Dengue: América do Sul acumula 1,7 milhão de casos, a maioria no Brasil
Dados são do último boletim divulgado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e mostram ainda a confirmação de 422 mortes. Só a América do Sul concentra mais de 1,7 milhão de casos. Segundo especialistas, a ameaça do vírus deve seguir na região.
Só no Brasil, país mais afetado do continente pela doença, nove estados já decretaram situação de emergência e a campanha de vacinação segue em curso. Já no Peru, 20 dos 24 departamentos declararam emergência sanitária por conta da doença, que também fez crescer o número de casos na Argentina.
De acordo com o último Boletim Epidemiológico Nacional publicado pelo Ministério da Saúde argentino, foram notificados 78.606 casos de dengue, 18 vezes mais do que no mesmo período de 2023, quando foram registrados 4.317 casos. Foram confirmadas 363 mortes por dengue no Brasil em 2024.
No Uruguai há circulação viral da doença, embora o país ainda registre poucos casos e nenhuma morte, enquanto as autoridades equatorianas relataram que, até agora, houve mais do que o dobro de contágios na comparação com o mesmo período de 2023.
De acordo com os últimos dados da OPAS, foram registrados 1,87 milhão de casos suspeitos nas Américas, um aumento de 249% quando comparado ao mesmo período de 2023. Já com relação à média dos últimos cinco anos, a alta é de 354%. Além disso, foram registradas 422 mortes na região.
"O que estamos vendo em algumas áreas é que há presença de casos durante todo o ano. Então não há essa queda de casos e depois eles voltam a aparecer, mas temos uma circulação permanente de casos, digamos, endêmicos", explicou à Sputnik Sandra Tirado, ex-vice-ministra da Saúde da Argentina.
A dengue, uma doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, aparece principalmente nos meses quentes, mas o comportamento atual do clima tem alterado padrões. Segundo especialistas em doenças tropicais, o aumento da temperatura devido às mudanças climáticas, com alterações nas estações de chuva e seca, tem efeitos diretos sobre as populações de mosquitos.
O Aedes aegypti não está acostumado a temperaturas baixas, mas na América Latina tem havido uma mudança em sua resistência, de acordo com Tirado.
"Antes, com determinada temperatura, não havia a presença do mosquito, e agora estamos vendo que ele também está se acostumando a temperaturas um pouco mais baixas […]. Tem a ver com quais áreas, talvez subtropicais, estão se comportando mais como áreas tropicais, e isso faz com que o vetor permaneça o tempo todo […]. é por isso que temos casos permanentemente, então não há essa queda no inverno", explicou a ex-funcionária.
O fenômeno climático El Niño ainda tem causado mais chuvas e inundações, além de temperaturas mais altas em parte do continente nos últimos meses, características essenciais para a reprodução do mosquito.
Brasil concentra mais de 1,3 milhão de casos
O Brasil tem mais de 1,3 milhão de casos suspeitos até o momento este ano, de acordo com os últimos dados publicados pelo Ministério da Saúde. Além disso, foram registradas 363 mortes e outras quase mil estão sendo investigadas. Os estados com mais registros são Minas Gerais (464.223), São Paulo (238.993), Paraná (128.247) e Distrito Federal (122.348).
O governo federal lançou uma campanha de imunização para crianças e pré-adolescentes, mas a resposta tem sido lenta.
No Peru, em apenas dois meses, os casos quase triplicaram em relação ao ano passado. Mais de 46 mil pessoas foram diagnosticadas com dengue e 53 morreram, contra 25 em todo o ano de 2023. O Centro de Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (CDC) do Peru disse no início do mês que a epidemia de dengue poderia se estender até junho devido às altas temperaturas que persistem até depois do verão.
As autoridades de toda a região solicitaram à população para redobrar os cuidados, já que embora a doença não seja transmitida de pessoa para pessoa, é contagiosa se um mosquito picar alguém que tenha o vírus no sangue e depois picar outra pessoa.
Além disso, como o vírus tem diferentes sorotipos, existe a possibilidade de formas mais graves, como a hemorrágica.
O mosquito não voa longe do criadouro. Por isso, é necessário eliminar todos os locais onde pode se desenvolver dentro e fora de casa. Além disso, o Aedes aegypti não transmite apenas dengue, mas uma série de doenças com graves efeitos ou potencialmente mortais.
"Este mosquito, este vetor, não só transmite dengue, mas também zika, chikungunya, que embora não tenhamos agora circulação, também estão presentes essas outras doenças que são similares. Temos que pensar que estamos numa situação de mudança climática e que essas doenças estão presentes e continuarão a estar", concluiu Tirado.
Fonte: Agência Sputnik
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