Bolsonaro desdenha da avaliação do Enem

Com o governo sendo acusado de tentar controlar ideologicamente o conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o presidente Jair Bolsonaro declarou nesta quarta-feira (17) que a prova do exame nunca serviu para medir o conhecimento dos estudantes. Isso, depois de ter afirmado na segunda-feira (15) que o Enem começou a "ter a cara" do seu governo de direita mas ter negado que teve acesso às questões das provas, cujo início está marcado para o próximo domingo.
Segundo reportagem do Estadão nesta quarta, 24 questões foram retiradas da prova. Mas como o exame tem uma quantidade de questões consideradas fáceis, médias e difíceis, e a retirada descalibraria o Enem, 13 das questões suprimidas foram reinseridas.
Tudo isso ocorre em meio à crise provocada pelo pedido de demissão de 37 servidores de cargos de chefia do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que denunciaram a pressão para a troca de perguntas durante a montagem da prova.
De acordo com a apuração, o governo Bolsonaro vem usando diversas estratégias, como a impressão de provas previamente - procedimento não adotado em anos anteriores - e a análise de pessoas externas ao Inep, para tentar controlar o conteúdo do exame.
Além de dizer que o exame está começando a ter a cara do governo, Bolsonaro ainda acrescentou que "ninguém precisa estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado". Após a repercussão negativa, o vice-presidente Hamilton Mourão tentou consertar negando interferência, com a alegação de que esse era o jeito de o presidente falar. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, primeiramente, afirmou que teria acesso prévio às perguntas. Depois, recuou. Na terça-feira, disse que "não houve interferência".
Três anos à frente do governo e com nenhum projeto relevante apresentado na área da educação, Bolsonaro diz que o Brasil vive uma situação de atraso educacional. E citou como exemplo um erro que ele disse ter visto em uma escola. “Eu vi uma escola agora dizendo que era feriado dia 15 de novembro em virtude da Independência do Brasil. Pelo amor de Deus, será que não sabe o básico?". Bolsonaro não especificou qual escola teria trocado as datas da Independência e da Proclamação da República – podendo tratar-se de uma fake news veiculada nas redes sociais.
'Improbidade administrativa'
Segundo o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), líderes da oposição acionaram o Ministério Público Federal (MPF) "para que o ministro da Educação Milton Ribeiro responda por improbidade administrativa devido às interferências políticas no Enem".
Em sua conta no Twitter, o deputado fluminense disse que Bolsonaro "transformou o principal exame educacional do país num campo de guerra ideológica". "O caos no Enem é a cara do desgoverno Bolsonaro", escreveu Freixo, acrescentando: "incompetência, irresponsabilidade e atraso".
Em outro tuíte, o deputado ainda fez pilhéria com a fala do presidente de estar tornando o Enem a cara do governo dele. (Confira no final da matéria)
Bolsonaro passeia de moto e Lula é recebido como presidente
A declaração de Bolsonaro sobre o Enem foi feita durante a sua estada no Catar, onde passeou de motocicleta e fez transmissão ao vivo no Facebook para compartilhar o seu passeio nesta quarta-feira, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris, e alertou para a necessidade de uma multipolaridade no mundo. No Palácio Élysée, residência oficial do presidente da França, a chegada de Lula foi precedida de uma marcha da guarda francesa, honraria para receber chefes de Estado. Durante sua viagem pela Europa, o petista encontrou-se com o futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e ainda se reunirá com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez.