Brasil e Rússia: 25 anos de parceria estratégica e novas perspectivas
- Mehane Albuquerque
- há 8 horas
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Por Gueorgui Kutirev*
Há um quarto de século, em 22 de junho de 2000, Rússia e Brasil assinaram um Tratado de Parceria, que se tornou um ponto de partida essencial para o desenvolvimento da cooperação bilateral. Esse documento, baseado nos princípios de respeito mútuo, igualdade soberana e busca por uma ordem mundial mais justa, lançou as bases para uma parceria estratégica que, ao longo de 25 anos, gerou resultados significativos e abriu novos horizontes.

Hoje, ao observar o caminho percorrido, é possível afirmar com segurança que as relações entre Moscou e Brasília se tornaram um exemplo de diálogo sustentável entre duas das maiores economias, unidas por objetivos comuns e interesses complementares.
A cooperação econômica tornou-se uma das áreas mais expressivas da parceria Rússia-Brasil. Em 25 anos, o comércio bilateral cresceu exponencialmente, alcançando, em 2024, o valor recorde de US$ 12,4 bilhões (R$ 68,3 bilhões), dos quais US$ 11 bilhões (R$ 60,6 bilhões) correspondem às exportações russas.
A Rússia exporta para o Brasil fertilizantes minerais, produtos químicos, trigo, pescados e bens de alta tecnologia, incluindo soluções nas áreas de energia nuclear, telecomunicações e farmacêutica. O Brasil, por sua vez, consolidou-se como o maior fornecedor de carne para a Rússia. Em 2024, por exemplo, as exportações de carne cresceram 1,5 vez em relação ao ano anterior. Empresas russas de T.I. vêm conquistando o mercado brasileiro, enquanto fabricantes brasileiros de autopeças, equipamentos agrícolas e até mesmo cremes dentais têm alta demanda na Rússia.
Apesar de certos desafios, os países continuam aprofundando suas relações comerciais, inclusive por meio do desenvolvimento de novas rotas logísticas para o fornecimento de fertilizantes, o que pode reduzir os custos para os agricultores brasileiros.
O diálogo político também atingiu um novo patamar. O documento assinado em 2005 sobre a criação da "Parceria Estratégica Russo-Brasileira" consolidou o status de ambos os países como parceiros estratégicos. Encontros regulares entre os líderes – desde a visita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002 até as negociações entre os chefes de Estado Vladimir Putin e Lula da Silva em 2025 – confirmam o compromisso mútuo com o estreitamento dos laços bilaterais. No âmbito do BRICS e do G20, Brasil e Rússia coordenam esforços para reformar instituições globais e defendem uma ordem mundial multipolar.
A cooperação em alta tecnologia tornou-se parte essencial da parceria, especialmente no setor energético. Empresas russas continuam fornecendo turbinas para usinas hidrelétricas brasileiras, além de atuarem em projetos de exploração de campos de petróleo na Amazônia. Além disso, a Rússia manifestou interesse em participar da finalização da construção do terceiro bloco da usina nuclear de Angra, no estado do Rio de Janeiro, bem como da construção de novos reatores, alinhando-se aos planos do Brasil para expandir sua matriz nuclear.
Na área espacial, um marco importante foi o voo do astronauta brasileiro Marcos Pontes à Estação Espacial Internacional em 2006, a bordo da nave russa tripulada Soyuz TMA-8.
Os laços culturais continuam a desempenhar um papel fundamental na promoção do entendimento mútuo entre os povos. Um projeto singular foi a escola do Teatro Bolshoi, inaugurada em 2000 na cidade de Joinville, sendo a única unidade internacional da instituição. Esse projeto, apoiado pelos governos de ambos os países, foi descrito pela parte russa como a "joia" da amizade bilateral.
As perspectivas de cooperação permanecem promissoras. Rússia e Brasil planejam aprofundar os laços econômicos por meio de investimentos em infraestrutura, logística e localização da produção. Por intermédio do Novo Banco de Desenvolvimento, ou Banco do BRICS, o Brasil espera captar recursos para implementar reformas de grande escala.
A interação digital também está ganhando força: o setor de T.I. da Rússia, que já atrai milhões de usuários brasileiros, abre caminho para novas iniciativas tecnológicas. A área ambiental continua sendo prioritária: os países seguem coordenando ações em prol do desenvolvimento sustentável, conforme previsto no Tratado.
A parceria russo-brasileira segue demonstrando sua robustez ao longo de 25 anos. Do comércio e tecnologia à cultura e diplomacia internacional, os países continuam construindo uma relação que não apenas atende aos interesses nacionais, mas também contribui para a estabilidade e justiça globais. Em um cenário internacional em transformação, Rússia e Brasil, com base no espírito do Tratado de 2000, estão preparados para novos projetos conjuntos que consolidarão suas posições como atores-chave no cenário global.
Fonte: TV BRICS, parceira do TODA PALAVRA / *Gueorgui Kutirev é doutor em Ciências Políticas
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