Acusado de matar Marielle diz que Bolsonaro o ajudou em 2009

A pergunta "quem mandou matar Marielle Franco?" voltou a ser entoada nas redes sociais nesta sexta-feira (4). Em entrevista autorizada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, à revista Veja, Ronnie Lessa, preso por ter efetuado os disparos que assassinaram Marielle Franco e Anderson Gomes em 2018, confirmou que foi ajudado por Jair Bolsonaro (PL) em 2009, quando perdeu parte da perna na explosão de uma bomba em seu carro.
Na entrevista, Lessa diz que Bolsonaro intercedeu a seu favor para que fosse atendido na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), no Rio de Janeiro.
“Bolsonaro era patrono da ABBR. Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polícia porque é quem o botou no poder", disse, emendando ainda: "no final dessa história eu saio como mal-agradecido. Nunca fui apertar a mão dele".
Apesar disso, o policial militar reformado, que era vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio, nega ser próximo do presidente - o filho mais novo de Bolsonaro, Jair Renan, no entanto, diz ter namorado a filha de Lessa.
“É um cara esquisito. Se vi cinco vezes na vida, foi muito. Um dia cumprimenta, outro não, e mesmo assim só com a mãozinha. E nunca vi os filhos dele”, disse.
Na entrevista, Lessa, que está preso desde março de 2019 na penitenciária federal de Campo Grande (MS), também negou que tenha assassinado a vereadora carioca, que tinha planos para concorrer ao Senado Federal: “Eu não matei aquela menina. Hoje consigo enxergar que existia plano A, B e até um C”, disse, atribuindo a intermediação do crime ao ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, que era próximo ao clã Bolsonaro e foi morto em ação da PM da Bahia, em fevereiro de 2020.
“Ele estava num patamar em que não entrava mais num carro para dar tiro em ninguém, mas tenho quase certeza de que o grupo dele fez”, diz Lessa em relação ao Escritório do Crime, braço armado da milícia na Zona Oeste da cidade que era comandado por Adriano da Nóbrega.
Depósito de R$ 100 mil após o crime
Segundo investigações da Polícia Civil do Rio e do Ministério Público estadual (MP-RJ), de 2014 a 2019, Lessa movimentou mais de R$ 5,7 milhões em contas bancárias suas e de "laranjas". Somente em dinheiro vivo, passou algo em torno de R$ 1,6 milhão pela conta de Lessa no período investigado.Além disso, os investigadores descobriram que ele recebeu, quase sete meses após o crime, um depósito de R$ 100 mil em dinheiro em sua conta bancária.
De acordo com o Ministério Público, dezenas de bens incompatíveis com a renda de Lessa foram adquiridos à época, incluindo imóvel de luxo na Barra da Tijuca, imóvel em Angra dos Reis, imóvel em Mangaratiba, uma lancha de 33 pés e veículos de luxo, sendo que parte destes bens foi ocultada em nome de “laranjas”
Para os investigadores, trata-se de mais uma prova de que a morte da vereadora foi encomendada.