Antonio Puhl: casos de racismo não deveriam ter saído da escola
Para Antonio Puhl (e), o professor Júnior não deveria ter levado o caso para fora da escola
Os episódios das manifestações de racismo de estudantes de Niterói, que ofenderam pela internet um professor do Colégio La Salle Abel, são atos deploráveis, mas não deveriam ter sido expostos publicamente pelo educador. A opinião vem de um dos mais respeitados consultores pedagógicos, que trabalhou por quase cinco décadas na instituição lassallista, o professor Antonio Puhl.
Ex-irmão lassallista, ele foi vice-diretor do antigo Instituto Abel, trabalhando diretamente com o irmão Amadeu, símbolo da tradicional escola niteroiense. Pelas mãos deles passaram várias gerações de estudantes e, segundo Antonio Puhl - hoje à frente de um escritório de consultoria pedagógica -, em nenhum momento da sua longa trajetória na escola ele teve de enfrentar qualquer problema semelhante ao que surgiu agora - e por duas vezes em menos de um mês - com o professor José Nilton da Silva Júnior, de 39 anos.
A primeira ocorrência, em 18 de junho, se deu durante uma aula virtual. O professor foi insultado por um aluno de 12 anos, do sétimo ano do Ensino Fundamental, que o chamou de "gorila" em um chat. Sem ter visto a ofensa em um primeiro momento, ele foi alertado por outros professores e recebeu o desagravo de muitos dos alunos, que também levaram o caso ao conhecimento da direção da escola.
No entanto, o fato de Júnior ter exposto a ocorrência em suas redes sociais não foi benéfico, no entender de Antonio Puhl. "Esse é um problem educacional e, como tal, deveria ter sido tratado exclusivamente dentro da própria escola", opina o ex-diretor do Abel. Na ocasião, houve uma reunião virtual, pedida pelo professor, com os pais do aluno, que lhe pediram desculpas, mas o assunto se tornou público por ter vazado na internet.
Agora o mesmo professor foi novamente ofendido por dois ex-alunos da instituição, que tiveram aulas com ele até o ano passado, mas não permaneceram matriculados este ano na escola. Desta vez, as ofensas - ainda mais violentas e obscenas - foram gravadas em vídeo e postadas em redes sociais, fazendo referências à manifestação racista do dia 18 de junho, e Júnior decidiu registrar uma queixa por crime por racismo na 77a DP, em Icaraí.
Ao contrário das posições pedagógicas defendidas por Antonio Puhl, o professor ofendido, que depois do primeiro episódio chegou a criar um Comitê de Relações Étnicas-Raciais na escola, considera importante que casos como esses venham a público:
“Eu quero que as pessoas vejam que este tipo de comportamento não está autorizado. Racismo é crime, é ilegal. Eles precisam saber que não estão autorizados a falar o que bem entendem, a gravar vídeos, produzir material ofensivo contra as pessoas”, justificou.