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Bolsonaro desafia as leis, o STF e a democracia brasileira


Manifestação contra Bolsonaro no "grito dos excluídos", em São Paulo / Maí Yandara

Após convocar durante dois meses os seus apoiadores a irem às ruas neste 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro, ao discursar em atos de caráter antidemocrático em Brasília e São Paulo, que não lhe resta mais qualquer resquício de respeito pelas leis e pela democracia.


Mais uma vez ele desafiou a legalidade constitucional ao atacar o Supremo Tribunal Federal, mas agora foi além ao exigir a destituição do ministro Alexandre de Moraes, afirmando que não cumprirá decisões futuras dele. Em demonstração de completo desprezo pela ordem democrática, ele desafiou as leis e disse que só morto deixaria de ser presidente da República.


Prometendo aos seus seguidores que iria impor uma nova direção às instituições brasileiras, o presidente anunciou de forma enigmática a convocação, nesta quarta-feira, 8, do Conselho da República, surpreendendo os representantes dos demais poderes da República, que disseram desconhecer essa convocação.


As bravatas de Bolsonaro levantaram a fervura política em Brasília no final do dia. Até o fechamento desta matéria, ministros do STF, que se reuniram no início da noite, em pleno feriado, para avaliar a situação, continuavam discutindo as possíveis respostas que o Poder Judiciário dará diante dos ataques protagonizados pelo presidente da República.


Na esfera política, o PSDB anunciou a decisão de passar a defender o impeachment de Bolsonaro, enquanto dirigentes de partidos do Centrão, que garantem a governabilidade ao presidente, anunciavam a intenção de consultar suas bases sobre a manutenção do apoio ao governo. Por sua vez, o senador Raldolfe Rodrigues (Rede) protocolou no Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra o presidente da República por atentado contra a ordem institucional, entre outros delitos.


Os atos antidemocráticos convocados por Bolsonaram levaram milhares de pessoas às ruas em mais de uma dúzia de capitais. As principais manifestações aconteceram na Avenida Paulista, em São Paulo, na Esplandada dos Ministérios, em Brasília, e na Praia de Copacabana, no Rio. Muitas manifestações contra o presidente Bolsonaro também foram realizadas, com destaque para os atos no Centro de São Paulo e do Rio de Janeiro.


Seguidores de Bolsonaro apresentaram seus chifres ao presidente, em Brasília / Marcos Corrêa/PR

Ataque a Moraes

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) realizou um forte discurso nesta terça-feira (7) na Avenida Paulista, em São Paulo, em que afirmou: "Não vamos mais admitir que pessoas como [o ministro do Supremo Tribunal Federal] Alexandre de Moraes açoitem nossa democracia. Teve todas as oportunidades para agir com respeito, mas não agiu dessa maneira".


"Ou esse ministro [Alexandre de Moraes] se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixa de oprimir o povo brasileiro, deixe de censurar seu povo [...]. A paciência do nosso povo já se esgotou", disse Bolsonaro.


Mais cedo, durante discurso em Brasília, Bolsonaro disse que não aceitará que qualquer autoridade tome medidas ou assine sentenças fora das quatro linhas da Constituição. "Não podemos continuar aceitando. Ou o chefe desse Poder [STF] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", disse.


De acordo com o presidente, "o STF perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal". "Nós todos aqui, sem exceção, somos aqueles que dirão para onde o Brasil deverá ir. Temos em nossa bandeira escrito ordem e progresso. É isso que nós queremos. Não queremos ruptura, não queremos brigar com poder nenhum [...]. Não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa liberdade", sentenciou.


'Nunca serei preso'

No discurso na Avenida Paulista, o presidente Jair Bolsonaro desafiou quem o investiga: "Digo aos canalhas que nunca serei preso."


Os atos desta terça-feira (7) foram dominados por discursos golpistas do presidente e por faixas, cartazes e gritos autoritários e antidemocráticos de seus apoiadores. O STF foi o principal alvo, em especial os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nélson Piquet, cujo pai foi cassado pela ditadura militar de 64, dirigiou o carro presidencial / Marcos Corrêa/PR

Com Sputnik Brasil

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