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José Messias Xavier | Apenas mais um domingo em Piratininga

Atualizado: 20 de mai.

Por José Messias Xavier


Era hora do almoço de domingo. Ele saiu seminu na rua. Bradava contra a procissão de uma turba apática. Carros se amontoavam nas calçadas. Pequenas labaredas saltitavam nas esquinas. Céu opala. TUM... TUM... TUM... TUM... TUM. Havia esse som perturbador pontuando a música atordoante, que associou ao cheiro de meias sujas. Não, pior, bosta nova de cachorro. O barulho vinha de um templo dedicado a uma entidade, que desconhecia. Não podia ver, mas tinha a certeza de que uma multidão bramia em êxtase lá dentro. Tentou aumentar a voz, mas ninguém ouviu. Rogou por chuva, mas ninguém ouviu.

Reprodução

Pequenos felinos coloridos até buscaram unir-se à natureza daquele ser que, em princípio, acreditaram poder estar entre eles. No entanto, sua aparência e reações eram estranhas demais para uma criatura que lhes deveria aprazer. Tinha os olhos de serpente, a boca de uma mantícora e se esgueirava como os lobos. Mas zumbia como um besouro... ZUM... ZUM... ZUM. Incompreensível essa espécie, pensaram eles. E riram, mas riram como mariscos em uma cidade submersa. Nesse momento, deixaram de ser felinos.


Ah, a enorme mandíbula do caos, insaciável, infecunda. Sua poeira de sal e