Clã Bolsonaro pagou metade do patrimônio em dinheiro vivo
Atualizado: 31 de ago. de 2022
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Desde quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) ingressou na política como deputado na década de 90 até os dias de hoje, o patrimônio de sua família experimentou um "milagre" da multiplicação. Nessas três décadas, o clã Bolsonaro negociou nada menos que 107 imóveis. Quase metade (51 imóveis) - entre lojas, terremos, mansões e casas diversas - foi comprada com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã. As informações são do UOL.
Foram registrados em cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, o valor equivale hoje a R$ 25,6 milhões.
Até o fim dos anos 90, o gasto da família Bolsonaro com imóveis somava R$ 567,5 mil (R$ 1,9 milhão em valores atualizados). "Os 56 endereços que seguem registrados, nos dias atuais, em nome da família custaram R$ 18,8 milhões (ou R$ 26,2 milhões, corrigidos pelo IPCA)".
Casado com Maria Denise, o cunhado de Bolsonaro, José Orestes Fonseca, por exemplo, comprou uma mansão em um terreno de quase 20 mil metros quadrados na região central de Cajati, no interior paulista. Os R$ 2,67 milhões (equivalentes a R$ 3,47 milhões atualmente, em valores corrigidos pelo IPCA) foram pagos com dinheiro em espécie. No local, foi construído um clube de tiro - não registrado.
Não consta nos documentos de compra e venda a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram valores de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos). Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).
A reportagem minuciosa do UOL, dos jornalistas Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, aponta que pelo menos 25 dos imóveis foram comprados em situações que suscitaram investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
Neste grupo, estão aquisições e vendas feitas pelo núcleo do presidente, seus filhos e suas ex-mulheres não necessariamente com o uso de dinheiro vivo, mas que se tornaram objeto de investigações como no caso das "rachadinhas". Os filhos Flávio e Carlos Bolsonaro, além da segunda mulher de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, são investigados desde 2018, por suspeita de envolvimento com o repasse ilegal de salários dos funcionários de gabinetes. Os assessores, quase todos funcionários fantasmas, sacavam em espécie os salários e entregavam a operadores cerca de 90% do total recebido. As investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) descobriram que esses valores eram "lavados" posteriormente com compras de imóveis. Parte de provas produzidas durante a apuração foram anuladas recentemente pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas as investigações continuam em curso. No caso de Carlos, o sigilo bancário foi quebrado por suspeitas também de rachadinhas.
A mãe de Bolsonaro, dona Olinda, falecida em janeiro deste ano, aos 94 anos, teve dois imóveis adquiridos em seu nome e quitados em espécie, em 2008 e 2009, em Miracatu, no interior de São Paulo.
O levantamento, que consumiu sete meses de consultas a 270 documentos requeridos a cartórios de imóveis e registros de escritura em 16 municípios, levou em conta o patrimônio construído no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília pelo presidente, seus três filhos mais velhos, mãe, cinco irmãos e duas ex-mulheres.
O presidente Bolsonaro, citado pelo UOL, se irritou nesta terça-feira ao ser questionado sobre a multiplicação de patrimônio do clã e disse que não vê nenhum problema em comprar 51 imóveis em dinheiro vivo. "Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel, eu não sei o que está escrito na matéria... Qual é o problema?", disse, após participar de um encontro promovido pela União Nacional do Comércio e dos Serviços, em Brasília.
Oposição critica: 'Até a mãe'
Políticos de oposição e influenciadores, como o youtuber Felipe Neto, se manifestaram pelas redes sociais com críticas às compras de imóveis feitas com dinheiro vivo por Bolsonaro e seus familiares.
O candidato a deputado federal, Guilherme Boulos (PSOL-SP), por exemplo, questionou: "Responda sinceramente: você conhece alguém que compra um imóvel com dinheiro vivo? Ou só a família Bolsonaro, que comprou 51 imóveis com 135 mil notas de 100 reais?", publicou. "É a República da rachadinha, da lavagem de dinheiro e da milícia!", afirmou Boulos em outro post.
Felipe Neto indagou os bolsonaristas: "Olá fãs do Bolsonaro, o que dizem disso? 51 imóveis comprados em dinheiro vivo. O Lula foi preso por 1 apartamento q nunca conseguiram provar q era dele. CINQUENTA E UM IMÓVEIS COMPRADOS COM MALETAS DE DINHEIRO VIVO!!!".
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) destacou que até a mãe do presidente, falecida em janeiro deste ano, aos 94 anos, teve imóveis quitados em espécie. "Até a mãe do Bolsonaro está envolvida em imóveis com suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção", publicou no Twitter.