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De Nobel para Nobel: Esquivel desqualifica o prêmio de Corina


Adolfo Esquivel, durante visita ao acampamento pela libertação de Lula em Curitiba (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Adolfo Esquivel, durante visita ao acampamento pela libertação de Lula em Curitiba (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Em carta aberta divulgada nesta segunda-feira, 13, o ativista argentino pelos direitos humanos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, desqualificou a concessão do mesmo título à oposicionista venezuelana Maria Corina, conforme anúncio feito no fim de semana pela Academia de Estocolmo. Entre as várias contradições apontadas por Esquivel para a premiação está, principalmente, o fato de Corina incitar a invasão do seu próprio país pelos Estados Unidos, que enviaram recentemente uma frota armada para as costas da Venezuela, a ponto de dedicar esse estranho Nobel da Paz ao presidente norte-americano, Donald Trump.

Leia a carta na íntegra:


"De Nobel para Nobel - Carta aberta a Maria Corina Machado:


Envio-lhe as saudações de Paz e Bem que a humanidade e os povos que vivem na pobreza, no conflito, na guerra e na fome tão desesperadamente necessitam. Esta carta aberta é para expressar sua gratidão e compartilhar algumas reflexões.

Fiquei surpreso com sua designação como Prêmio Nobel da Paz pelo Comitê Nobel. Isso me fez lembrar das lutas contra as ditaduras no continente e em meu país sob ditaduras militares que suportamos de 1976 a 1983 e resistimos às prisões, à tortura e ao exílio com milhares de pessoas desaparecidas, crianças sequestradas e desaparecidas e os voos da morte dos quais sou um sobrevivente.

Em 1980, o Comitê Nobel me concedeu o Prêmio Nobel da Paz. 45 anos se passaram e continuamos trabalhando a serviço dos mais pobres e ao lado dos povos latino-americanos. Em nome de todos eles, assumi esta alta distinção, não pelo Prêmio em si, mas pelo compromisso ao lado dos povos compartilhando as lutas e esperanças para construir um novo amanhecer. A paz se constrói dia a dia, e devemos ser coerentes entre palavras e ações.

Aos 94 anos, continuo aprendendo com a vida e me preocupo com sua postura e suas decisões sociais e políticas. Por isso, envio estas reflexões.

O governo venezuelano é uma democracia com seus altos e baixos. Hugo Chávez abriu caminho para a liberdade e a soberania do povo e lutou pela unidade continental; foi um despertar da Pátria Grande. Os Estados Unidos a atacaram constantemente; não podem permitir que nenhum país do continente escape de sua órbita e dependência colonial; continuam a sustentar que a América Latina é seu "quintal". O bloqueio americano a Cuba há mais de 60 anos é um atentado à liberdade e aos direitos do povo. A resistência do povo cubano é um exemplo de dignidade e força.

Estou surpreso com o quanto você se apega aos Estados Unidos, e você deve saber que eles não têm aliados nem amigos, apenas interesses. As ditaduras impostas na América Latina foram instrumentalizadas por seus interesses de dominação, destruindo a vida e a organização social, cultural e política dos povos que lutam por sua liberdade e autodeterminação. Nós, o povo, resistimos e lutamos pelo direito de sermos livres e soberanos, não uma colônia dos Estados Unidos.

O governo de Nicolás Maduro vive sob a ameaça dos Estados Unidos e do bloqueio. Basta considerar as forças navais no Caribe e o perigo de invasão do seu país. Vocês não disseram uma palavra, ou apoiam a interferência desta grande potência contra a Venezuela. O povo venezuelano está pronto para enfrentar essa ameaça.

Corina, pergunto-lhe. Por que você pediu aos EUA que invadissem a Venezuela? - Quando recebeu o anúncio de que receberia o Prêmio Nobel da Paz, você o dedicou a Trump. O agressor do seu país, mentindo e acusando a Venezuela de narcotráfico, uma mentira semelhante à de George Bush, que acusou Saddam Hussein de possuir "armas de destruição em massa". Um pretexto para invadir o Iraque e saqueá-lo, causando milhares de vítimas, mulheres e crianças. Eu estava em Bagdá no final da guerra, no hospital pediátrico, e vi a destruição e as mortes causadas por aqueles que se proclamam defensores da liberdade. A pior forma de violência é a mentira.

Não se esqueça, Corina, que o Panamá foi invadido pelos EUA, causando morte e destruição para capturar um antigo aliado, o General Noriega. A invasão deixou 1.200 mortos em Los Chorrillos. Hoje, os EUA tentam tomar novamente o Canal do Panamá. É uma longa lista de intervenções e sofrimento na América Latina e no mundo por parte dos EUA. As veias da América Latina continuam abertas, como diz Eduardo Galiano.

Preocupa-me que você não tenha dedicado o Prêmio Nobel ao seu povo, mas sim ao agressor da Venezuela. Acredito, Corina, que você precisa analisar e saber onde se posiciona, se você é apenas mais uma peça do sistema colonial estadunidense, sujeita aos seus interesses de dominação, que nunca poderão ser para o bem do seu povo. Como opositora do governo Maduro, suas posições e opções geram muita incerteza. Você recorre ao pior quando pede que os EUA invadam a Venezuela.

O importante a ter em mente é que construir a paz exige muita força e coragem para o bem do seu povo, que eu conheço e amo profundamente. Onde antes havia barracos nas montanhas sobrevivendo na pobreza e na miséria, hoje há moradia digna, saúde, educação e cultura. A dignidade do povo não se compra nem se vende.

Corina, como diz o poeta: "Caminhante, não há caminho, o caminho se faz caminhando". Agora você tem a oportunidade de trabalhar pelo seu povo e construir a paz, não de provocar mais violência. Um mal não se resolve com outro mal maior. Teremos apenas dois males e nunca uma solução para o conflito.

Abra sua mente e seu coração ao diálogo, ao encontro com seu povo, esvazie o jarro da violência e construa a paz e a unidade entre seus povos para que a luz da liberdade e da igualdade possa entrar."

Adolfo Pérez Esquivel

 
 
 

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