Bruno Lessa: mudança tem que ter qualidade
Entrevista a Luiz Augusto Erthal (colaborou Apio Gomes)
Mais jovem dos pré-candidatos a prefeito, o vereador Bruno Lessa (PSDB) defende que a mudança política em Niterói tem que ser revestida de qualidade. Filho do ex-deputado Sílvio Lessa, ele carrega a tradição política da família e não vacilou em aceitar o desafio de tentar a cadeira de prefeito, deixando para trás um provável terceiro mandato na Câmara. É o terceiro entrevistado da série de debates políticos inaugurada pelo TODA PALAVRA.
TP - Já temos agora uma peça-chave definida no tabuleiro da eleição deste ano em Niterói, que é o anúncio do nome escolhido pelo prefeito Rodrigo Neves, o seu secretário Axel Grael. Você esperava que o quadro sucessório fosse exatamente este que está se desenhando.
Eu queria, inicialmente, elogiar o Toda Palavra. Acho que esta série de reportagens é bem importante; chama a atenção do público para o processo político – o que é saudável para a democracia. A gente precisa que os meios de comunicação informem também sobre o processo eleitoral, que é um processo decisivo na história da cidade.
O próximo prefeito de Niterói vai administrar, em quatro anos, algo em torno de 15 bilhões de reais; e a população vai fazer esta escolha, de extrema importância para o futuro da Cidade.
Então, o início deste debate pré-eleitoral é fundamental. E a série de entrevistas do Toda Palavra tem, sem dúvida nenhuma, contribuído para informar o eleitor das ideias iniciais; das primeiras impressões que os pré-candidatos têm deste processo.
Com relação à escolha do Axel, não me surpreende. Desde o primeiro momento, tinha o entendimento de que o prefeito Rodrigo Neves iria indicar o Axel, por ser um nome mais próximo dele. Nunca achei que o Rodrigo fosse indicar alguém com um grau maior de autonomia, de independência política própria – como os deputados e os outros quadros do governo.
Respeito o secretário Axel e espero que seja uma campanha propositiva. É isto que me proporei a fazer enquanto pré-candidato: discutir a Cidade, discutir ideias, discutir o futuro de Niterói. Fazendo uma analogia com o futebol: jogador de futebol fala que adversário não se escolhe; e político também não. Então, estou muito animado com este ano eleitoral.
TP - Como você viu o resultado das primeiras pesquisas eleitorais, onde você chega a ocupar o segundo lugar em determinados cenários?
Primeiro, pessoalmente, fico muito feliz. Confesso que não esperava estar em um patamar de intenção de voto apresentado por estas pesquisas, da forma como elas colocaram no passado; porque meu índice de conhecimento ainda é baixo – não é toda a população que acompanha o Legislativo, a minha atuação no Legislativo Municipal. Se eu não me engano, uma das pesquisas apontou um índice de conhecimento e torno de 30% a 35% – ainda baixo. Mas com um índice de conhecimento deste, pontuando bem como pontuo, eu fico feliz; acho que é um reconhecimento de um trabalho aqui na Câmara, de independência, de combatividade.
E também um apontamento, por parte do eleitor, de que quer algo novo, que quer mudança; mas mudança com qualidade, com competência, com ideias. Mudança de propostas, não uma mudança puramente ao vento. Não o novo pelo novo, mas um novo conteúdo.
Acho que o indicativo destas pesquisas, de os candidatos de oposição estarem na frente, se deve ao fato de que Niterói quer mudar. A população de Niterói tem uma noção muito grande de que a prefeitura, hoje, entrega menos do que poderia entregar. Niterói é sim uma cidade rica; Niterói é, sim, uma cidade privilegiada. Em especial pela alta arrecadação dos royalties de petróleo.
No início da exploração do Campo Lula, do Pré-sal, aqui na altura do nosso mar territorial, os royalties de petróleo cresceram exponencialmente, em Niterói. Aumentaram mais de dez vezes, do primeiro para o último ano do governo Rodrigo. Isto faz com que a Prefeitura, de fato, estregue coisas, entregue obras. Só que o cidadão tem a nítida percepção de que a prefeitura entrega menos do que poderia entregar.
Os serviços públicos essenciais ainda não estão com seu grau de prestação à altura da expectativa do niteroiense. A Saúde Pública, por exemplo, vive um momento muito delicado em Niterói. Na Educação, em todo início de ano letivo, nós ouvimos falar em falta de vagas, principalmente em unidades municipais de ensino infantil. A cidade ainda tem gargalos em mobilidade. A zeladoria urbana da cidade ainda é problemática: os pontos de alagamento, em Niterói, quando chove – entra governo, sai governo – não são solucionados.
Acho que a população de Niterói tem uma noção, hoje, de que o grupo que administra a cidade poderia ter feito mais nestes oito anos, porque as condições foram muito privilegiadas.
