Brasil de Bolsonaro condena crianças à fome
Nem todas as crianças brasileiras têm o que comemorar neste 12 de outubro. Entre milhares delas, há as órfãs da pandemia, as que foram prejudicadas no aprendizado escolar, as que tiveram a saúde mental afetada e, principalmente, as que passam fome e vivem em condições absolutamente precárias. De acordo com a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, existem ao menos 9,1 milhões de crianças de 0 a 14 anos em situação domiciliar de extrema pobreza, vivendo com renda per capita mensal de no máximo R$ 275.

Uma família que se sustenta hoje com um salário mínimo, tem 55% da renda destinada à compra de alimentos básicos suficientes apenas para uma pessoa aldulta, conforme apontou o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) — coordenado por Gilberto Kac, professor titular do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e realizado entre 2019 e 2020 — apontou que de 13 mil famílias com crianças de até cinco anos, quase a metade apresenta algum grau de insegurança alimentar. Isso significa que seis milhões de famílias em todo o Brasil não têm direito à nutrição mínima. Algumas delas, que contavam com a escola pública como suporte na alimentação das crianças, ficaram ainda mais vulneráveis na pandemia, com as aulas suspensas.
Ao todo, 56% da população adulta brasileira viu sua renda cair desde o início da crise sanitária. A porcentagem aumentou para 64% no subgrupo de adultos que moram com crianças e adolescentes, segundo pesquisa do Unicef, braço da ONU para a infância, realizada em maio de 2021.
"Não ter uma alimentação adequada nessa fase do desenvolvimento pode deixar impactos na saúde para o resto da vida, pelo risco de desenvolverem problemas mais para frente. Embora a gente saiba que as crianças não foram mais afetadas pelo vírus da covid-19 em si, elas são as mais afetadas pelos impactos secundários que toda essa situação trouxe e pela interrupção de serviços", afirmou Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.
Conforme dados de uma pesquisa global da Gallup consolidados pela FGV Social, entre os 40% mais pobres no país, 11% deixaram de acreditar que as crianças teriam a oportunidade de aprender e crescer na pandemia, índice quase dez vezes maior do que a média internacional nessa faixa de renda.