BRICS quer prevenir o terrorismo com combate à pobreza
- Da Redação
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Atualizado: há 2 minutos

Após três dias de discussões em Brasília (DF), o Grupo de Trabalho de Contraterrorismo do BRICS concluiu que a promoção à educação e o combate à pobreza são fundamentais para o enfrentamento ao terrorismo, que explora minorias e regiões mais vulneráveis para manter suas atividades. O GT é coordenado pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) nesta presidência do Brasil no BRICS em 2025.
Para o grupo, o financiamento ao terrorismo é ameaça internacional à paz e segurança das pessoas, que leva à desestabilização econômica e social e, por isso, a necessidade de medidas preventivas. Há preocupação especial com crianças e outros membros da família expostos a contextos sociais desfavoráveis. Para integrantes do BRICS, esses grupos precisam ser reintegrados à vida normal, sem estigmatização e com apoio médico, psicológico e educacional.
A diretora do Departamento de Inteligência Externa da ABIN e chefe da delegação brasileira do GT de Contraterrorismo, Ana Ribeiro, destacou os programas de prevenção e reintegração apresentados durante as reuniões. "Ao tratar das experiências exitosas de diferentes países com a implementação de programas de reintegração de combatentes terroristas e de estratégias de intervenção precoce em processos de radicalização em curso, foi destacada a importância de abordagem multidimensional que engaje o Estado e a sociedade civil, por meio da família e da comunidade, especialmente de líderes comunitários", declarou.
A diretora destacou ainda que a resposta dos Estados também precisa estar "em constante adaptação e atualização considerando as rápidas mudanças de estratégias, métodos e táticas de grupos terroristas e movimentos associados ao extremismo violento".
Durante os últimos três dias, as delegações presentes na capital federal compartilharam diferentes perspectivas, conhecimentos e experiências sobre o terrorismo e o extremismo violento. Foram debatidos os impactos das novas tecnologias na capacidade de recrutamento, de financiamento e de promoção de desinformação por parte de organizações terroristas, bem como na geração de novas formas de violência e na promoção de processos de auto-radicalização.
Como exemplos foram citados o uso de criptomoedas para financiamento e a disseminação de propaganda do terrorismo em diferentes línguas. Os países destacaram ainda a relevância da cooperação internacional para a construção de capacidades no âmbito dos Estados, em meio às novas tendências do terrorismo. Também foi apontado o alinhamento de legislações domésticas em relação a padrões internacionais.
Brasil avança na institucionalização do Grupo de Contraterrorismo
A diretora Ana Ribeiro detalhou que o Brasil propôs medidas para fortalecer a estrutura institucional do grupo, incluindo a regulamentação dos subgrupos de trabalho e a atualização de protocolos de análise de ameaças. "A proposta brasileira foi estabelecer regras claras para a presidência rotativa de cada subgrupo, garantindo maior objetividade e renovação de ideias", explicou. O documento, que deve ser aprovado até a cúpula de líderes em julho, visa dar mais solidez às atividades do grupo.
Um dos destaques da atuação brasileira foi no subgrupo de Capacity Building (Construção de Capacidades), coordenado pelo Brasil desde sua criação em 2019. "Esse é um eixo transversal, pois todas as ações de contraterrorismo dependem do desenvolvimento de capacidades adaptativas", afirmou a diretora. Entre as iniciativas apresentadas está a criação de uma matriz de ofertas e demandas de capacitação entre os países membros, que será atualizada anualmente. Além disso, o Brasil compartilhou avanços em sua metodologia de análise de extremismo violento, com a distribuição do Protocolo de Prevenção à Ameaça do Extremismo Violento, revisado em 2025.
O documento, elaborado com participação de diversos órgãos governamentais e da academia, estabelece indicadores para diferenciar o extremismo violento da criminalidade comum. "A ideia é que seja um instrumento não apenas da ABIN, mas de todo o Estado brasileiro, e que também possa contribuir para discussões internacionais", destacou Ana Ribeiro. A nova versão do protocolo será submetida a consulta interna antes de sua adoção definitiva.
Terrorismo na era digital e novas formas de violência
A reunião também abordou as tendências globais do terrorismo, com ênfase no uso de tecnologias emergentes por grupos extremistas. "A inteligência artificial, por exemplo, tem sido amplamente utilizada para recrutamento e propaganda terrorista", alertou a diretora. Por outro lado, os países discutiram como essas mesmas ferramentas podem ser aproveitadas pelos Estados no combate à radicalização.
Ana Ribeiro destacou que o terrorismo hoje vai além de ataques convencionais, incluindo ameaças cibernéticas e ataques a infraestruturas críticas. "São ações que desestabilizam sociedades inteiras, mesmo sem causar mortes imediatas", explicou. Nesse contexto, o subgrupo sobre o uso indevido da internet debateu a possibilidade de ampliar seu escopo para incluir outras tecnologias emergentes, como deep fakes e ferramentas de desinformação.
A diretora enfatizou que o combate ao terrorismo exige uma abordagem multifacetada, incluindo políticas de segurança, mas também ações educacionais e sociais. "Muitos países apresentaram estratégias nacionais que combinam repressão com programas de reintegração e prevenção à radicalização", disse. Ela citou a reformulação de currículos escolares em algumas nações para promover valores como diversidade e coesão social, além da capacitação de lideranças comunitárias para identificar sinais de radicalização.
Walid Elfiky, chefe da delegação do Egito no GT de Contraterrorismo, avaliou positivamente as discussões realizadas na reunião, e reforçou a necessidade de ações conjuntas contra o terrorismo e o extremismo. Ele diz que o terrorismo "não tem religião, nem pode ser associado a uma cultura ou região específica". Nesse sentido, defendeu que o BRICS — composto por nações diversas — tem a capacidade de desenvolver estratégias eficazes que possam ser levadas a instâncias globais, como as Nações Unidas. "O Grupo de Trabalho de Contraterrorismo é de grande relevância. Tudo deve estar sincronizado entre os países, não apenas no nível financeiro e econômico, mas também na esfera de combate ao terrorismo. Podemos criar soluções que elevem o combate ao terrorismo a um novo patamar", concluiu Elfiky, reforçando o papel do grupo na promoção da segurança internacional.
A ABIN continuará trabalhando na consolidação das propostas aprovadas na reunião em Brasília. Nos próximos meses, será finalizada a minuta do anexo que regulamentará os subgrupos, e o Brasil seguirá coordenando esforços para implementar a matriz de capacitações. A ideia é que, até o próximo ano, esses mecanismos estejam plenamente operacionais, fortalecendo a cooperação entre os membros do BRICS no enfrentamento ao terrorismo.