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BRICS: sociedade civil apresenta propostas em reunião de sherpas

O Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, foi palco nesta semana de um marco na história do BRICS. Pela primeira vez, desde a criação do grupo, representantes da sociedade civil tiveram espaço formal para apresentar propostas diretamente aos principais negociadores dos países-membros durante a segunda reunião de sherpas do grupo. A sessão conjunta entre sherpas e lideranças do pilar "People-to-People" (P2P) do BRICS representa uma mudança significativa na forma como o grupo incorpora as demandas da sociedade civil em seu processo decisório.

Foto: Rafael Lima / BRICS Brasil
Foto: Rafael Lima / BRICS Brasil

"É uma oportunidade para que nós, negociadores, ouçamos o que a sociedade tem a dizer sobre nosso trabalho e como melhorá-lo para que os resultados do BRICS sejam mais alinhados com o que a população quer", afirmou Mauricio Lyrio, sherpa do Brasil no BRICS. Ele destacou que o presidente Lula foi enfático ao defender que o agrupamento precisa ouvir melhor a sociedade para tomar decisões que realmente impactem a vida das pessoas.


O formato inovador permitiu que grupos representativos da sociedade civil apresentassem suas demandas diretamente aos negociadores. Conforme salientou ​​Gustavo Westmann, chefe da assessoria especial de assuntos internacionais da Secretaria-Geral da Presidência da República, foram selecionados dez grupos, com critérios que combinavam representatividade institucional e alinhamento com as prioridades da presidência brasileira.


“O critério para a identificação dos dez grupos foi o seguinte: primeiro assegurar que os quatro grandes conselhos tivessem presentes, o Conselho Empresarial, Conselho Juventude, o Conselho Civil e o Conselho de Think Tanks. E depois, à luz das prioridades da presidência brasileira, a gente também trouxe outros fóruns e reuniões. Então, basicamente essa é uma oportunidade para que representantes e atores não governamentais possam não apenas dialogar com os negociadores, mas também enviar propostas concretas para o reposicionamento do BRICS nessa nova ordem global repleta de complexidades", explicou Westmann.


Entre os participantes estava João Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele destacou que desde a Cúpula do BRICS 2024, realizada em Kazan, na Rússia, os movimentos populares vêm realizando encontros virtuais e elaborando documentos, que já foram entregues ao Itamaraty para tradução nos idiomas oficiais do grupo. Stédile reforçou a importância do objetivo do encontro no Rio para apresentar essas propostas e estabelecer um canal de diálogo direto com os representantes dos governos.


"Nós, os movimentos populares, apresentamos por escrito uma síntese sobre os temas que a governança do Brasil colocou: educação, saúde, governança mundial e tecnologia. E aproveitamos para chamar atenção sobre questões urgentes da conjuntura. Além disso, os movimentos cobraram uma postura mais ativa do BRICS contra os conflitos em curso no mundo. Há uma responsabilidade civilizatória que exige solidariedade", declarou.


Outra demanda apresentada por Stédile é a formalização do Conselho Popular do BRICS, proposta aprovada em Kazan, mas ainda sem regulamentação. "Precisamos definir quantas pessoas por país, se terá secretaria, recursos, quantas reuniões por ano. O conselho precisa funcionar de forma permanente, independentemente da posição ideológica do governo que assume a presidência rotativa", explicou.


Espaço inovador para a sociedade civil

Foto: Rafael Lima / BRICS Brasil
Foto: Rafael Lima / BRICS Brasil

Sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), houve consenso dos representantes da sociedade civil que a instituição financeira precisa ser o principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global. O argumento é que sem indústria não há como reduzir a pobreza ou financiar agricultura familiar, por exemplo. A expectativa é que o NBD se torne uma alternativa real ao Banco Mundial e ao FMI, financiando o desenvolvimento de países emergentes.


Constanza Neri, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Aliança de Mulheres Empresárias, destacou a necessidade de maior participação feminina. "Precisamos de mais acesso a crédito, capacitação em práticas agrícolas sustentáveis e maior representação no turismo e na saúde global. As mulheres são fundamentais para o comércio internacional, mas ainda enfrentam muitas barreiras", avaliou.