Isto faz um apontamento claro de uma candidatura pela mudança; no caso, com nomes mais vinculados à oposição.
Agora, também faço questão de deixar aqui uma coisa: o eleitor não deve votar se aprova ou não aprova o governo do Rodrigo. O eleitor vai escolher o próximo prefeito da cidade entre quem é mais qualificado para governar a cidade, quem tem ideias próprias, quem tem autonomia, quem tem capacidade de governar Niterói, quem tem o vigor necessário para, nos próximos quatro anos, liderar a Cidade.
TP - Os candidatos que podem representar o prefeito aparecem bem abaixo dos oposicionistas nessas primeiras pesquisas. Isso não lhe parece contraditório, tendo em vista ser um governo razoavelmente bem avaliados, segundo as mesmas pesquisas?
A cidade, como falei, tem um nível orçamentário muito elevado. E isto faz com que você veja a prefeitura na rua. Na época do governo do PT, houve um grau de investimento federal elevado na cidade, em especial na construção da Transoceânica (investimento de R$ 292 milhões), com captação de recursos junto à Caixa Econômica Federal.
Então, isto faz com que a aprovação do governo não seja um desastre. Mas também não é lá uma aprovação maravilhosa… É uma coisa, ali, fifty-fifty, não é?… Tem ali uma ponderação.
Eu acho que isto se deve ao fato, justamente, de a prefeitura entregar um volume mínimo de realizações, que, repito, está aquém, ainda, do poderia enquanto poder público.
Mas eu não vejo neste indivíduo que responde à pesquisa e diz que aprova a atual administração municipal um alinhamento automático com o seu candidato. Porque ele aprova, mas também sabe que a administração pode mais. E, neste pode mais, eu acho que o apontamento é mais claro para o candidato que represente mudança.
TP - Você e Felipe Peixoto - ele sempre em primeiro lugar - aparecem bem colocados nessas primeiras intenções de votos apuradas. É sabido que vocês dois têm conversado. Existe a possibilidade de se unirem em uma chapa de oposição?
Felipe é um grande quadro da cidade. A gente se encontra semanalmente; temos um diálogo de muita proximidade. Eu sou candidato a prefeito; tenho ideias que quero apresentar ao cidadão niteroiense. Felipe é candidato a prefeito e tem ideias que quer apresentar ao cidadão niteroiense. E muitas das nossas ideias são ideias comuns.
Isto faz com que a gente dialogue, que a gente tenha uma proximidade – respeitando, naturalmente, os projetos de cada um –, tentando, também, construir uma viabilidade de um entendimento mais próximo, talvez já no primeiro turno da eleição.
Atualmente, são conversas políticas; e as conversas, às vezes, andam em uma velocidade menor do que a própria expectativa das pessoas conosco. Não tenho dúvidas de que Felipe é altamente qualificado; eu sei da estima que ele tem por mim. Acho que é importante que a gente esteja nesta mesma página: página do diálogo, página da busca de um entendimento, e página, principalmente, da construção de um bom futuro para Niterói.
Então, há uma conversa; e ela acontece constantemente. E eu espero que ela avance nos próximos meses. Em algum ponto deste processo estas linhas se encontram. Mais cedo ou mais tarde. No segundo turno, em algum momento.
TP - As pesquisas também mostram uma dificuldade do prefeito em transferir votos. O TODA PALAVRA mostrou que 70% dos entrevistados não seguiriam o voto do prefeito, necessariamente. A quê você atribui isso?
Acho que nós temos dois exemplos na história recente do país de escolhas que a população fez, apenas por indicação de políticos então populares. Estes dois governos não foram bons para ao Brasil e para o Rio de Janeiro. É o caso do ex-presidente Lula, que indicou a presidenta Dilma, que era uma figura sem grande apelo nacional e foi eleita presidente na esteira da popularidade do Lula; e o caso do então vice-governador Pezão, também eleito na esteira da então popularidade do ex-governador Cabral. A população, naquele momento, confiou na indicação de dois políticos consolidados.
Hoje, é a mesma coisa com o prefeito da cidade, no segundo mandato.
E estas duas experiencias frustrantes fazem com o eleitor, hoje, tenha um grau de reflexão maior de quem escolhe para ser ou seu legislador ou gestor de sua cidade. Por isto, não há mais transferência de voto automática. Não adianta mais você fechar com tantos partidos, tantos vereadores e tantas lideranças políticas e não combinar com o eleitor.
O avanço da tecnologia (o celular, o smartphone, as ferramentas de rede social e aplicativos de mensagens) aproximou a informação do eleitor. O eleitor não precisa mais de um intermediário (do presidente da associação, do líder sindical, empresarial, de entidade estudantil) para chegar em um político.
