Chanceler bolsonarista finalmente cai

Com sua permanência no Ministério das Relações Exteriores praticamente insustentável após mais uma crise política deflagrada por ele ao atacar publicamente a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ministro Ernesto Araújo pediu demissão nesta segunda-feira (29).
Antes de entregar o cargo ao presidente Jair Bolsonaro, a crise ameaçava se estender e dificultar ainda mais as relações do governo com o Congresso. Um grupo de senadores divulgou que apresentaria ao Supremo Tribunal Federal (STF) o pedido de impeachment do ministro bolsonarista e também ameaçava com a instalação da "CPI da Covid", que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) vem tentando evitar, a todo custo, para não desgastar ainda mais o presidente da República.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que Araújo cometeu crime de responsabilidade ao dificultar, com sua atuação, a importação de vacinas para combater a pandemia da Covid-19.
"Esse pedido de impeachment do chanceler Ernesto Araújo será apresentado junto ao STF. É a instituição que tem a competência para julgar crimes de responsabilidade de ministros de Estado. Vários senadores já estão subscrevendo esse pedido, diante da gravidade dos atos de Ernesto Araújo", disse o senador antes da confirmação da demissão de Araújo.
A pressão do meio político para Araújo deixar o cargo vinha crescendo a cada dia. Expoente da ala ideológica do governo e olavista (referência ao polemista ultraconservador e autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, guru ideológico dos bolsonaristas e avalista da nomeação de Araújo), o ministro foi apontado como um dos responsáveis pelo Brasil ter falhado para trazer vacinas contra a Covid-19 para salvar vidas. Chegou mesmo a ser acusado de sabotar a compra de vacinas. No último dia 17, ele declarou que o Brasil iria exportar vacinas, com prioridade para o Paraguai. Além disso, a postura dele de embate com países como a China foi considerada prejudicial para o Brasil, política e economicamente.
Na última quarta-feira (24), o presidente da Câmara, Arthur Lira, cobrou do ministro uma ação mais efetiva na busca por vacinas, enquanto o presidente do Senado exigiu de Bolsonaro uma mudança nas relações exteriores do Brasil. Neste mesmo dia, Ernesto ouviu de vários parlamentares pedidos para que deixasse o cargo: "saia", "renuncie", "chega" foram palavras ouvidas por Araújo durante mais de cinco horas de sabatina no Senado.
Na noite de domingo (28), ele foi às redes sociais para atacar a senadora Kátia Abreu, sugerindo que ela havia feito lobby para a China na questão do 5G no Brasil.
A declaração de Ernesto foi vista como desespero por senadores, uma tentativa de tirar o foco da pressão por sua demissão. Vários senadores prestaram solidariedade a Kátia Abreu, criticando o chanceler com palavras duras. O presidente do Senado falou em desserviço ao país. A senadora chamou Ernesto de "marginal".