Cônsul russo afirma que mundo unipolar ficará no passado
Por Luiz Augusto Erthal
Em discurso por ocasião das comemorações do Dia da Rússia (12 de junho), o cônsul-geral russo no Rio de Janeiro, Andrei Petrov, fez uma enfática defesa das transformações geopolíticas mundiais que vêm apontando, nos últimos anos, para o surgimento de uma nova ordem política e econômica global. Segundo ele, “o sistema unipolar de relações internacionais que dominou durante décadas esta a tornar-se uma coisa do passado, dando lugar à multipolaridade”.
Brasil e Rússia estão entre os quatro primeiros fundadores – junto com Índia e China – do bloco internacional conhecido como BRICS. O “s” final do acróstico, reunindo as letras iniciais dos nomes dos países sócios, foi acrescido depois, com o ingresso da África do Sul, sendo que, no ano passado, o bloco ganhou mais cinco integrantes. No entender do diplomata, essa nova ordem global se baseia “no respeito mutuo, na não interferência nos assuntos internos e na consideração mutua dos interesses de cada um”.
Petrov exaltou a amizade entre os dois países, ressaltando a posição do Brasil como um dos líderes do Sul Global. Ele também destacou o papel de “potência mundial independente” da Rússia, país que, ao longo dos seus 12 séculos de existência, “nunca se impôs a ninguém, nunca impôs a sua vontade”. No entanto, em uma clara resposta às manifestações russofóbicas reverberadas desde o início do conflito da Ucrânia em vários países ocidentais, Petrov deixou uma advertência:
“Qualquer tentativa de isolá-lo, ‘cancelá-lo’, ‘riscá-lo’ [ao povo russo] do mapa mundial esta fadada ao fracasso.”
Andrei Petrov e sua esposa abriram as portas, nesta quinta-feira (13/06), da residência oficial do cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro para uma recepção em homenagem ao dia nacional do seu país, que contou com a presença de dezenas de pessoas, entre artistas, intelectuais e outros representantes do corpo diplomático acreditado na atual capital fluminense, antiga sede da república brasileira.
A recepção no casarão localizado no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, contou com um recital de peças de Claude Debussy, Heitor Villa-Lobos e Claudio Santoro, com a participação da soprano Julia Félix e dos pianistas Maycon Marchete e Alex Davis, e curadoria de Rozaria Filgueiras. Esta foi a primeira de uma série de apresentações musicais que acontecerão naquele espaço, segundo anunciou o cônsul.
Leia, abaixo, a íntegra do discurso de Andrei Petrov no evento de comemoração do Dia da Rússia no Rio de Janeiro:
“Prezados Senhoras e Senhores,
Prezados compatriotas,
Prezados amigos,
E uma grande honra para mim dar as boas-vindas a todos vocês nesta recepção por ocasião do feriado nacional – o Dia da Rússia. Gostaria de parabenizar todos os meus compatriotas e agradecer a todos os convidados que vieram compartilhar a alegria desse evento conosco.
Ao longo dos 12 séculos de sua existência, o Estado Russo passou por muitas transformações, continuando a desenvolver-se e a fortalecer-se, apesar das tentativas de vários conquistadores para o destruir e desmembrar completamente.
Tornamo-nos uma civilização separada e distinta, com uma grande história e uma contribuição colossal para o desenvolvimento mundial, a ciência e a cultura de toda a humanidade.
A Rússia é um país único com um enorme potencial: humano, de recursos, tecnológico.
Também o nosso país é um elo entre a Europa e a Ásia, absorveu o melhor de ambas as partes e, ao mesmo tempo, estabeleceu-se como uma potência mundial independente.
Portanto, qualquer tentativa de isolá-lo, cancelá-lo, riscá-lo do mapa mundial esta fadada ao fracasso.
Ao contrário do axioma estabelecido na história mundial – “quem é mais forte e mais rico comanda” –, o povo russo nunca se impôs a ninguém, nunca impôs sua vontade. Mas, ao mesmo tempo, sempre respondemos de forma recíproca.
Hoje o mundo entrou numa fase de profundas transformações. O sistema unipolar de relações internacionais que dominou durante décadas está a tornar-se uma coisa do passado, dando lugar à multipolaridade. Esta nova realidade baseia-se no reconhecimento da igualdade das culturas e no respeito pelo direito de cada nação a escolher a sua própria via de desenvolvimento, identidade e valores.
As nossas relações mutuamente respeitosas com os países da Ásia, África e América Latina baseiam-se neste entendimento. É isso que une também a Rússia e o Brasil.
Por isso, hoje tenho a honra especial de representar aqui o meu país e celebrar o Dia da Rússia na companhia de amigos brasileiros. Valorizamos a nossa relação com o Brasil, considerando-o um dos nossos principais parceiros estratégicos no mundo.
Para nós, o Brasil é um dos líderes da maioria global, do Sul Global, e um dos líderes naturais da América Latina.
As nossas relações baseiam-se no respeito mútuo, na não interferência nos assuntos internos e na consideração mutua dos interesses de cada um. Estamos comprometidos com os princípios fundamentais da igualdade soberana dos Estados e da indivisibilidade da segurança. É este o objetivo da Rússia em escala mundial, não apenas para seu próprio bem, mas também para o bem comum.
Obrigado a todos pela atenção.”
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