Braços cruzados também matam
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Braços cruzados também matam


(Foto: Agência Sputnik)

Por Ricardo Gouveia, jornalista

Como se não bastasse a dor lancinante de perder uma pessoa querida levada pela peste, milhares de familiares e amigos que não tiveram sequer o direito sagrado à despedida final, ritualizada em velório e enterro, ainda têm o sofrimento aprofundado, cruelmente, pela indiferença dispensada pelo presidente da República ao extermínio. Nem mesmo no momento em que a sociedade brasileira é abatida pela triste marca de mais de cem mil mortos, ele foi capaz de um gesto de solidariedade a milhares de enlutados, de uma palavra de consolo, como fazem os verdadeiros estadistas nas tragédias que assolam as sociedades.

Além de não reconhecer a gravidade da doença, estimular o rompimento do isolamento social, promover aglomerações, se recusar a conduzir a coordenação nacional do combate à doença, reter dois terços das verbas reservadas à saúde, não socorrer financeiramente estados, municípios e as micro e pequenas empresas que empregam mais de 70% dos trabalhadores do País, o presidente manifestou por diversas vezes o seu desprezo por tantas perdas humanas. "E daí?", "Não sou coveiro!" e "Todo mundo vai morrer um dia", foram algumas das expressões vociferadas por ele.

Com o seu negacionismo científico, seu assustador posicionamento público contrário ás recomendações das autoridades sanitárias e sua liderança negativa que levou multidões a tratarem a peste como uma "gripezinha", ignorando as precauções indispensáveis à contenção da proliferação do vírus, ele contribuiu decisivamente para que mais de cem mil pessoas morressem. E, como nada é capaz de alterar a sua postura desumana, agirá com a mesma indiferença ao final do ano de 2020, quando, segundo estimativas de infectologistas, poderemos chegar a 200 mil mortos.

Não há a menor dúvida de que, se o País tivesse abraçado o isolamento social e imposto o lockdown em alguns momentos e localidades, e investido fortemente em testagens, para isolar os infectados e inibir a expansão da doença, teríamos um número muito menor de mortos. Prova disso é que, de acordo com uma pesquisa feita por professores da área de estatísticas econômicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), somente em maio - mês em que foi registrado o maior número de mortes: 30 mil - foram poupadas 118 mil vidas pelo isolamento social, mesmo com a medida tendo sido praticada em níveis inferiores aos recomendados pelas autoridades sanitárias.

As mais de cem mil mortes consumidas pela peste em cinco meses superam o total de 82.356 mortes registradas em assassinatos e acidentes de trânsito no país, em todo o ano de 2019. No ano passado, 41.635 foram assassinadas e 40.721 morreram no trânsito. Enquanto as pessoas estão morrendo de uma doença mortal para a qual ainda não se tem cura, o presidente estimula a população a consumir medicamentos comprovadamente ineficazes e cujos efeitos colaterais podem levar à morte.

A cidadania brasileira que, em grande parte, infelizmente, renunciou ao espírito de coletividade e não travou corretamente a luta contra a pandemia, ainda tem tempo de se redimir. Independentemente das insanidades de prefeitos, governadores e do presidente, rendidos à pressão econômica e a objetivos eleitorais, temos que cumprir a parte que nos cabe para que, no final do ano, não tenhamos que chorar 200 mil mortes. Quem puder, tem que ficar em casa. Quem não puder, que vá às ruas, sem, contudo, deixar de cumprir as medidas de precaução.

Para os que acham exagero a previsão de terminarmos o ano com 200 mil mortes, por consideram que as coisas já estão voltando ao normal, chamo a atenção para o fato de que tal "normalidade" não é reconhecida pelos cientistas. Segundo eles, as decisões de abertura do comércio por prefeituras e governos estaduais não estão amparadas em estatísticas e estudos.

Pelo contrário, eles têm dito que, com uma média de mil mortes por dia, a situação continua caótica e com potencial alarmante de aprofundar ainda mais a catástrofe. Ou seja, já temos cem mil mortos, mas pode ficar muito pior. Pode dobrar o número de mortos pela peste. Podemos chegar a 200 mil mortos, até o final deste ano. E dependendo do tempo que esperaremos pela vacina, talvez somente em 2021, o total de brasileiros a serem exterminados é incalculável.

Não podemos ficar de braços cruzados. Temos que agir. Com o recolhimento residencial, sempre que possível, a lavagem constante das mãos, o uso de máscaras e nada de aglomeração na rua. É a parte que nos cabe, além, é claro, do nosso dever de cobrar das autoridades políticas o cumprimento das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos princípios da Constituição Federal, que nos garante o direito inalienável à saúde e à vida.

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