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Alunos do GayLussac lançam livro sobre 'jeitinho brasileiro'

Pequenas corrupções: o que a escola tem a ver com isso? Essa reflexão foi o ponto de partida para “Dando um jeito no jeitinho”, livro lançado ontem (quarta-feira, 27/4) pelo Instituto GayLussac. A obra é fruto de debates promovidos em sala de aula pela professora Karla Faria e reúne 170 crônicas escritas por alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. O objetivo do projeto é provocar incômodo e reflexão sobre as pequenas atitudes do famoso jeitinho brasileiro:

Os alunos com o antropólogo Roberto DaMatta / Divulgação

“Na etimologia, a palavra corrupção parte da ideia daquilo que se deixou estragar, e é muito interessante ver as reações quando pergunto quais atos de corrupção o aluno e sua família já cometeram. Eles questionam – mas falar que furar fila é corrupção é um modo de banalizar a corrupção, professora! ”, contou Karla.


Segundo a organizadora do livro, é preciso gerar estranhamento sobre algumas ações já banalizadas pela sociedade: “a ideia é justamente pensar que furar a fila da cantina e furar a fila de uma cirurgia do SUS são atos semelhantes. Com consequências diferentes, claro, mas semelhantes”, explicou.


O evento contou com a presença do antropólogo social, doutor e mestre pela Universidade de Harvard, Roberto DaMatta, que foi pioneiro na investigação do Brasil como sociedade e sistema cultural. Em uma aula pública sobre cidadania, DaMatta resgatou o histórico aristocrata do país e esclareceu a relação entre “casa” e rua”, ilustrando diversas corrupções pautadas em privilégios e hierarquias. O antropólogo compartilhou, ainda, suas análises sobre os textos dos alunos e teceu elogios ao projeto e à escola:


“O livro está muito bem elaborado e editado. Eu gostaria de parabenizar a professora e os alunos. A partir de vocês, fiquei pensando no que é dar um jeito. Eu já sabia que essa escola era uma das melhores do Brasil, mas, agora, tenho certeza absoluta, porque não é toda escola que faz os alunos escreverem um livro”, afirmou.


Encerrando a noite, a professora Karla ressaltou a importância do trabalho de DaMatta como referência para a obra: “para nós é uma honra ter a leitura do professor que tanto nos ensinou e continua ensinando sobre o modo de viver socialmente do povo brasileiro”; e agradeceu especialmente aos estudantes escritores que “aceitaram o desafio e transformaram o incomodo em uma reflexão consistente, virando do avesso o jeitinho do que não se deve ser. Dando, portanto, um jeito no jeitinho”.


"Foi uma oportunidade única. Discutir a banalização de pequenas corrupções diárias é muito importante, sobretudo no momento em que escrevemos - um dos mais tensos da pandemia, quando as pessoas marcavam festas clandestinas, por exemplo. Ouvir o Roberto DaMatta e ter uma obra lida por ele foi gratificante, nos fez refletir sobre nossas próprias atitudes", contam as alunas Maria Clara e Giovanna, da 1M2.

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