Bolsonaro quis trocar 'golpe militar' por 'revolução' no Enem
Em busca de ideologizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - conforme admitiu na segunda-feira ao dizer que o exame está começando "a ter a cara" do seu governo de direita -, o presidente Jair Bolsonaro tenta também impor a versão militar e da extrema direita sobre o golpe militar de 1964 como conteúdo da prova. De acordo com a Folha de São Paulo, Bolsonaro mandou o ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, trocar "golpe" por "revolução" nas provas.
Segundo a reportagem, membros do governo informaram que a determinação de Bolsonaro aconteceu no primeiro semestre. Ribeiro teria repassado o pedido a equipes do MEC e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelas provas. Desde 2019, primeiro ano do governo, nenhuma questão sobre a ditadura militar (1964-1985) caiu na prova.
Além de tentar mudar a interpretação sobre o golpe de 1964, o governo Bolsonaro tentou, por meio do Ministério da Educação, incluir professores de extrema direita na elaboração do Enem deste ano.
A lista com 22 nomes incluía seguidores do presidente, uma professora de Biologia criacionista e quatro docentes ligados à Universidade Mackenzie, de onde veio o ministro Milton Ribeiro.
De acordo com reportagem do Estadão nesta sexta-feira, essas pessoas receberiam a permissão para escolher as questões da prova a partir do banco de itens e também acompanhar a impressão da prova na gráfica.
A crise no Inep levou ao pedido de demissão de 37 servidores de cargo de chefia na semana passada, alegando, além de pressão, "fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima" do instituto.
O conflito fez o presidente do Inep, Danilo Dupas, apontado pelos servidores por "assédio", recuar e retirar os 22 nomes da relação. Esses docentes não haviam sido aprovados em processo seletivo para colaboradores da prova.
A elaboração da prova conta com colaboradores externos. Mas todos são professores escolhidos por meio de edital de seleção que leva em consideração o currículo e a formação acadêmica.
Cerca de 3,1 milhões de candidatos realizam este ano o Enem, principal meio de acesso às universidades do Brasil. A prova será aplicada neste domingo (21) e no próximo (28).
TCU investiga a pedido de parlamentares
O Tribunal de Contas da União (TCU) instaurou um procedimento para apurar as denúncias feitas sobre a gestão do Inep. Ação foi instada por um grupo de parlamentares que entregou na terça-feira uma representação à presidente do TCU, Ana Arraes, pedindo que as denúncias fossem investigadas.
O líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ) escreveu nas redes sociais e chamou Bolsonaro de negacionista após revelação do caso.
"Bolsonaro pediu que Enem trocasse "Golpe de 1964" por "revolução" em questões. De fato, essa é a "cara do governo": NEGACIONISTA. Mas não adianta! Nós, professores, temos um compromisso com a história, e não deixaremos que ela seja apagada. Ditadura nunca mais!"
O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), que também foi um dos parlamentares à frente da representação entregue ao TCU, também usou a rede social para falar da ação e criticar Bolsonaro.
“O objetivo da nossa ação no TCU, que vai investigar a conduta do presidente do INEP, Danilo Dupas, é garantir a segurança da realização do ENEM. Queremos proteger o exame educacional mais importante do país dos ataques do governo Bolsonaro”, escreveu Freixo.
Estudantes repudiam
Entidades estudantis classificaram a tentativa como uma ‘reescrita ilegal da história’ e repudiaram a ação do presidente.
“Gravíssimo. A História não será apagada! 64 foi Golpe e a Ditadura foi um dos piores capítulos da nossa História. Em nome de todos os estudantes que tiveram suas vidas ceifadas pelo poder Militar, resistiremos”, disse a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).
“Ele quer apagar a história. Mas nós reafirmaremos: foi golpe seguido de Ditadura Militar”, publicou Bruna Brelaz, presidenta União Nacional dos Estudantes (UNE).
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