Presidente da Cedae ignorou protocolo e ordenou a captação de água com algas
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Presidente da Cedae ignorou protocolo e ordenou a captação de água com algas


Estação de tratamento do Guandu

A contaminação pela geosmina, que alterou o gosto e o odor da água fornecida para boa parte dos moradores do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense nas últimas semanas, foi decorrente de uma decisão do presidente da Cedae, Hélio Cabral, no início do ano, ignorando um protocolo usado há 30 anos na estação de tratamento do Guandu. Segundo revelou uma fonte da companhia ao TODA PALAVRA, diante de uma excessiva concentração de algas nos mananciais, o dirigente deu uma ordem direta para que a captação de água não fosse interrompida, como normalmente ocorre nessas situações.

“Sempre que o sistema detecta uma carga muito grande de algas, a captação é paralisada e se espera que a qualidade da água volte a níveis mais aceitáveis para reiniciar o tratamento do produto que será fornecido à população. Mas, desta vez, a direção da Cedae não permitiu que se parasse o Guandu”, afirmou um funcionário graduado, com muitos anos na empresa. O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro move uma ação na Justiça, pedindo o afastamento de Hélio Cabral por “incúria” para exercer o cargo.

Segundo a fonte, o procedimento de suspender a captação é padrão e não depende de ordem superior para ser implementado. No entanto, a gerência da estação de tratamento solicitou, desta vez, ao presidente da Cedae que determinasse pessoalmente a suspensão da coleta da água do Guandu, em razão da presença da grande quantidade de algas. De acordo com o Sindicato dos Engenheiros, a precaução dos técnicos foi fruto do clima de insegurança que tomou conta da companhia depois da demissão, em meados do ano passado, de 54 funcionários - entre os quais, 30 engenheiros e quatro analistas de qualidade de água do Guandu. Todos funcionários de carreira, com muitos anos de serviços prestados à Cedae, os demitidos integravam, segundo especialistas, o quadro técnico de maior conhecimento e experiência sobre o sistema Guandu.

“Foi uma espécie de delegação para cima. Os funcionários ficaram muito inseguros por causa das demissões e resolveram, com isso, colocar a responsabilidade da decisão nas mãos do presidente. Temendo que a paralisação do Guandu pudesse provocar falta d’água em alguns pontos de abastecimento, o que também é comum nesses casos, ele deu ordem para não interromper a captação da água”, afirmou o presidente do Sengerj, Olímpio Alves dos Santos, confirmando as informações dadas pela fonte da Cedae ao TODA PALAVRA.

O tratamento químico da água poluída com algas produz a geosmina, um composto orgânico conhecido pelo cheiro de terra molhada. Essa molécula pode ser sintetizada por alguns microrganismos, tais como as bactérias Streptomyces, Cianobactérias (algas azuis) e os fungos Actinomicetos. Era de se esperar, dentro da companhia, que o resultado da ordem de Hélio Cabral, determinando que se mantivesse a captação da água contaminada por algas, produzisse um produto de qualidade inferior - embora potável, garantem os técnicos - que seria distribuído à população.

O chefe da Estação de Tratamento de Água do Guandu, Júlio César Antunes, foi exonerado do cargo no dia 14 de janeiro, no décimo-segundo dia da crise do abastecimento de água do Rio de Janeiro. A direção da companhia não deu maiores explicações sobre o afastamento do funcionário, que aconteceu ao final do dia em que o governador Wilson Witzel, após duas semanas de silêncio (estava de férias na Disneylândia, nos Estados Unidos), veio a público definir como “inadmissíveis” os transtornos gerados à população, exigindo apuração rigorosa dos fatos.

A Polícia Civil chegou a enviar agentes à estação de tratamento para investigar o caso, enquanto o governador, sem apresentar qualquer prova ou indício, levantava suspeitas de sabotagem no Guandu, que até agora não foram confirmadas pelos investigadores.

Afastamento de Hélio Cabral

Hélio Cabral

Pela segunda vez o Sindicato dos Engenheiros tenta afastar Hélio Cabral da presidência da Cedae, cargo para o qual foi indicado pelo presidente nacional do PSC - mesmo partido do governador -, Pastor Everaldo. Logo após a nomeação de Hélio Cabral, o Sengerj ingressou com um pedido de liminar, que não foi aceito pela Justiça, alegando a falta da necessária “reputação ilibada” para o exercício do cargo. Agora, os sindicalistas tentam novamente tirá-lo da presidência, pedindo ao juizado uma reapreciação do pedido inicial, agravado, depois dos fatos ocorridos no Guandu, por uma provável “incúria” do gestor.

Hélio Cabral é um dos 21 denunciados em ação judicial que investiga o crime ambiental e o homicídio de 19 pessoas decorrentes do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. Ele era um dos conselheiros administrativos da Samarco, empresa responsável pela barragem, entre 2013 e 2014. Cabral também trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre os anos de 1975 e 2003. A incompetência dele para exercer o cargo de presidente da Cedae também é levantada pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos de Niterói, Ary Girota:

“Ele tem envolvimento com o crime de Mariana. Também é um empresário do mercado financeiro, não tem conhecimentos técnicos sobre funcionamento de uma empresa de água. A sua indicação foi política.”

 

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