Autorizado por Bolsonaro, Guedes busca nova CPMF

Eleito com um discurso de que "o Brasil não aguenta mais pagar tantos impostos", o governo Bolsonaro prepara novamente uma ofensiva para emplacar no Congresso a pauta de criação de um novo imposto a ser cobrado sobre as operações de pagamento no país. No discurso autorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chama de criação de "tributos alternativos" - um eufemismo para criação de uma nova CPMF - para garantir a cobertura de desonerações da folha de pagamentos das empresas.
Nesta quarta-feira (23), Guedes deu entrevista para a imprensa - sem responder perguntas - ao lado do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), após reunião com o presidente Jair Bolsonaro para discutir a reforma tributária e um programa de transferência de renda.
Segundo o ministro, diminuir os impostos pagos pelas empresas é importante para ajudar a criar empregos no Brasil. [As desonerações foram uma prática iniciada em 2008 no governo Lula e continuada no governo Dilma, e criticada por muitos que hoje apoiam Bolsonaro. Em 2015, devido à crise fiscal, Dila tentou cortar as desonerações, que somente no seu governo corresponderam a uma renúncia fiscal de R$ 458 bilhões para as empresas, mas sofreu com as pautas-bombas introduzidas pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) - condenado e preso por corrupção em 2017].
Num discurso mais político do que econômico, Guedes se referiu aos brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e desempregados como "invisíveis", para justificar a busca por um novo imposto, boia de salvação do governo ante à crise que já vinha desde muito antes da pandemia.
"Descobrimos 38 milhões de brasileiros, que eram os invisíveis, temos que ajudar essa turma a ser reincorporada no mercado de trabalho, então temos que desonerar a folha, por isso que a gente precisa de tributos alternativos para desonerar a folha e ajudar a criar empregos", disse Guedes, sem lembrar, no entanto, que as desonerações anteriores significaram pouco em termos de criação de novos empregos e muito, em termos de aumento de lucro para empresários.
Além disso, o ministro defendeu a desindexação e a desvinculação do Orçamento, acabando com a regra constitucional que define e garante um piso para investimentos em saúde e educação - ou seja, mais cortes e menos investimentos nas áreas mais sensíveis para a população.
Desemprego aumenta 27,6% em 4 meses
De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (23) pelo IBGE, o desemprego no Brasil subiu 27,6% em apenas quatro meses, atingindo 12,9 milhões de pessoas. A taxa de desocupação em agosto foi de 13,6%.
No ano passado, o governo já defendia a criação de nova CPMF. A discussão sobre o tema, no entanto, não avançou no Congresso.
Auxílio emergencial e eleições
Sobre o auxílio emergencial, Guedes afirmou que é preciso fazer uma "aterrissagem suave" quando o pagamento chegar ao fim, dando a entender que o governo pretende continuar pagando algum tipo de benefício para a camada mais pobre da população.
"Nós vimos a importância do auxílio emergencial, como isso ajudou a manter o Brasil respirando e atravessando essa onda da crise. Então, temos que também fazer uma aterrissagem suave do programa de auxilio emergencial", disse Guedes, referindo-se ao final prolongado do auxílio, possivelmente com duração até 2022, ano de eleições presidenciais.