Arroz: estoques baixos para mercado interno elevam preço
Os brasileiros já começam a sentir no bolso e na mesa as consequências da falta de responsabilidade do governo Bolsonaro com o abastecimento interno. Não é só o preço do arroz que assusta o consumidor de classe média e de baixa renda. O feijão, a farinha de trigo, o leite e seus derivados também estão em alta recorde, elevando o valor da cesta básica para além dos R$ 600 de auxílio emergencial.

Nas prateleiras dos mercados, o preço de um pacote de 5 kg do arroz comum tipo agulhinha chegou a mais de R$ 40 em algumas cidades, trazendo de volta o medo do fantasma da inflação galopante que assombrou o país nos anos 1980 e início da década de 1990.
Em março último, um litro de leite longa vida custava em torno de R$ 2,50. Neste mês de setembro, o produto pode ser encontrado nos supermercados por até R$ 6,99, um aumento de mais de 100 por cento em seis meses. O mesmo acontece com o feijão preto, que passou de algo na faixa de R$ 4, antes da pandemia, para cerca de R$ 10 neste mês.
No caso do arroz, não há dados dos produtores sobre o consumo doméstico. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz alega que a maioria dos empresários do setor prefere não divulgar dados sobre vendas e valores.
Na última quarta-feira, depois que Bolsonaro fez um ineficaz apelo aos supermercados para não abusarem dos preços, o governo autorizou a importação de até 400 mil toneladas de arroz com isenção de imposto. Segundo os economistas, a medida poderá ajudar a remediar a situação e provocar uma pequena queda no valor final, mas não no curto prazo.
Em live na manhã desta quinta-feira (10/9), Bolsonaro tentou culpar a pandemia do coronavírus, validando seu discurso a favor do trabalho e contrário ao isolamento social. A um apoiador, ele disse que conversou com supermercadistas e produtores pedindo empenho na redução do preço deste e de outros produtos da cesta básica. Os donos de supermercados, por sua vez, atribuem a alta aos produtores.
Insegurança alimentar
Há vários motivos para que o preço do arroz tenha subido tanto, em tão pouco tempo. Um deles é o custo atraente no mercado internacional, que fez as vendas externas aumentarem, reduzindo os estoques para as vendas internas. Mas outros fatores pesam, como o fato de o país possuir hoje 90% de área plantada massivamente com soja e milho, afetando a produção de outros grãos como arroz e feijão, e impactando duramente a agricultura familiar.
Em entrevista ao Brasil 247, o ex-ministro da educação e economista Aloísio Mercadante afirmou que a "revolta do arroz" está ocorrendo porque governo acabou com os estoques, aumentou as exportações e descumpre a lei regulatória de segurança alimentar para a população.
“O que o governo Bolsonaro está fazendo é um crime. Em 2013, tínhamos 944 toneladas de arroz estocados. Em 2015, mais de 1 milhão de toneladas. Hoje, são apenas 22 toneladas. Não garante uma semana de consumo no país, ou seja, não existe mais estoque”.
Para Mercadante, o governo “jogou nos braços do mercado a regulamentação do preço da cesta básica". A falta desses alimentos, além de elevar os preços no varejo interno, pode obrigar o governo a importar commodities agrícolas, que ironicamente são a principal atividade produtora do país.
MST lidera produção de orgânicos
Enquanto isso, na contramão do governo, agricultores do Movimento Sem Terra (MST) são considerados hoje os maiores produtores de arroz orgânico do país e da América Latina, segundo o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), órgão do governo do estado.

Os trabalhadores do MST do Rio Grande do Sul estimam colher 312 mil sacas de arroz orgânico em 3.215 hectares, da safra 2019/2020. A produção é de 364 famílias, de 14 assentamentos, situadas em 11 municípios gaúchos. O alimento é produzido nas regiões Sul, Centro-Sul, Metropolitana e Fronteira Oeste.
Os Sem Terra se organizam atualmente em oito empresas sociais: Cooperativa de Produção Agropecuária de Charqueadas (Copac); Cooperativa de Produção Agropecuária Sete de Julho (Coopal); Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Coperav); Cooperativa dos Trabalhadores da Reforma Agrária Terra Livre (Terra Livre), Cooperativa Central dos Assentamentos da Reforma Agrária do Rio Grande do Sul (Coceargs), Cootap, Coopat e Coopan.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo federal, não diferencia a produção orgânica da convencional (com agrotóxicos e outros aditivos químicos) na sua estimativa atual de safra.