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"Brasil precisa definir linha política no BRICS", diz analista

O Brasil anuncia novo negociador-chefe do país no BRICS para reforçar seu comprometimento com o bloco. Com ameaças de Trump e uma cúpula climática no horizonte, o Itamaraty deve definir estratégia clara para obter sucesso no comando do BRICS, avalia analista ouvida pela Sputnik Brasil.

Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil trocou a chefia de sua equipe responsável pelo BRICS, ao anunciar o embaixador Maurício Lyrio como novo negociador-chefe (sherpa) para o bloco, em substituição a Eduardo Paes Saboia. No novo cargo, o atual secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, Mauricio Carvalho Lyrio, será o responsável pela presidência do BRICS no formato ampliado e pela organização da Cúpula de Chefes de Estado, programada para ser realizada no Rio de Janeiro em meados de julho.


Os negociadores-chefes em fóruns multilaterais como o BRICS e o G20 são denominados "sherpas", em uma referência aos guias que conduzem alpinistas rumo ao pico do Everest, na Cordilheira do Himalaia.


A mudança no comando brasileiro do BRICS procura reforçar o comprometimento do país com o bloco, acreditam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil. Lyrio substitui seu colega de profissão Eduardo Saboia, que representou o Brasil no BRICS durante as Cúpulas de Joanesburgo, na África do Sul, em 2023, e Kazan, na Rússia, em 2024.

Ex- sherpa do Brasil no BRICS, embaixador Eduardo Sabóia, com a enxada simbólica que representa a presidência do bloco, durante reunião de sherpas e sous-sherpas em Ekaterinburgo, Rússia, em 28 de novembro de 2024 - Foto: Anatoly Medved / Sputnik
Ex- sherpa do Brasil no BRICS, embaixador Eduardo Sabóia, com a enxada simbólica que representa a presidência do bloco, durante reunião de sherpas e sous-sherpas em Ekaterinburgo, Rússia, em 28 de novembro de 2024 - Foto: Anatoly Medved / Sputnik

Apesar de ser amplamente considerado um diplomata destacado e capaz, Saboia sofreu desgaste em função da imposição de veto brasileiro à entrada da Venezuela como membro associado do BRICS. Após a decisão brasileira, o governo de Nicolás Maduro emitiu comunicado responsabilizando o então sherpa brasileiro pelas dificuldades diplomáticas.


"Se considerarmos que o Brasil não era um entusiasta da expansão do BRICS, que acabou acontecendo, e tentou sem sucesso negociar critérios para a adesão de novos membros, podemos concluir que Saboia não atingiu os objetivos da diplomacia brasileira no bloco", disse o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fabiano Mielniczuk, à Sputnik Brasil.


Após a substituição, Eduardo Saboia deixará a chefia da Secretaria de Ásia e Pacífico do Itamaraty em Brasília para assumir a Embaixada do Brasil em Viena– cargo ocupado por Maurício Lyrio entre 2021 e 2023. A Áustria já concedeu o agrément ao diplomata brasileiro, que deve passar por sabatina no Senado Federal sem percalços, reportou o jornal O Globo.


Maurício Lyrio acumulará a nova função no BRICS com a de sherpa do G20, grupo no qual ele coordenou a presidência brasileira em 2024, considerada bem-sucedida pela comunidade acadêmica e diplomática.

Reprodução / Redes Sociais
Reprodução / Redes Sociais

"A nomeação é importante não só por Lyrio ter um posicionamento mais favorável ao BRICS, mas também pelas vitórias que acumulou na chefia do G20", disse a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo (USP), Amanda Harumy, à Sputnik Brasil.


A especialista notou a menção ao conflito na Faixa de Gaza na declaração final do G20 como uma vitória da organização brasileira, assim como a ênfase em temas como combate à pobreza, à fome e a taxação das camadas mais ricas da sociedade.


O sucesso da Cúpula do G20, que driblou as diferenças internacionais em relação ao conflito ucraniano, também pode ser creditado à presidência brasileira coordenada por Lyrio, disse a especialista.


Além da forte influência do G20, a presidência brasileira do BRICS também coincidirá com a organização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP-30, a ser celebrada em Belém do Pará, em novembro de 2025.


Em função da COP-30, a diplomacia brasileira decidiu concentrar as atividades do BRICS no primeiro semestre do ano. De acordo com o governo federal, cerca de 100 reuniões técnicas e ministeriais devem ser realizadas sob a liderança brasileira.