O eleitor chega diretamente ao candidato; portanto, ele precisa ser convencido. Ele precisa ser convencido, através das ideias, da história que cada candidato representa; e não de cada apoio que cada candidato tem. O eleitor ganhou autonomia. E também quer autonomia do candidato que ele vai escolher.
Eu não acredito mais em transferência de voto automática; eu não acredito em apadrinhamentos, tanto da parte do prefeito como do governador, do presidente da República. Eu não acredito em transferência de voto automática.
Eu acredito na capacidade de reflexão da população de Niterói. Eu acredito que a população de Niterói é uma população inteligente, é uma população capaz – é uma população que fará um juízo de valor, com base no que cada candidato apresentar durante o processo eleitoral.
TP - Com uma forte polarização política do país, você acredita que o ambiente político nacional possa contaminar as eleições municipais, transformando o pleito numa espécie de plebiscito sobre o governo Bolsonaro?
Eu acho que nós estamos em uma eleição municipal: os temas que vão prevalecer na campanha são os temas da cidade. Não adianta a gente trazer o debate do governo Bolsonaro para Niterói. A gente precisa discutir os assuntos da nossa cidade; os assuntos que influenciem, diariamente, o cotidiano e a vida do niteroiense. E eu acho que a eleição, de maneira geral, vai servir, no Brasil, para a volta um pouco do equilíbrio. Justamente por ser ela em que os temas municipais sobressaem.
A gente vive um momento de muita estridência na política nacional. Isto se reflete, naturalmente, na população. Quem aprova Bolsonaro, aprova cegamente o governo; é incapaz de enxergar questões latentes de falhas no governo, como, por exemplo, a péssima política ambiental que o governo tem praticado.
E quem desaprova o Bolsonaro – e desaprova com muita ênfase – também é incapaz de reconhecer que, economicamente, o Brasil está voltando a caminhar; e que nós temos em um governo tido como um governo de direita a menor taxa de juros da história recente do país. Que o governo de esquerda do PT não conseguiu; que o governo socialdemocrata não conseguiu. E que este governo, que é liberal na economia, entrega à população uma taxa de juros baixíssima.
Não tenho dúvidas, está reaquecendo a economia. As pessoas estão voltando a comprar; o poder de compra está voltando; as pessoas estão voltando a investir. É claro que o Estado do Rio tem sentido um pouco menos, porque a crise aqui era muito profunda; mas o resto do Brasil já voltou a crescer. São Paulo teve um crescimento extraordinário neste ano: um pouco mais que o dobro [percentual] que o PIB nacional cresceu.
Então, falta um pouco de racionalidade ao debate nacional: a gente entender o que está dando certo; e a gente criticar o que está dando errado – deixando as nossas paixões partidárias e ideológicas de lado. Porque muitas das discussões ideológicas que a gente tem às vezes são semânticas.
Por exemplo, em Niterói, o problema que a gente tem é gravíssimo! A esquerda vai chamar de desigualdade (Niterói é uma cidade desigual); a direita vai dizer que é a pobreza da cidade (que ainda existe: nós ainda temos bolsões de pobreza). E, no final, é uma discussão semântica.
O problema é o mesmo; e a gente vai combatê-lo da mesma forma: com serviços públicos de qualidade nas áreas mais pobres da cidade; com uma educação pública de qualidade nas áreas mais pobres da cidade; e com geração de emprego e renda para que aquelas pessoas tenham uma qualidade de vida melhor.
Então, é evidente que o debate ideológico existe. Eu me considero uma pessoa de centro, com uma visão muito clara de quais são as atribuições do Estado. E o Estado que digo é o lato sensu: deve cuidar de educação, segurança, investimento em infraestrutura, saúde pública.
Mas me considero um liberal na economia. Acho que a carga tributária não pode impedir o cidadão de empreender; acho que a burocracia não pode impedir o cidadão de empreender. E acredito que a geração de emprego é existente na iniciativa privada; e não no poder público. Cabe ao poder público criar condições para que a iniciativa privada empreenda. Acredito muito na capacidade empreendedora do cidadão niteroiense. Isto é algo que falo muito no meu mandato; e que falarei muito na campanha.
TP - Você, embora jovem, vem de uma família com forte tradição política na cidade. Seu pai, o ex-deputado Sílvio Lessa, é até hoje uma referência política de Niterói. Como isso vem influenciando na sua trajetória política?
Bem, muita gente me questiona: “mas você é muito jovem…”. Eu tenho 29 anos. Às vezes, eu até brinco: não estou tão jovem assim. Quando me candidatei, aos 21 anos de idade, as pessoas achavam que eu não ia me eleger. Eu me elegi e acho que fiz um bom mandato na cidade, as pessoas reconhecem. A expressiva votação que a gente teve na reeleição é uma prova disto.
