Alerj aprova memória do 'Almirante Negro' nas escolas

Em novembro de 1910, um marinheiro negro liderou um motim contra castigos de chibata impostos por oficiais brancos da Marinha. O movimento ficou conhecido como Revolta da Chibata, mas a Marinha nunca aceitou a derrota histórica. Seu líder, João Cândido Felisberto, mais conhecido como o "Almirante Negro", porém, já foi cantado em verso e em prosa por Aldir Blanc e João Bosco e até passou a integrar o Livro dos Heróis do Rio de Janeiro, por uma lei de 2019. Nesta quarta-feira (2), os deputados aprovaram uma nova lei para perpetuar a memória do "Almirante Negro", agora também nas escolas públicas e privadas do estado.
De autoria dos deputados Waldeck Carneiro e André Ceciliano, ambos do PT, o projeto dispõe sobre a preservação da memória de João Cândido Felisberto em escolas de educação básica do Rio. A medida prevê o desenvolvimento de atividades relacionadas à Revolta da Chibata em parcerias com órgãos públicos e movimentos culturais da sociedade civil. Atividades artístico-culturais, abertas ao público em geral, ocorrerão anualmente, no mês de novembro, no contexto da programação da Consciência Negra. Os recursos serão os do Fundo Estadual da Cultura.
“A trajetória e o legado de João Cândido Felisberto não são suficientemente conhecidos pelas gerações atuais. Sua memória precisa ser preservada como patrimônio inalienável da história do povo brasileiro e, por isso, a contribuição das escolas de educação básica é absolutamente fundamental”, justificaram os autores do projeto, aprovado em discussão única.
Herói nunca reconhecido pela Marinha
Na época, os marinheiros negros eram recém-libertos, sendo submetidos ao trabalho mal remunerado (hoje, análogo ao trabalho escravo) e maus tratos. Castigos físicos ainda eram impingidos com chibata.
A revolta começou depois de um aumento de salário recebido pelos oficiais (brancos) e recrudesceu após o açoite do marujo Marcelino Rodrigues Menezes com 250 chibatadas. Na madrugada do dia 22 de novembro de 1910, ocorreu a rebelião do encouraçado “Minas Gerais”. Nos dias que se seguiram, outras embarcações se juntaram à Revolta da Chibata.
No seu julgamento, João Cândido foi considerado inocente, mas não foi anistiado e não recebeu pensão ou indenização da Marinha. João Cândido morreu pobre e esquecido no Hospital Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro em 1969.
Em 2008, o presidente Lula sancionou uma lei para anistiar João Cândido. A Marinha, no entanto, vetou a sua reincorporação.
A Marinha do Brasil nunca reconheceu seu racismo contra o herói "Almirante Negro".