A desordem do futebol em meio ao caos da pandemia
Sábado (20) fica marcado por confusões e incoerências acerca da continuidade do Campeonato Carioca nos próximos dias. Enquanto isso, Rio de Janeiro aumenta seu número negativo em relação à Covid-19
Por Eduardo Gomes
![](https://static.wixstatic.com/media/1e81ca_c54322e0fbf647daaa822c8102a7996f~mv2.jpg/v1/fill/w_147,h_98,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/1e81ca_c54322e0fbf647daaa822c8102a7996f~mv2.jpg)
Ontem (20), escrevi no portal do Jornal Toda Palavra que os jogos que ocorreriam hoje (21) e amanhã (22) pela 4ª rodada da Taça Rio, segundo turno do Campeonato Carioca, estariam suspensos por uma determinação da Prefeitura do Rio de Janeiro, publicada em Diário Oficial.
A priori, esse era o cenário: até a próxima quinta-feira (25), não ocorreriam mais jogos da competição, assim como de qualquer outro campeonato esportivo em local fechado no Rio de Janeiro. Até que, no início da noite de sábado, o prefeito da cidade, Marcelo Crivella, se posicionou contestando o próprio decreto, afirmando que o mesmo passaria a valer só a partir de amanhã, segunda-feira (22). Ou seja, os jogos de Fluminense (que enfrentaria o Volta Redonda) e do Botafogo (contra a Cabofriense), estariam adiados. Entretanto, Vasco x Macaé e Madureira x Resende, agendados primeiramente para esse domingo, poderiam ocorrer normalmente.
Tal medida claramente foi uma tentativa de fazer com que Botafogo e Fluminense, que entraram na justiça buscando o direito de retornar aos jogos apenas em julho devido à pandemia, "ganhassem" um período maior para essa reorganização, já que não teriam tido o tempo hábil para se prepararem desde que voltaram aos treinos (por opção dos próprios clubes, que estão defendendo o retorno apenas no próximo mês, Fluminense e Botafogo voltaram a treinar apenas, respectivamente, nos últimos dias 19 e 20 de junho). Crivella justificou, entretanto, que os motivos se relacionaram aos novos protocolos da vigilância sanitária na cidade:
A questão do futebol é a seguinte: houve um novo protocolo da vigilância sanitária apresentado pela Federação. Então, a vigilância sanitária do Rio de Janeiro pediu para fazer uma reunião com eles e estabelecer, compatibilizar o que eles colocam no protocolo dele com o nosso. Isso que vamos fazer segunda, terça e quarta. Então, nesses dias, não vamos ter futebol.
Entretanto, o problema persistiu na noite de sábado pois, se a priori os jogos estavam cancelados, como agora se reorganizar para as partidas que ocorreriam nesse domingo? As delegações de Vasco, Macaé, Madureira e Resende, passaram a trabalhar com a hipótese de que as partidas ocorreriam. Todavia, a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão da competição, afirmou que não transmitiria as partidas, pois nesse caminho de "adia, volta, adia, volta", já tinha organizado sua equipe para a hipótese de não ocorrerem confrontos na data de hoje.
Com isso, na noite de ontem e considerando que o decreto proibia apenas os jogos da segunda-feira, segundo Crivella, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) reagendou as partidas desse domingo e organizou o novo calendário da seguinte maneira:
. As partidas que ocorreriam hoje, Vasco x Macaé e Madureira x Resende, foram reagendadas, respectivamente, para os próximos dias 24 e 25/06;
. Os jogos de Botafogo e Fluminense, que ocorreriam amanhã (21), estão adiados sem previsão de novas datas, podendo existir novos posicionamentos durante a semana a partir das decisões do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), acerca da alegação dos clubes de que deveriam jogar apenas em julho devido à pandemia e por terem tido menos tempo de preparação em relação a outras agremiações.
Com esse novo calendário, marcado por confusões e indecisões, a 4ª rodada da Taça Rio, ao que parece, terá sua continuidade. Mas é válido destacar que tudo ainda pode se modificar. Crivella afirmou que o decreto seria republicado no Diário Oficial de hoje com esses novos posicionamentos (algo que ainda não ocorreu até o momento em que essa matéria está sendo publicada). E ainda confirmou que irá conversar com os dirigentes dos clubes para que não haja nenhuma partida agendada até a próxima quarta-feira (24) na cidade (além do jogo pela 4ª rodada entre Vasco x Macaé, nesse dia já está também agendada a partida entre Flamengo x Boavista, que irá abrir a 5ª rodada da Taça Rio).
É válido destacar que, além do amadorismo explicitado na tomada de decisões, tanto pelo poder executivo da capital estadual, quanto pela federação e demais clubes, tal situação só está ocorrendo no Rio de Janeiro devido o impasse promovido por alguns clubes e dirigentes (notadamente os presidentes de Flamengo e Vasco) onde, apoiando-se nos discursos contrários à paralisação postergada da competição (narrativa que teve apoio do presidente Jair Bolsonaro), ignoraram o cenário ainda crítico da pandemia na cidade e no estado do Rio de Janeiro, colocando os interesses econômicos referentes ao retorno da competição em primeiro lugar.
Enquanto toda essa confusão ocorria ontem, o Brasil alcançou a marca negativa de mais de 50 mil óbitos devido a pandemia. No estado do Rio de Janeiro, o sábado ficou marcado por computar mais 2.159 novos casos e 229 óbitos pela Covid-19, fazendo com que chegue a um total oficial de 95.537 infectados e 8.824 mortes desde março (dados do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde). O estado continua, também, tendo a mais negativa taxa de letalidade em todo o país, 9,2%, o que por si só já seria um motivo plausível para não ser o primeiro local a retornar com o futebol em terras brasileiras.