Defesa usou R$ 150 milhões do SUS para conserto de aviões
O Ministério da Defesa gastou mais de R$ 150 milhões em verbas do SUS com despesas que não têm nada a ver com a saúde pública, como o conserto de aeronaves e a compra de equipamentos para escritórios das Forças Armadas no exterior.
As informações constam em documento divulgado pela Comissão de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão que reúne representantes da sociedade civil e do poder público, e foram reveladas pelo portal Brasil de Fato nesta terça-feira (19).
De acordo com reportagem de Paulo Motoryn, o documento aponta que a Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington, nos Estados Unidos, gastou R$ 61 milhões com itens ligados ao reparo ou a suprimentos de aviação. O Centro de Aquisições Específicas do Ministério da Defesa utilizou cerca de R$ 49 milhões do Ministério da Saúde com manutenção, reparo e combustível para aeronaves. Enquanto a Comissão Aeronáutica Brasileira na Europa gastou R$ 25 milhões com o mesmo tipo de despesa.
Números levantados na plataforma SigaBrasil mostram a explosão de verbas do SUS para a Defesa. O órgão fica atrás apenas do Ministério da Educação, que conta com uma rede de hospitais universitários pelo país. No mesmo período, no entanto, houve queda nas verbas recebidas pelo MEC.
Em 2019, o valor anual de verbas do SUS direcionadas à saúde dos militares foi a R$ 350 milhões. Dois anos depois, em 2021, a cifra chegou a R$ 355 milhões, quebrando novamente o recorde da série histórica, de 2013 a 2021. O governo Bolsonaro dedicou, em média, R$ 325 milhões por ano ao Ministério da Defesa.
Durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), a média anual do uso de recursos do SUS pelos militares era de R$ 88 milhões, considerando o período analisado. A partir do governo golpista de Michel Temer (MDB), o valor já havia dado um salto, com média de R$ 245,5 milhões anuais.
O acúmulo de notícias negativas envolvendo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa no governo Jair Bolsonaro (PL) parece crescer na medida do aumento de recursos destinados aos militares. As recentes notícias mostram que, além do crescimento de recursos do SUS para as Forças Armadas, tem havido também compras milionárias de Viagra e próteses penianas, além de filé mignon, picanha, salmão e bacalhau.
O estudo foi produzido por dois consultores técnicos da Comissão de Orçamento e Financiamento do CNS, os economistas Francisco Funcia, vice-presidente na Associação Brasileira de Economia da Saúde, e Rodrigo Benevides, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
"Nós estamos colocando isso porque tem lá despesas com combustíveis de aeronaves de unidades militares no exterior. Tem gastos que eram para o combate à covid-19, por exemplo, que foram para peças e equipamentos para aeronaves, e até para escritórios e estruturas de comandos militares que estão sediados no exterior. A gente observa, inclusive, o crescimento que vem tendo a descentralização de gastos com saúde sendo realizadas pelo Ministério da Defesa. O boletim tem um gráfico que mostra isso", disse Francisco Funcia à reportagem.
Outro lado
O Ministério da Defesa não respondeu à reportagem sobre os gastos "suspeitos" denunciados pela comissão do CNS.
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