Nilson Duarte, presidente da União Geral dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, representando os sindicatos, pediu maior atenção às questões sociais. "O Novo Banco de Desenvolvimento deve ampliar financiamentos para áreas sociais, e os sindicatos precisam ser incluídos no monitoramento de políticas públicas. Propomos a institucionalização de um fórum sindical permanente no BRICS", reivindicou.


A juventude também teve voz ativa no encontro. Ronald Luiz dos Santos, da Secretaria Nacional da Juventude, foi categórico. "Não há futuro para o BRICS sem a juventude. Os projetos do bloco devem gerar oportunidades reais e nossas propostas precisam ser consideradas nas decisões dos líderes. Estamos falando do nosso futuro", observou.


Eduardo Tadeu, diretor executivo da Associação Brasileira de Municípios, trouxe a perspectiva local. "As crises globais são sentidas primeiro nas cidades. Os governos locais devem ter assento na mesa quando se discutem soluções. A Associação BRICS+ de Cidades está pronta para contribuir com essa nova governança", declarou.


As propostas apresentadas serão consolidadas em documentos oficiais e analisadas pelos sherpas nas próximas semanas. O governo brasileiro reforçou que o diálogo com a sociedade civil continuará ao longo de toda a presidência, com expectativa de resultados concretos na Cúpula de Líderes que ocorrerá nos dias 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.


Os representantes da sociedade civil avaliam que a iniciativa brasileira pode deixar um legado duradouro para o BRICS, transformando a forma como o grupo incorpora as demandas da sociedade em seu processo decisório. Enquanto os sherpas retomam suas negociações técnicas, as vozes da sociedade civil ecoam agora nos corredores do poder, prontas para influenciar o futuro de um dos grupos mais importantes do cenário geopolítico contemporâneo.


O sherpa da África do Sul, embaixador Xolisa Mabhongo, falou do diálogo inédito entre sociedade civil e negociadores durante a reunião no Rio de Janeiro. "Tivemos aqui um encontro inédito entre cidades, sociedade civil e os sherpas. Segundo ele, a sociedade civil é fundamental. "Vimos a paixão dos líderes sociais aqui. O Brasil mostra como a sociedade deve ser valorizada — algo que também vivemos na África”, disse.


Mabhongo apontou três lições: a importância da participação social, a seriedade das propostas apresentadas e a esperança de que futuras presidências do BRICS sigam o modelo brasileiro. Sobre a continuidade desses diálogos, ele afirmou que os sul-africanos já estão seguindo o exemplo do Brasil. "Em nossa presidência, também promoveremos esse engajamento. É essencial que esse modelo permaneça no BRICS". A declaração do embaixador reforça o impacto da iniciativa brasileira no reposicionamento do grupo como um espaço mais inclusivo.


Participação histórica


O encontro histórico representou não apenas um avanço na governança do BRICS, mas também consolidou o protagonismo brasileiro em promover uma diplomacia mais inclusiva e participativa. Com a presidência temporária do agrupamento, o Brasil demonstra que é possível conciliar os interesses estratégicos dos Estados com as demandas concretas da população, criando pontes entre governos e sociedade civil em um mundo cada vez mais complexo e multipolar.


Todas as propostas apresentadas nesta semana, no Rio de Janeiro, serão levadas aos líderes do BRICS, com a esperança de que as demandas da sociedade civil sejam incorporadas nas discussões oficiais do grupo. A Índia, que assume a presidência no próximo ano, será o destino dessa articulação.


Também participaram da reunião como representante da sociedade civil, Francisco Gomes, CEO da Embraer, representando o Conselho de Negócios do BRICS; Keiti da Rocha Gomes, do IPEA e do Conselho de Think Tanks do BRICS; Hugo Freire, secretário de assuntos internacionais do Tribunal de Contas da União (TCU), representando as Instituições Superiores de Auditoria do BRICS; e Getúlio Vaz, assistente sênior de assuntos internacionais, representando o Fórum de Pequenas e Médias Empresas do BRICS; o senador Humberto Costa (PT-PE), representando o Fórum Parlamentar do BRICS; e o deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar do BRICS.


Fonte: BRICS Brasil

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