Desabastecimento e inflação voltam a preocupar brasileiros
Em junho, um levantamento feito pelo engenheiro agrônomo Gerson Teixeira, ex-presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), alertou para a possibilidade de uma crise no abastecimento. Os estoques médios de alguns alimentos já estavam abaixo do índice de segurança alimentar, que é de 20% do consumo anual. A pesquisa se baseou em dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras instituições.
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Na época, o estoque de arroz era de 21,5 mil toneladas, quantidade menor do que o consumo do produto em apenas um dia no país. O estoque de milho, verificados no período entre janeiro e maio, era de 256,5 mil toneladas, o equivalente a um dia e meio do consumo nacional, que é de 61,5 milhões de toneladas.
O trigo, matéria-prima para a fabricação de pães e outros produtos básicos na alimentação do brasileiro, apresentou estoque médio de 1,5 mil toneladas entre janeiro e maio, índice que precisaria ser ampliado 21 vezes para garantir um dia de consumo.
A farinha de mandioca, base alimentar de muitas famílias, apresentou média de 196 toneladas nos cinco primeiros meses de 2020, enquanto o consumo nacional ultrapassa os 8 milhões ao ano. O índice é 119 vezes menor do que um dia de consumo. E o feijão, um dos alimentos mais populares no prato dos brasileiros, tinha reserva de 160 toneladas. O patamar teria que aumentar 53 vezes para atingir um dia de consumo do país.
Além do risco de desabastecimento, a falta de estoques causa inflação no preço dos alimentos em geral. Dados do IBGE mostram que, nos primeiros quatro meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) apresentou variação de 0,22% e o índice que trata da “alimentação no domicílio” saltou 3,94%, o que representa 18 vezes mais que o índice geral.
Os investimentos em monoculturas, privilegiando os grandes produtores, deixa grande parte dos agricultores menores sem subsídios. Para se ter ideia, em 2019, a produção de soja consumiu mais de 49% dos R$ 61,8 bilhões do crédito rural, destinado às lavouras de todo o país. Os empresários da soja também ficaram com 42% do Programa de Fortalecimento de Agricultura Familiar (Pronaf), criado para apoiar pequenos plantadores de produtos variados consumidos pelos brasileiros.
Com o Brasil de volta ao Mapa da Fome, o aumento nos preços dos produtos da cesta básica é resultado não apenas das distorções na aplicação de créditos e incentivos do governo, mas também da falta de investimentos em programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), que compra produtos da agricultura familiar, e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que igualmente compra alimentos dos pequenos agricultores para a merenda de estudantes da rede pública de ensino.