Bolsonaro depõe sobre interferência na PF e acusa Moro
Na noite de terça-feira (3), a quatro dias do fim do prazo judicial, a Polícia Federal tomou depoimento do presidente, Jair Bolsonaro, no âmbito das investigações que apuram sua suposta interferência política na corporação para proteger familiares e aliados. Segundo o depoimento, Bolsonaro alegou que o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, teria condicionado aceitar Alexandre Ramagem como diretor-geral da PF caso fosse indicado para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Ao indicar o DPF [delegado da Polícia Federal] Ramagem ao ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com o presidente desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal”, diz parte do depoimento sobre a suposta barganha de Moro - citado pelo portal Metrópoles.
Bolsonaro relatou também ter pedido, em meados de 2019, a troca do então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo - escolhido por Moro -, por “falta de interlocução” entre os dois.
O depoimento foi uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. O prazo era de 30 dias e terminava em 7 de novembro.
"[O presidente] confirma que em meados de 2019 solicitou ao ex-ministro, Sergio Moro, a troca do diretor-geral da Polícia Federal Valeixo, em razão da falta de interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor da Polícia Federal, e que não havia qualquer insatisfação ou falta de confiança com o trabalho realizado por Valeixo, apenas uma falta de interlocução", registou a PF no depoimento de Bolsonaro.
Ainda de acordo com a corporação, Bolsonaro declarou que "nunca teve como intenção, com a alteração do diretor-geral, obter informações privilegiadas de investigações sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção diretamente de relatórios produzidos pela Polícia Federal".
Na época, Moro disse que o presidente queria um aliado e exigia ter acesso a relatórios sigilosos da corporação. Também disse que Bolsonaro o pressionava para substituir Valeixo, além da coordenação da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, onde corriam inquéritos envolvendo filhos do presidente. O caso foi motivo de crise e ocasionou o pedido de demissão do então ministro da Justiça, em abril de 2020,
Moro nega barganha
O ex-ministro da Justiça negou, em nota publicada nesta quinta-feira, que condicionou a nomeação de Alexandre Ramagem à própria indicação ao Supremo Tribunal Federal.
“Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como ministro. Aliás, nem os próprios ministros do governo ouvidos no inquérito confirmaram essa versão apresentada pelo presidente da República”, rebateu Moro.
Agora, a Polícia Federal deverá remeter o inquérito ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe decidir sobre eventual denúncia contra o presidente da República.
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