Cartão corporativo: Bolsonaro torrou milhões em hotéis e sorvetes
A Secretaria-geral da Presidência da República divulgou, nesta quinta-feira (12/1), os gastos com o cartão corporativo na gestão de Jair Bolsonaro (PL). As informações 'sigilosas' do governo anterior foram disponibilizadas pela Fiquem Sabendo, agência de dados públicos especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI).

A prestação de contas, de forma transparente, sobre gastos do cartão corporativo foi negada durante o governo Bolsonaro sob o argumento de que a divulgação das informações poderiam colocar em risco a segurança do então presidente e de sua família. Mas o que as informações comprovam é que o ex-presidente usou o cartão corporativo para compras pessoais, mesmo recebendo salário acima dos 30 mil reais mensais.
Os gastos na gestão Bolsonaro somam R$27,6 milhões. Segundo reportagem no Estadão, ao todo, "constam no sistema 22 CPFs de servidores responsáveis pelas compras, mas apenas dois concentram a metade das notas fiscais. Dos 59 tipos de despesas feitas com o cartão, os gastos com hotelaria foram os que mais consumiram recursos. Pelo menos R$ 13,6 milhões foram desembolsados em hospedagem: muitas vezes em locais de luxo, contrariando o discurso adotado muitas vezes por Bolsonaro, que afirmava ser contrário a esbanjar dinheiro público quando é possível optar pela simplicidade".
O favorito de Bolsonaro foi o Ferraretto Hotel, no Guarujá, onde ele passou férias e feriados com a família. O estabelecimento recebeu R$ 1,46 milhão do ex-presidente.
A padaria carioca Santa Marta recebeu cerca de R$ 362 mil do cartão corporativo da presidência. Na véspera de uma motociata realizada no Rio de Janeiro, o ex-presidente gastou R$ 33 mil no local. Em outras motociatas, na Serra Gaúcha e em Porto Alegre, Bolsonaro gastou R$ 166 mil em alimentação, combustível e novamente hospedagem.
O ex-capitão também desembolsou cerca de R$ 8,6 mil em cinco sorveterias. No total foram feitas 62 compras. Jair Bolsonaro ainda gastou R$ 678 mil no La Palma, mercado da Asa Norte. As compras no estabelecimento perpassam todo o mandato do ex-presidente, o primeiro gasto aconteceu em 2 de janeiro de 2019, o último em 19 de dezembro de 2022 – foram 1.230 compras no mesmo lugar. O dono do La Palma se envolveu em polêmica em outubro do ano passado, quando uma cliente o acusou de xenofobia.

Uma despesa que chama atenção foi feita no Sabor da Casa, estabelecimento que fornece marmitas em Boa Vista, Roraima. Há uma nota de pagamento no valor de R$109 mil. Bolsonaro passou pelo estado quando foi verificar a situação de refugiados vindos da Venezuela. Mas não foi só essa nota. Há ainda dois outros pagamentos anteriores ao estabelecimento, em setembro do mesmo ano, nos valores de R$ 28 mil e R$ 14 mil.
O Sabor de Casa é um restaurante que oferece marmita nas versões econômica (R$ 17,00) e tradicional (R$ 23,00). Frango assado com farofa e baião, o “carro chefe” dos estabelecimento, é vendido a R$ 50. Com a quantia gasta por Bolsonaro seria possível comprar 6,4 mil marmitas econômicas, ou 4,7 mil marmitas tradicionais, ou até mesmo 2,1 mil encomendas do frango assado com farofa e baião.
A dona do restaurante, Roberta Rizzo, afirmou ao portal UOL que a equipe do ex-presidente pediu “almoço e uns kits de lanche para atender à equipe de segurança”. “Era um kit bem completo, com pão, queijo, presunto, fruta água e biscoito”, declarou.
Ela afirmou, no entanto, não lembrar do valor total da compra.
“Não lembro exatamente a quantidade, mas foi um serviço que entregamos direitinho e que seguiu o padrão de preços da cidade”, alega.
No entanto, uma publicação nas redes sociais em 26 de outubro de 2021, data em que a nota fiscal foi registrada, diz que o local foi fechado “em virtude de manutenções”.

Os gastos dos cartões corporativos da Presidência foram publicados pelo governo federal em 6 de janeiro. Dias depois, o Executivo respondeu a um pedido feito pela agência Fiquem Sabendo por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação).