Mergulhão faz água e inunda
O mergulhão da Rua Marquês de Paraná fez água e amanheceu inundado ontem (22), chegando a ter uma de sua pistas interditada ao tráfego, causando transtornos ao trânsito no Centro da cidade. A prefeitura de Niterói disse que a causa do alagamento foi a falha no sistema de bombeamento e atribuiu a invasão da água à chuva, mas a verdade é que a infiltração ocorreu em razão do processo de corrosão e das frechas apresentadas pelas estacas-prancha que formam as paredes laterais da via, por onde a água penetrou.
A constatação foi feita no final da noite de ontem pelo engenheiro Vitor Hugo da Rosa Amaral, um dos sócios da construtora Joama, contratada pela prefeitura de Niterói para a realização de obras de manutenção para eliminar justamente os pontos de ferrugem e fazer a vedação dessa estrutura metálica. O empreiteiro chegou ao mergulhão por volta das 23 horas, quando começa a interdição para a realização dos trabalhos, e comprovou a ocorrência da infiltração, enquanto homens da prefeitura e da companhia Águas de Niterói trabalhavam na recuperação da bomba danificada e na drenagem da água.
- O mergulhão está abaixo do nível do lençol freático, que tem a tendência de subir com a chuva, penetrando pelas juntas do mergulhão - explicou o engenheiro.
Segundo ele, a expectativa é de que a obra em curso elimine as infiltrações, mas a solução não será definitiva, já que o tratamento anti-corrosão feito internamente não poderá ser executado do lado externo das estacas metálicas, justamente o que fica em contato com o lençol freático e a umidade. O prazo de durabilidade da obra é de cerca de três anos. Quanto à parte estrutural do mergulhão, Vitor Hugo disse que não pode garantir "nada", conforme matéria publicada pela edição impressa do TODA PALAVRA, reproduzida a seguir:
UMA MAQUIAGEM DE R$ 1,5 MILHÃO
- Eu garanto o meu trabalho, mas não garanto nada da parte estrutural.
A afirmação foi feita pelo engenheiro Vitor Hugo da Rosa Amaral, um dos sócios da construtora Joama, contratada pela prefeitura de Niterói por quase R$ 1,5 milhão para a realização de obras de manutenção no mergulhão da Rua Marques de Paraná. Os trabalhos, feitos de madrugada – o túnel está sendo interditado diariamente das 23h às 5h –, têm por objetivo maquiar apenas o aspecto negativo causado pelas infiltrações das laterais da via, sem a pretensão de investigar a fundo as denúncias de problemas estruturais na obra que se repetem desde o ano passado.
A empresa também é responsável pela construção da garagem subterrânea de Charitas, que se encontra em fase de conclusão e onde também foram utilizadas estacas-pracha semelhantes às que formam as paredes do mergulhão. Segundo Vitor Hugo, porém, na obra de Charitas as fichas das estacas (a parte das peças que fica cravada no subssolo) foram enterradas a uma profundidade de até nove metros, enquanto as estacas do mergulhão possuem cerca de dois metros de profundidade apenas, segundo informações da própria empresa que fez as cravações, a Escopo Engenharia.
Essa seria uma das principais ameaças estruturais da obra da Rua Marques de Paraná, conforme denúncia da Escopo feita ao Ministério Público Estadual. Segundo a empresa, as estacas do mergulhão, que deveriam permanecer apenas provisoriamente para sustentar a estrutura, foram tornadas definitivas ao longo do processo de conclusão da obra levado a cabo pela prefeitura no início da primeira administração do prefeito Rodrigo Neves, que prometera durante a campanha eleitoral terminar a obra logo em seu primeiro ano de mandato.
As denúncias levaram o promotor Fabrício Rocha Bastos a solicitar um laudo do Grupo Técnico de Apoio (GATE) do Ministério Público, cuja conclusão recomendava a interdição do tráfego de ônibus e caminhões sobre a laje do mergulhão até que fossem adotadas várias ações preventivas por parte da prefeitura. O histórico da construção e os reais perigos ao público, apesar das seguidas negativas do município, permanecem em mistério, mesmo porque a prefeitura vem se negando sistematicamente, desde o ano passado, a fornecer ao MP informações sobre as sondagens prévias da obra e os projetos construtivos.
Engenheiro desmente prefeitura
Na madrugada do dia 17 de maio, o vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL), que participara na véspera de uma reunião na Câmara de Vereadores com o secretário municipal de Governo, Vitor Junior, e Lincoln Silveira, diretor de Obras Especiais, entre outros diretores da Emusa (Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento), foi ao mergulhão para fazer uma vistoria parlamentar dos trabalhos que em execução.
O vereador, acompanhado da reportagem do TODA PALAVRA, foi recebido pelo engenheiro Vitor Hugo, que desmentiu a informação da prefeitura de que a viga fraturada da entrada do mergulhão – segundo a versão oficial ela foi atingida por um caminhão em 2014 – teria apenas como função a delimitação de altura dos veículos. Ele afirma, porém, que ela é, na verdade, uma viga estronca, responsável por escorar lateralmente as estruturas de concreto nas duas bocas do túnel.
Essa viga se encontra escorada por um aparelho metálico e, segundo o empreiteiro, deverá ser substituída. No entanto, a peça danificada apresenta, além da rachadura, uma deformação em forma de curvatura – leve, mas nítida, conforme se pode ver em uma das fotos desta matéria – que poderia também significar uma possível fadiga do concreto.
Além dos vazamentos através das juntas das estacas-prancha, o mergulhão apresenta também infiltrações em alguns pontos de sua base de concreto lateral cuja reparação não consta do contrato de manutenção atual. Segundo Vitor Hugo, o trabalho principal em curso consta da soldagem de 1.080 metros lineares de juntas metálicas, jateamento e pintura especial – como a de cascos de navio – das estacas.
O vereador Paulo Eduardo, contudo, acha que isso não será suficiente para deter o adiantado processo de corrosão das estacas-prancha, que possuem oito milímetros de espessura, pois apenas o lado interno da estrutura será recuperado.
- O governo não deveria continuar a obra sem uma vistoria técnica. Essas estacas continuarão sendo corroídas externamente, onde permanecem em contato direto com toda umidade do lençol freático sem qualquer proteção contra corrosão – disse o vereador.