Borboleta rara é vista pela primeira vez no sudeste do Pará
- Mehane Albuquerque
- 2 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Cientistas do Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS), da Universidade Federal do Pará e da Universidade de Lancaster, do Reino Unido, encontraram uma borboleta amazônica pela primeira vez na Floresta Nacional de Carajás, no município de Parauapebas, sudeste do Pará. A espécie (Amphidecta calliomma) ocorre no bioma, mas até hoje poucos indivíduos foram coletados e identificados por estudiosos. A coleta de um exemplar da borboleta pode ajudar a ciência a entender melhor sua baixa detecção, que pode ser rara ou estar sendo confundida com espécies similares no processo de identificação.

Segundo os pesquisadores, a espécie ocorre em uma ampla área da floresta de países como Colômbia, Bolívia, Peru, Venezuela, Equador, Panamá, Guiana Francesa e Brasil, mas, por conta da pouca coleta, as características ecológicas são ainda desconhecidas, o que demanda um aprofundamento no conhecimento sobre esses animais para o desenvolvimento de melhores políticas de conservação da biodiversidade. Um estudo sobre a descoberta foi publicado recentemente na revista Ecology and Evolution.
Tereza Cristina Giannini, uma das autoras do artigo, explica que a espécie foi coletada durante uma viagem de campo para na Floresta Nacional de Carajás. “O indivíduo foi capturado por meio de uma armadilha atrativa com isca de banana fermentada. Após isso, foi feita a identificação do indivíduo com a ajuda do especialista em borboletas da Amazônia, o Dr. William Leslie Overal e sua equipe, do Museu Paraense Emílio Goeldi”, disse a pesquisadora do ITV.
O estudo desenvolveu ainda, um modelo computacional de distribuição de espécies utilizando a nova ocorrência, que traça uma estimativa de distribuição geográfica potencial com base em dados do ambiente. “Esse método utiliza as variáveis climáticas que mais influenciam a distribuição geográfica da espécie a ser analisada, além das suas ocorrências registradas. A ferramenta, então, gera um modelo potencial de ocorrência, mostrando quais áreas têm características climáticas semelhantes àquelas onde a espécie já foi encontrada. Assim, conseguimos estimar novos locais de coleta, com maior probabilidade de encontrar a espécie estudada”, aponta Giannini.
A observação dos fatores ambientais também foi fundamental para traçar os indicadores de ocorrência da espécie. Segundo a pesquisadora bolsista do ITV e aluna da UFPA, Amanda Paracampo, outra autora do estudo, a estreita relação entre as borboletas e as variáveis climáticas ocorrem devido ao fato de as borboletas serem ectotérmicas (regulam a temperatura corporal a partir de uma fonte de calor externa), há estreita relação com as variáveis climáticas dos locais onde elas ocorrem.
A atividade das borboletas aumenta com as altas temperaturas e em longos períodos de luz solar, já que elas precisam manter seus músculos de voo em temperaturas acima da temperatura ambiente, para voar de forma mais eficiente. Além disso, o clima afeta o crescimento populacional, pois é um fator que limita o tempo de voo necessário para os adultos concluírem a postura de seus ovos. É também um fator limitante, pois tem efeito na sobrevivência dos indivíduos em estágios imaturos e na fase da fecundação.
"A redescoberta da borboleta Amphidecta callioma no Pará mostra como pode ser valiosa a associação entre dados de campo e de coleções biológicas nos estudos de biodiversidade. O encontro do exemplar de Carajás, juntamente com os registros anteriores, de coleções, permitiu aos pesquisadores do ITV avaliar comparativamente as chances de encontrar a espécie em outras regiões no norte da América do Sul, contribuindo de modo importante para a conservação da espécie. Sobre raridade da borboleta, vale dizer, o único registro na coleção do Museu Goeldi é de 1943, de Óbidos, no oeste do Pará, de oitenta anos atrás, portanto. É também oportuno que o achado tenha se dado na Flona Carajás, uma área protegida e com condições favoráveis para estudo das propriedades populacionais dessa borboleta e de outras", destaca Orlando Tobias Silveira, pesquisador e curador da coleção de insetos da coordenação de Zoologia do Museu Paraense Emilio Goeldi.
Os poucos artigos anteriores mostram uma grande discrepância nos registros da A. calliomma. Um estudo de 1996 apresenta 34 indivíduos e, na quinta expedição desses autores, foram coletados mais 81 espécimes. Esses números contraditórios podem representar falhas na identificação da espécie. Daí a importância do estudo, uma vez que o melhor conhecimento sobre a biodiversidade inspira melhores políticas de conservação.
Carajás
O Mosaico de Carajás é formado por seis unidades de conservação no sudeste do Pará. A Vale apoia a manutenção de seis Unidades de Conservação localizadas no Mosaico de Carajás, no Pará, área de 800 mil hectares, equivalente a cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
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