"Seis meses me parece pouco tempo para preparar e organizar um debate da magnitude que o BRICS demanda. No caso do G20, vimos como o tempo é importante", considerou Harumy. "Mas, de forma realista, será preciso estabelecer uma linha política comum nos dois eventos."


Por outro lado, o professor Mielniczuk acredita que a atuação brasileira no BRICS deve ser independente das agendas do G20 e da COP-30, agrupamentos com ênfases e prioridades diferentes.


"A ideia de que a presidência brasileira do BRICS deve ser uma ponte entre o G20 e a COP-30 me parece equivocada", considerou Mielniczuk. "O BRICS tem uma importância geopolítica em si, e não deve ser espremido entre agendas de outros agrupamentos de naturezas completamente diversas."


Apesar de a nomeação de Lyrio ser o resultado do engajamento de grupos mais interessados no engajamento do Brasil no BRICS, Harumi cobra a definição de uma linha política mais clara do Brasil no bloco.


"Precisamos definir nossa linha política no BRICS urgentemente. Não há escolha. O BRICS é uma realidade. O Brasil é um membro fundador e presidente em 2025. A [ex-presidente] Dilma Rousseff é diretora do banco do BRICS [Novo Banco de Desenvolvimento], que está com uma perspectiva bastante animadora", notou Harumi. "Além disso, há forte demanda sobre o BRICS no mercado, nas relações comerciais, nos movimentos sociais e na sociedade – as pessoas falam muito no BRICS."

Marca foi desenvolvida para representar a presidência brasileira do Brics em 2025 - Foto: Agência Gov
Marca foi desenvolvida para representar a presidência brasileira do Brics em 2025 - Foto: Agência Gov

Temas prioritários


Por ora, os temas elencados pela diplomacia brasileira como prioritários para sua presidência no BRICS são desenvolvimento de meios de pagamentos entre os membros do grupo, inteligência artificial, financiamento para ações de combate às mudanças climáticas, saúde pública e fortalecimento institucional do BRICS.


Ao contrário de organizações internacionais como a ONU, o BRICS não possui uma estrutura institucional formal, um secretariado ou tratado constitutivo. A informalidade do bloco, muitas vezes considerada vantajosa, será debatida pela presidência brasileira.


"É uma pauta delicada, já que historicamente o Brasil favoreceu a flexibilidade do grupo. Apesar de ainda não estar claro quais serão as propostas brasileiras, tudo indica que haverá um debate sobre como definir os papéis dos membros permanentes do BRICS, por um lado, e seus membros associados, por outro lado", explicou o professor da UFRGS.


Após a nomeação de Lyrio, o governo federal atualizou sua lista de temas prioritários para incluir a reforma da arquitetura multilateral de paz e segurança. A agenda buscará prevenir conflitos, catástrofes humanitárias e resgatar a confiança nas soluções pacíficas de controvérsias, notou o professor Mielniczuk.


Já o doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Wagner Sousa, comemora a inclusão da agenda sobre meios alternativos de pagamentos entre as prioritárias para a presidência brasileira no BRICS.


"Acredito que, no âmbito do BRICS, a discussão mais presente deve ser relativa à criação de alternativas ao dólar", disse Sousa à Sputnik Brasil. "Mas é uma questão de longo prazo, não é algo trivial substituir a moeda reserva do sistema internacional, já hegemônica há 80 anos."


As ameaças feitas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a países que realizem comércio sem utilizar o dólar não devem coagir o governo brasileiro, que acumula experiência na área, notou o especialista.


"Fosse Donald Trump ou [ex-candidata à presidência dos EUA pelo Partido Democrata Kamala] Harris, qualquer movimento no sentido de substituir o dólar provocaria reação dos EUA. Neste sentido, nada muda para o Brasil com Trump, a não ser o estilo agressivo do republicano [...] estas ameaças não vão impedir que este processo tenha seguimento, ainda que demore muito tempo", concluiu o especialista.


O Brasil assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro, com o lema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável". Inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora conta com Indonésia, Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos como membros plenos. A categoria de membros associados também cresce e já inclui países como Argélia, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uzbequistão e Uganda.


Fonte: Sputnik Brasil, parceira do TODA PALAVRA

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