Datena não se arrepende de cadeirada em Marçal: 'Claro que não', diz
Depois de agredir o candidato de extrema direita Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeirada, o também postulante à prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), justificou sua atitude e reafirmou que não se arrependeu de sua postura. "Claro que não", disse enfaticamente ao ser questionado em uma entrevista dada logo após o incidente.
Segundo Datena, a sua motivação para o confronto foi devido às "acusações falsas" feitas por Marçal sobre suposto crime de assédio sexual que teria sido cometido por ele. O candidato afirmou que essas acusações afetaram gravemente sua família, especialmente sua sogra, que faleceu após uma série de problemas de saúde, agravados pelo estresse gerado pelas acusações.
"A minha sogra morreu depois dessas acusações... ela teve três AVCs e morreu muito por causa disso", disse Datena, visivelmente abalado. "Achei que devia uma satisfação a ela por ter sido acusado por um canalha desse", acrescentou.
Nesta segunda-feira, em nota enviada à imprensa, o apresentador informou que se mantém candidato.
“Continuarei a disputa pela prefeitura de São Paulo para realizar meu sonho de fazer de São Paulo uma cidade melhor, que ofereça uma vida digna aos que mais precisam. E também para defender a nossa democracia ameaçada por figuras como Pablo Marçal que querem o obscurantismo e não o bem da cidade e de sua população”, disse Datena.
Ele ainda afirmou que se tornou “difícil” não usar a violência “quando os limites de civilidade são rompidos e corrompidos por um oponente”. Datena disse ainda que Marçal precisava ser parado por atos.
“Pablo Marçal demonstrou, em todas as situações a que teve oportunidade, sua falta de caráter. Demonstrou, ainda, que é uma ameaça à cidade de São Paulo. Será detido no voto. Mas, a despeito disso, precisava também ser contido com atos. Foi o que eu fiz”, disse.
"Errei, mas de forma alguma me arrependo", reafirmou. "Preferia, sinceramente, que o episódio não tivesse ocorrido. Mas, fossem as mesmas as circunstâncias, não deixaria de repetir o gesto, resposta extrema a um histórico de agressões perpetradas a mim e a muitos outros por meu adversário."
'Traumatismo' no tórax e punho, 'sem maiores complicações'
De acordo com o boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, onde o influenciador e candidato foi socorrido na capital paulista, Pablo Marçal apresentou "traumatismo na região do tórax à direita e em punho direito, sem maiores complicações associadas". Logo após receber alta na manhã desta segunda-feira (16), o candidato fez uma live em seu perfil em uma rede social, na qual afirmou que "segue o jogo, foi só um esbarrão, uma fraturazinha aqui na costela". No entanto, reforçou a tese de que a agressão foi uma tentativa de assassinato - comparando a Jair Bolsonaro e Donald Trump -, e disse que, se tivesse reagido da mesma forma, estaria preso,.
Conforme reportagem da Folha de São Paulo, Marçal inicialmente indicou que deixaria o debate, mas logo em seguida disse que iria continuar. O mediador Leão Serva expulsou Datena e afirmou que Marçal estava se retirando por vontade própria, o que foi prontamente contestado pelo candidato, que alegou ter sido agredido. Marçal chegou a confirmar que permaneceria no debate, mas após nova avaliação da situação com sua assessoria, decidiu sair.
A agressão também foi explorada em suas redes sociais, com vídeos do seu deslocamento de ambulância, o que reforçou sua estratégia de se apresentar como vítima de uma perseguição política.
Ainda segundo a Folha, imagens feitas no estúdio após a agressão mostram que Marçal seguiu de pé e fez provocações a Datena. "O candidato do PRTB deixou o local caminhando e, segundo sua assessoria, chegou a entrar em seu carro para ir ao hospital, mas depois optou pela ambulância que estava à disposição no teatro".
O debate
Neste domingo (15), a TV Cultura realizou debate com os seis candidatos mais bem colocados nas pesquisas para a prefeitura de São Paulo (SP). Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Marina Helena (Novo), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) marcaram presença no evento que teve início às 22h00, no Teatro B32, na Avenida Brigadeiro Faria Lima.
O evento, sem plateia e jornalistas, com restrições rigorosas, visa conter comportamentos inadequados observados em debates anteriores, especialmente de Marçal.
Regras como proibição de celulares, palavrões e propaganda política foram estabelecidas, e os candidatos podem ser expulsos após três advertências. Segundo a última pesquisa Datafolha, há um empate técnico entre Nunes, Boulos e Marçal.
No segundo bloco do debate, Marçal acusou Datena de assédio sexual, após ele se recusar a fazer uma pergunta ao empresário goiano. Posteriormente, no quarto bloco, ele provocou o apresentador, que o agrediu com uma cadeirada no ombro.
Datena foi expulso do debate, enquanto Marçal optou por sair para ter atendimento médico. O caso de assédio citado remonta a 2019, quando uma repórter alegou ter sido assediada por Datena, mas o jornalista afirmou que o processo foi arquivado e que a acusação foi posteriormente retratada.
Boulos, Tabata Amaral e Marina Helena lamentaram o episódio de violência que ocorreu no estúdio logo após o debate ter sido retomado.
Antes de partir para a agressão, Datena havia afirmado que não responderia às provocações de Marçal após um confronto no último debate. Ele ressaltou que a emoção demonstrada em uma sabatina recente revelou seu lado humano e reiterou que não desistirá de sua campanha, apesar de dificuldades.
Ataques e mentiras
A troca de acusações marcou um dos momentos mais tensos do debate à prefeitura da maior cidade da América do Sul, que também teve embates entre Nunes e Boulos sobre legalização das drogas e falhas na gestão da saúde.
Antes do debate, Boulos disse estar preparado para discutir propostas e lamentou que alguns adversários recorram a ataques e mentiras, mas declarou que não ficará calado diante dessas situações. Segundo ele, "nenhuma mentira ficará sem resposta".
Marçal declarou ter expectativa "zero" e criticou mudanças na organização. Ele acusou a existência de um "consórcio comunista", inexistente, que estaria comprometido em impedir sua candidatura. Ele também fez comentários ofensivos ao prefeito Ricardo Nunes e, sobre críticas do pastor Silas Malafaia, afirmou que o religioso está apenas revelando seu verdadeiro caráter.
Nunes declarou que, embora seja o mais atacado nos debates, isso não tem impactado negativamente sua campanha, já que sua rejeição é menor que a dos adversários. Ele criticou, de maneira indireta, Guilherme Boulos e Pablo Marçal, afirmando que o debate não deveria ser transformado em "espetáculo" e sim em um espaço democrático.
Tabata Amaral expressou expectativa de que as regras do debate sejam respeitadas e comentou com humor o apelido "Chatabata", dado por Pablo Marçal. Ela ironizou as acusações do adversário, afirmando que, se esse é o pior ataque contra ela, o debate está sendo levado a sério demais.
Por fim, Marina Helena destacou que o debate era uma oportunidade importante para se tornar mais conhecida, agradecendo à emissora pelo convite, já que sua presença não era obrigatória pela legislação eleitoral. Ela afirmou que participará de outros debates previstos na semana.
As eleições municipais no Brasil acontecem no dia 6 de outubro.
Com a Sputnik Brasil
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