BN: a ‘República dos Livros’ se consolida como valor da democracia
Atualizado: 21 de jul.
Por Luiz Augusto Erthal
A visita do presidente da Itália à sede da Biblioteca Nacional, nesta quinta-feira (18/07), carrega um simbolismo do tamanho desta instituição, fundada por D. João VI em 1808 e situada pela Unesco entre as dez maiores bibliotecas nacionais do mundo. Sergio Mattarella é o primeiro chefe de estado estrangeiro a visitar, em 40 anos, a BN, cuja riqueza incalculável de seu acervo sobreviveu, milagrosamente, a um longo processo de sucateamento, que teve sua origem ainda nos idos da ditadura militar.
Mattarella conheceu nessa noite algumas das preciosidades guardadas no prédio histórico - que orna, juntamente com o Theatro Municipal e a Câmara de Vereadores, entre outros, o conjunto arquitetônico monumental da Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro -, agora também vitaminado por recursos inéditos da ordem de R$ 59 milhões oriundos do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), da Presidência da República, via PAC, e de emenda parlamentar, por meio do Ministério da Cultura, durante a atual gestão de Marco Lucchesi.
O presidente italiano foi oficialmente inaugurar a exposição “Rio: Nova Roma – Alianças Culturais – 150 anos de imigração italiana”, que marca o sesquicentenário da primeira leva migratória italiana para o Brasil, em 1874. Ele encontrou a Biblioteca Nacional em todo o seu esplendor e viu alguns dos seus tesouros reunidos nesta mostra, como gravuras e desenhos da Escola Italiana de Desenhos, pertencentes à coleção Costa e Silva, que incluem nomes como Annibale Carracci, Guercino, Guido Reni e Vasari, além de incunábulos renascentistas.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, veio de Brasília para ajudar Marco Lucchesi a recepcionar o visitante ilustre, que, segundo o presidente da BN, “estava muito emocionado porque é quase impossível pensar que num país tão jovem como o Brasil se encontrem páginas importantíssimas do Renascimento em originais muito bem conservados”.
Definido por Lucchesi como “uma espécie de depósito democrático da Europa”, o siciliano Mattarella, que se projetou mundialmente pelo combate à máfia, convive hoje com o recrudescimento do fascismo em seu próprio país, assim como em outras regiões da Europa e das Américas, incluindo o Brasil, cujas instituições democráticas enfrentaram recentemente a ameaça de um golpe de estado bolsonarista. Na contramão do obscurantismo, a Biblioteca Nacional guarda entre os seus tesouros, na opinião de Marco Lucchesi, profundas referências democráticas.
“Este é um momento importante para consolidar a Biblioteca Nacional como uma República do Livro, uma verdadeira cidadania democrática. Aqui estão todas as diásporas reunidas, como a diáspora africana, a diáspora européia… E onde elas estão? Estão acolhidas aqui, no nosso país, acolhidas nesta casa. É um momento de celebração, sem dúvida", disse escritor, poeta, ensaísta, tradutor com fluência em mais de 20 idiomas, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, que atualmente preside a BN, após o encontro com Mattarella.
A volta de um chefe de estado estrangeiro à Biblioteca Nacional é uma conquista do prestígio internacional de Marco Lucchesi, cuja possibilidade de ter seu nome indicado ao Prêmio Nobel de Literatura vem ganhando cada dia mais corpo nos meios literários. Mas, para um filho de italianos, que emigraram da pequena cidade de Massarosa - onde os pracinhas brasileiros desembarcaram para combater o nazifascismo na II Guerra Mundial -, na Toscana, para o Brasil, a visita do presidente da Itália é ainda mais especial.
“Podem imaginar como o meu coração está batendo forte”, confessou Lucchesi.
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