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Dieese: disparada dos preços escancara a crise social


(Foto: Helena Pontes/Agência IBGE Notícia)

Por Rosely Rocha, da CUT

Está cada vez mais difícil para o trabalhador e a trabalhadora colocar um prato cheio de comida à mesa de suas famílias. O motivo é a disparada de preços dos alimentos que só este ano acumularam mais de 20%; do gás de cozinha, que registrou variação de reajustes de 15% a 20%, dependendo da região do país, aliado ao fechamento de armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e ao fim da política de valorização do salário mínimo, uma das primeiras decisões de Jair Bolsonaro (ex-PSL) quando assumiu o governo.

É o que mostra o Boletim Especial de 1º de Maio do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que traz ainda dados sobre emprego e renda mostrando que desde o golpe de 2016 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), só aumentou a perda de renda dos trabalhadores, aumentou a precarização e o número de pessoas desalentadas, sem oportunidades de trabalho, e que a pandemia do novo coronavírus só escancarou a tragédia social, não sendo sozinha a responsável pela crise econômica.

“Todo mês os trabalhadores perdem R$ 13 bilhões em rendimentos salariais que poderiam ir para o consumo. Sem dinheiro e com os custos da alimentação em alta, tudo conspira contra a grande massa de trabalhadores do país”, diz Gustavo Monteiro, economista e um dos técnicos do Dieese que elaborou o boletim especial de 1º de Maio.

No levantamento do Dieese, com o fim da política de valorização do salário mínimo ,como já era esperado, mal dá para comprar os alimentos básicos. Com o aumento dos preços dos alimentos no último ano, o salário mínimo (R$ 1.100), perdeu poder de compra. Em algumas das 17 capitais brasileiras, conforme a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Dieese mais da metade do salário mínimo em vigor tem sido gasto com a compra dos alimentos essenciais necessários para uma pessoa adulta durante um mês.

A política de valorização do salário mínimo ocorreu de 2004 a 2018, durante os governos Lula e Dilma, ambos do PT. Ela foi responsável pelo reajuste de mais de 77% acima da inflação do piso nacional, mas desde que Bolsonaro acabou com a valorização do mínimo, o piso nacional ficou 0,56% abaixo do índice oficial da inflação, de janeiro de 2020 a janeiro de 2021.

Sem dúvida, outro fator que fez disparar o preço dos alimentos foi a redução ano a ano dos estoques públicos de grãos e alimentos. Em 2019, mostra o boletim do Dieese, foram fechados 27 armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ligada ao Ministério da Agricultura.

Recentemente, o governo anunciou a realização de leilões para vender esses espaços. A Conab, além de responsável pelos estoques, é a principal compradora de produtos da agricultura familiar. Hoje já não há mais estoques de feijão, café e leite.


“A Conab existia para um momento de crise, para ajudar a evitar a carestia dos alimentos, mas os estoques reguladores foram diminuindo tanto que agora não conseguem ajudar a população a pagar mais barato pela alimentação”, afirma Monteiro.

Resumindo, a drástica redução das políticas de fortalecimento da agricultura familiar, responsável pela produção de mais de 70% dos alimentos consumidos no país, e o crescimento da exportação de itens alimentícios, impulsionado pela desvalorização do real diante do dólar, impactaram na oferta desses produtos no Brasil em 2020.

Em plena crise sanitária mundial, o governo brasileiro fragiliza a produção nativa, abre as fronteiras para a exportação de grande parte das commodities aqui produzidas e esvazia os estoques públicos reguladores. O resultado é a disparada dos preços dos alimentos que compõem a cesta básica, em todas as regiões do país


Preço do gás de cozinha

Em 2019, já no governo Bolsonaro, uma resolução do Conselho Nacional de Política Energética colocou fim à política do subsídio do gás de cozinha praticada pela Petrobras, um bem considerado essencial para as famílias brasileiras.

A variação de preços do botijão foi de 15% a 20% , de março de 2020 a março de 2021, dependendo a região do país. Com isso, o gás de cozinha também foi um dos vilões da carestia no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 14 milhões de famílias usavam lenha ou carvão em 2019 (cerca de 3 milhões a mais do que em 2016). O número significa que uma a cada cinco famílias brasileiras cozinhava com carvão ou lenha.


"Todas as decisões tomadas anteriormente pelo governo provocaram esses aumentos de preços, a massa de rendimento caiu e, ao invés de contribuir para o país sair da crise, o governo ajudou a cavar ainda mais o buraco", diz Gustavo Monteiro

“ O problema não é a pandemia, ela só aprofundou a crise. Foi o desmonte, a mudança no índice de reajuste do salário mínimo, a nos estoques reguladores de alimentos e a política de preços atrelada ao mercado internacional da Petrobras para o gás de cozinha, enfim, todas as decisões do governo é que contribuiriam para piorar a crise econômica do Brasil”, conclui Monteiro.

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