Benny Briolly: 'o medo existe, mas não vou parar de lutar'
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Benny Briolly: 'o medo existe, mas não vou parar de lutar'

Benny Briolly é uma mulher de coragem. A vereadora do PSOL de Niterói — eleita com 4.367 votos e quinta mais votada na cidade — é alvo sistemático de ataques racistas e transfóbicos de bolsonaristas desde que entrou para a vida política em 2016, como assessora parlamentar de Talíria Petrone (PSOL), hoje deputada federal. Durante a campanha e mesmo depois da posse, continuou a sentir na pele a discriminação e a intolerância. Chorou, teve medo e até mudou de endereço no início do ano para se proteger das ameaças. Mas não abriu mão de permanecer firme na defesa de suas bandeiras sociais.

Foto: Rafael Lopes / Divulgação

Nesta quarta-feira (14/4), Benny obteve uma vitória significativa. A Câmara Municipal de Niterói aprovou o uso do nome social de travestis e transexuais, além do reconhecimento da identidade de gênero na Casa Legislativa. O Projeto de Lei do então vereador Leonardo Giordano (hoje Secretário Municipal das Culturas), em coautoria com a vereadora Walkiria Nictheroy, ambos do PCdoB, foi reapresentado após Benny sofrer agressões verbais do vereador bolsonarista Douglas Gomes (PTC) no plenário, no dia 25 de março.


"Nas últimas eleições tivemos a primeira transexual eleita para o poder legislativo da cidade. Entretanto, o fato que para muitos é uma representação da luta de direitos humanos e civis, para outros é sinônimo de ódio contra as minorias. O PCdoB reconhece e luta pela igualdade de gênero. A lei aprovada irá garantir o direito ao nome social às trabalhadoras e trabalhadores da câmara, com o intuito de coibir a transfobia na casa do povo niteroiense", afirmou Walkiria.


Racismo e transfobia


Na Comissão de Direitos Humanos, da Criança e do Adolescente da Câmara, da qual Benny Briolly é presidente, o vice escolhido pela Mesa Diretora, seguindo o Regimento Interno, foi justamente Douglas Gomes. No dia 25 de março, ela pediu o afastamento do vereador da comissão alegando incompatibilidade. Naquele mesmo dia, a vereadora foi atacada verbalmente pelo bolsonarista em plenária. Benny apresentou queixa contra ele na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), por transfobia e tentativa de homicídio, juntamente com material comprobatório das agressões.


“Ele tem posicionamentos que não conzidem, que são totalmente contrários aos direitos humanos. Racismo e transfobia são crimes. Imunidade parlamentar não é autorização para cometer crimes", defendeu.

Foto: Rafael Lopes / Divulgação

Nas redes sociais, publicou um desabafo:


“Hoje fui agredida com transfobia, racismo e quase fisicamente pelo vereador fascista Douglas Gomes, que foi segurado pelos meus companheiros de bancada para que não me encostasse. Foi horrível e doloroso! Chorei, senti medo, senti a dor de ser mulher negra e trans na política, mas não recuei. Companheiras me ajudem porque eu não posso andar só!”, escreveu.


Douglas Gomes, por sua vez, que tem contra ele três representações no Conselho de Ética da Casa por transgressões às normas internas, foi à 76ª DP (Centro) e registrou ocorrência contra a vereadora por denunciação caluniosa e falsa comunicação de crime.


Não foi a primeira vez que Benny Briolly procurou apoio legal para denunciar ataques de bolsonaristas. Durante a campanha eleitoral, juntamente com Talíria Petrone (PSOL) e Duda Salabert (PDT), vereadora trans mais votada em Belo Horizonte (MG), ela sofreu ofensas, assédio moral e ameaças de morte pela internet. O caso foi registrado como injúria por preconceito e homofobia na Delegacia de Atendimento à Mulher de Niterói, em outubro do ano passado.


"Sou uma mulher trans, negra e oriunda de favela. Represento o que eles mais repudiam. A luta pelos direitos humanos nos expõe e nos coloca em constante risco. Vivemos um momento autoritário e de muito ódio na política. Não vou dizer que não tenho medo. O medo existe, mas não vou parar de lutar", revela..


Sociedade escravocrata, machista e patriarcal


Indagada sobre como avalia essas manifestações de intolerância, ela diz que os ataques são uma resposta do conservadorismo a tudo o que ela defende.

Foto: Rafael Lopes / Divulgação

"Quando Bolsonaro incentiva o ódio, quando diz que o LGBT é abominável, quando ofende as mulheres, quando diz que quilombola é pesado em arrobas, quando desqualifica a imprensa, quando criminaliza as lutas sociais, ele legitima atitudes de criminosos e de políticos que se amparam nessa mentalidade genocida, nessa lógica fascista de estado que quer acabar com os direitos humanos", diz ela, lembrando que o Brasil é o país onde morrem mais mulheres trans no mundo inteiro.


Eleita vereadora aos 29 anos, filha de um porteiro e de uma manicure, Benny nasceu e foi criada em comunidades de baixa renda da Zona Norte de Niterói. Formou-se em moda e em jornalismo, mas antes foi camelô, vendedora de cachorro-quente e de roupa, além de atendente de telemarketing. Começou cedo na militância, ao fundar o coletivo Orgulho e Luta Trans, para criar políticas voltadas para o público LGBTQIA+ e combater a transfobia. Candomblecista e defensora dos traços culturais de sua ancestralidade, também luta contra a intolerância religiosa.


Benny Briolly é uma das três únicas mulheres, todas negras, em uma câmara composta majoritariamente por homens brancos — são 18 ao todo. As outras são Walkiria Nictheroy (PCdoB) e Verônica Lima (PT), vereadoras de partidos que também defendem os princípios democráticos e as pautas sociais.


"O Brasil tem sequelas muito fortes do período da escravidão. Fomos o último país abolir a escravatura e isso ainda está muito vivo no nosso modelo de sociedade escravocrata, machista e patriarcal. Minha avó foi escravizada. Minha mãe estudou só até a terceira série. Há menos de dez anos havia apenas 8% de negros nas universidades. A mulher teve direito a voto há apenas 89 anos. Tudo isso se reflete hoje na sociedade em que vivemos. E na Câmara de Niterói não é diferente", afirma.

Foto: Rafael Lopes / Divulgação

Ativa em seu primeiro mandato, a vereadora já apresentou três projetos de lei. Um deles para a criação de renda básica para a população vulnerável da cidade, até que os beneficiários possam se manter sem o auxílio. O segundo, para dar prioridade na vacinação a trabalhadoras domésticas. E o terceiro, que certamente deverá provocar a reação dos bolsonaristas, prevê a adoção de nome social para crianças e adolescentes trans nos espaços educacionais do município.

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