Demissões em massa e saldo de 11 mortos: a crise dos rodoviários de Niterói
O Sindicato do Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) divulgou em nota que 11 trabalhadores da categoria, moradores da região de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, morreram em decorrência de covid-19. A mesma nota confirma a demissão em massa de 2 mil trabalhadores da empresa 1001, conforme antecipado pelo TODA PALAVRA em 12 de maio.
A nota do Sintronac chama atenção da sociedade para a crise do setor e os riscos a que os rodoviários estão sendo submetidos em plena pandemia por falta de melhores condições de trabalho. Leia a íntegra da nota, assinada pelo presidente do sindicato, Rubens Oliveira:
"O Sindicato dos Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac) comunica, com profundo pesar, que, até esta terça-feira (26/5), teve conhecimento de 11 mortes de profissionais do setor, entre motoristas e despachantes, vítimas do Covid-19. Todos trabalhavam e moravam nas cidades de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.
Diante da gravidade da pandemia e de seu avanço devastador pelos municípios de atuação do sindicato, o Sintronac iniciou, na segunda-feira (25/5), uma ampla ação de fiscalização em terminais e pontos finais de ônibus para assegurar que todos os rodoviários estejam usando EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), como máscara e álcool em gel. Também anotará e comunicará às autoridades de segurança os casos em que passageiros não estejam utilizando os equipamentos, em conformidade com as determinações das autoridades municipais.
Em outro pólo de ação sindical, o Sintronac alerta as autoridades públicas federal, estadual e municipais sobre o colapso econômico do setor de transporte rodoviário de passageiros, que já originou a demissão de mais de 2 mil trabalhadores apenas em maio. Até agora, foram 1,2 mil só na Viação 1001, uma das maiores empresas do setor no País, mas que, no Rio de Janeiro, teve suas operações interestaduais e intermunicipais totalmente suspensas por conta da restrição da circulação dos coletivos determinada pelos governos. Outras, como a Coesa e a Rio Ita, seguem pelo mesmo caminho, com ameaças de demissões e encerramento de linhas intermunicipais.
Em Niterói, o Sintronac tomou conhecimento da suspensão das operações de pelo menos uma linha municipal, a 43 (Fonseca-Centro), da Viação Ingá. Ainda neste município, a Brasília, que possuiu seis linhas, não efetuou o pagamento dos funcionários de março. A perspectiva é que, em junho, as empresas cortem totalmente os benefícios rodoviários, como as cestas básicas, e parem de pagar os 30% dos salários, valor fixado em acordo coletivo, assinado no início de abril entre o Sintronac e o sindicato patronal. Esse valor corresponde ao trabalho por revezamento em escala e que, somado ao auxílio emergencial do Governo Federal, garante uma fonte de renda mínima para os trabalhadores e seus familiares durante a duração da pandemia, ao mesmo tempo que impede demissões em massa.
O Sintronac lamenta que um setor considerado essencial para a sociedade, como o de transporte rodoviário de passageiros, seja esquecido pelo poder público diante de um quadro econômico tão grave como este provocado pela pandemia, quando outras áreas recebem apoio emergencial e outros benefícios. O colapso total do sistema, que já pode ser enxergado a curtíssimo prazo, havia sido comunicado aos governos em março, tanto pelos sindicatos de trabalhadores e Centrais Sindicais, quanto pelas entidades representativas das empresas. Contudo, nada foi feito, nenhum canal de diálogo foi aberto e, infelizmente, esse descaso para com o setor irá refletir na população, que ficará sem o principal meio de transporte de massa nos centros urbanos.
É preciso refletir a quem interessa esse colapso no sistema de transporte rodoviário de passageiros e quais os motivos dessa imobilidade do poder público para com um setor que, até abril, empregava mais de 18 mil profissionais só na área de atuação do Sintronac. Em todo estado do Rio de Janeiro, esse número chegava a 87 mil. Ao contrário, os governos ainda devem milhões às empresas de ônibus, dinheiro que amenizaria a crise no setor. O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, em março, tinha uma dívida de R$ 233 milhões com as companhias. Os municípios, ao menos os da base sindical do Sintronac, não fizeram este ano – e alguns deles nunca o fizeram – o repasse das gratuidades das passagens relativas a estudantes, idosos e deficientes, à exceção de Niterói.
O Sintronac, portanto, vem a público expor o panorama sinistro, em que hoje vive o trabalhador rodoviário, e vê com extrema preocupação o futuro que se apresenta. Lembra que a categoria é formada por profissionais altamente especializados, cujo compromisso em transportar com segurança e conforto vidas humanas é cumprido diariamente, mesmo sob intensa carga de estresse provocada pelo cotidiano caótico dos centros urbanos e pela onda de violência incontrolável que ameaça a todos. Por isso, merece uma atenção maior das autoridades públicas".
Rubens dos Santos Oliveira,
presidente do Sintronac
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