Eu busquei discutir muito a cidade, nestes sete anos. Muito. Busquei conhecer melhor Niterói e o niteroiense; entender o que funciona; entender os problemas; entender o orçamento, aonde tem recursos, o que falta; aonde a máquina é eficaz, aonde é inchada. E hoje me sinto qualificado a disputar e prefeitura e governar Niterói. Por isto é que sou pré-candidato.
Eu acredito que Niterói quer algo novo; quer mudança. Mas quer mudança com capacidade; quer mudança com conhecimento; quer mudança com ideia, com proposta – com condição de fazer e trabalhar pela cidade. Quer mudança com competência. E é por isto que sou pré-candidato a prefeito.
Falar sobre meu pai... Tenho por ele uma enorme admiração, pela história de vida dele. Não pela história política, necessariamente. Pela política, também. Meu pai tem 80 anos de idade, teve oito mandatos (mais ou menos dez por cento da vida dele), ocupou cargos eletivos. Meu pai tem uma história de vida de superação, de trabalho, de garra, que eu acho que reflete um pouco o que é a história da população de Niterói, como eu estava falando.
Meu pai saiu aos 13 anos de idade, em 1953, de uma cidade – de um distrito, na verdade, muito pequeno, de Santo Antônio de Pádua, chamado Paraoquena –, de uma família pobre de sete filhos. Ele foi o primeiro a vir para Niterói, para trabalhar, para estudar e, não tenho dúvida, para ser muito bem-sucedido na vida dele.
Estudou no colégio Liceu, foi bancário, fez faculdade de Direito, se formou advogado. Enquanto bancário, foi líder sindical influente – que, de fato, defendeu o trabalhador naquele momento. Teve um enfrentamento com a ditadura militar; foi do MDB. Enquanto deputado, foi um parlamentar relevante para o Estado, para a cidade de Niterói; sempre trazendo coisas importantes para a nossa cidade.
Depois, dedicou-se exclusivamente à advocacia, onde foi extremamente bem-sucedido. E, principalmente: meu pai é uma figura humana extraordinária – é o maior coração que já vi na vida: extremamente solidário; um pai extraordinário, criou a família muito bem; criou quatro filhos muito bem.
Então, a admiração que tenho por meu pai é gigantesca.
Sobre sua influência, a faculdade de Direito foi uma influência grande na minha vida de legislador – contribuiu muito. Em especial as aulas de Direito Constitucional, de Direito Administrativo. A UFF é uma grande instituição da Cidade. Eu tenho muito orgulho de ter estudado na Universidade Federal Fluminense, de ser advogado formado pela UFF.
Neste ano passado – quando vi que esse acirramento político do País apontou o canhão de críticas à Universidade Federal Fluminense – fiz questão, enquanto político de centro, com uma tendência econômica liberal, fazer uma defesa clara do que a UFF, enquanto instituição de ensino, instituição de pesquisa – instituição e patrimônio da cidade de Niterói - representa.
De fato, se eu optasse por ser candidato a vereador (é evidente que eleição e mineração somente depois da apuração), não sei se seria eleito. Mas eu acho que, hoje, eu teria uma boa possibilidade de ter uma boa votação.
Mas eu sempre fui movido a desafios. Nunca fui movido a comodismo; nunca fui uma pessoa acomodada. Acho que alternância no poder é fundamental; que a Câmara deve ser renovada. Que dois mandatos é um tempo de contribuição, no Legislativa.
Apesar de ter enorme respeito pelos meus colegas vereadores – apesar das diferenças ideológicas, políticas e de posicionamento – eu acho que quatro, cinco, seis, sete mandatos fazem mal à cidade. Quando um político está no mesmo cargo, ele para de pensar na população, e passa a pensar na sua própria reeleição. Então, ele não vota mais as matérias pensando em “o que isto vai gerar para a cidade?”. Ele vota pensando: “o que isto vai impactar no meu processo de reeleição?”.
Eu, particularmente, acho que dois mandatos são um bom período, no Legislativo. Sou contra a reeleição, apesar de que tenha sido feita pelo presidente Fernando Henrique (que é alguém do meu partido; alguém que admiro). Sou contra a reeleição: acho que a reeleição faz mal; acho que o preço da reeleição é um preço muito alto que o cidadão paga.
Boa noite, parabéns meu caro nobre Edíl, vc foi muito inteligente em dizer; que o importante para o agente público não é popularidade e sim o seu perfil e ser representativo em sua função e sou da mesma opinião ; Agora se vc e o Felipe Peixoto viessem juntos, eu vou te dizer; A possibilidade de serem eleitos era evidente, mas esta articulação fica a critério de ambos e desejo sucesso e conheço os trabalhos dos dois.Um abraço e que Deus ajude quem trabalha pela melhoria para a cidade sorriso.