependerá de autorização do Supremo Tribunal Federal.

As revelações

Os donos da JBS, Joesley Batista e o seu irmão Wesley, realizaram, na quarta-feira da semana passada, uma delação premiada no âmbito da Operação Greenfield. Nela, eles teriam contado que gravaram uma conversa telefônica na qual o presidente golpista Michel Temer teria indicado o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para "resolver um problema da J&F" (holding que controla a JBS).

Momentos depois, o mesmo deputado foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. Temer também ouviu do empresário que estava dando a Eduardo Cunha e ao operador Lúcio Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer incentivou: "Tem que manter isso, viu?".

Aécio

O senador Aécio Neves também foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O dinheiro teria sido entregue a um primo do presidente do PSDB, numa cena devidamente filmada pela Polícia Federal.

A PF rastreou o caminho dos reais. Descobriu que eles foram depositados numa empresa do senador Zeze Perrella (PSDB-MG).

Repercussões

Para o deputado Zé Carlos (PT-MA), este é um fato sem precedentes na história da política brasileira. “Nunca antes aconteceu um fato tão grave envolvendo um presidente. Se ele [Temer] tiver um mínimo de honra, um mínimo de escrúpulo ou consciência, no máximo amanhã de manhã, ele tem que dizer ao povo brasileiro que lamenta o que fez e entregar a presidência para eleições diretas”, disse o parlamentar.

O deputado federal (PSOL) Jean Willys fez um vídeo ao vivo da Câmara afirmando que “o presidente da Câmara Rodrigo Maia teve que encerrar a sessão, e a base do governo saiu correndo desesperada. Ou seja, tudo aquilo que nós diziamos está acontecendo. Dilma não foi deposta pra combater a corrupção, Dilma foi deposta para que esta camarilha de corruptos poupasse seu pescoço, para que essa camarilha de corruptos não fosse condenada"

Para Willys, "a tentativa de criminalizar a esquerda não deu certo, e agora a base do governo está sendo exposta nos seus desvios éticos e morais".

Em vídeo publicado em sua página do Facebook, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), se pronunciou também sobre o escândalo: "Nós temos que parar de votar matérias no Congresso nacional, temos que parar a agenda absurda deste governo, e o país tem que fazer eleições diretas imediatamente. É muito grave o que ocorreu, o nível de crise vai se aprofundar muito, não se pode votar mais nada no Congresso Nacional. Tudo agora está sob suspeição"

“Este governo está envolvido de lama até o pescoço, e não por uma ilação, é prova, foi gravado!”, concluiu Feghali.

Planalto nega denúncias

Em nota, o Palácio do Planalto negou a denúncia: “O presidente jamais solicitou pagamento pelo silêncio [de Cunha] e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar a delação do parlamentar (…) O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa."

Leia a nota na íntegra: "O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar.

O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República.

O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados."

Foto: manifestante pede a saída de Temer em manifestação na Avenida Paulista

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