GM teria sequestrado ativistas
A imagem, retirada de vídeo gravado por ambulantes, mostra o momento em que o coronel Gílson Chagas (de colete amarelo) investe pessoalmente para colher o líder dos camelôs, Fábio Luiz, e levá-lo para a viatura
A repressão à manifestação dos camelôs em frente às barcas, comandada pessoalmente pelo secretário de Ordem Pública de Niterói, coronel PM Gílson Chagas, na última quarta-feira, pode ter envolvido, além das agressões registradas em vários vídeos gravados pelos ambulantes, o sequestro do presidente da ACANIT – organização que defende os camelôs –, Fábio Luiz, e do chefe de gabinete do vereador Leonardo Giordano (PC do B), Marcos Rodrigo, promovido por agentes públicos municipais.
Depois de lançados dentro de uma picape cabine dupla da Guarda Municipal, os ativistas, que participavam do protesto dos ambulantes naquela tarde, não foram diretamente conduzidos a uma delegacia de polícia, como seria natural no caso de uma prisão. A viatura da GM, segundo eles, seguiu para Icaraí, dando a entender que tomaria o caminho da Região Oceânica, quando Marcos Ribeiro se identificou como chefe de gabinete do vereador, o que, segundo ele, teria determinado uma mudança nos planos dos guardas que os conduziam.
- Pode-se dizer que fomos vítimas de um sequestro-relâmpago – definiu Marcos Rodrigues. – Quando já estávamos em Icaraí, perguntei para onde estavam nos levando e responderam que iríamos “dar um passeio”. Protestei e pedi para parar o carro que iríamos descer. Quiseram nos algemar. Foi quando me identifiquei e disse para eles que, mesmo sabendo que estavam cumprindo ordens, aquilo não iria acabar bem. Aí percebi que eles ficaram preocupados. Disse que gostaria de descer para ir a uma delegacia e nos deixaram próximos à 79ª DP.
Marcos Rodrigo acabou sendo lançado dentro da viatura, ainda na manifestação, porque foi em socorro de Fábio Luiz, que havia sido colhido de dentro do protesto pelo próprio secretário Gílson Chagas e levado para a picape (veja o vídeo abaixo, onde o coronel está com colete amarelo sobre camisa social listrada de vermelho e preto). Ao tentar defender o líder dos camelôs, ele também acabou sendo levado pelos guardas municipais, a mando do coronel Chagas.
Depois do “passeio” e após serem deixado na Avenida Amaral Peixoto, Marcos e Fábio seguiram a pé espontaneamente até a 76ª DP com o objetivo de prestar queixa voluntariamente contra os agentes da prefeitura. Eles já estavam na delegacia quando, dez minutos depois, segundo Marcos, chegou o secretário Gílson Chagas, exigindo que lhe entregassem suas identidades.
- O Fábio se recusou a entregar a identidade porque éramos nós quem iríamos registrar a ocorrência. Um inspetor de polícia disse que deveríamos entregar as identidades porque estávamos sendo conduzidos pela autoridade policial. Protestamos e dissemos que entramos lá por livre e espontânea vontade. Foi aí que tentamos sair da delegacia e começou a confusão. O secretário agarrou o Fábio, dando-lhe uma “gravata”, e gritou para que os policiais fechassem a porta – narrou Marcos Rodrigo.
Àquela altura, advogados e parlamentares, como os vereadores Leonardo Giordano e Talíria Petrone (PSOL), já haviam se dirigido à delegacia, mas, com as portas fechadas, não puderam entrar.
- Foram dez minutos de agressões – disse o chefe de gabinete.
Com a intervenção dos parlamentares e advogados, acalmados os ânimos, Marcos e Fábio prestaram depoimento, denunciando terem sido vítimas de agressões. Também foram à delegacia os vereadores Paulo Eduardo (PSOL) e Pipico (PT). Os depoimentos duraram até o final da noite de ontem e, já de madrugada, eles foram submetidos a exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal.
Veja os vídeos:
Momento em que os ativistas são colhidos e levados para a viatura, que arranca em velocidade:
As agressões dentro da 76ª DP:
Fábio Luiz é agarrado pelo secretário Gílson Chagas com uma "gravata" (imagem retirada de vídeo de celular):