Diplomatas divulgam carta pedindo saída de Ernesto Araújo
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Diplomatas divulgam carta pedindo saída de Ernesto Araújo


Em um documento que começou a circular no sábado (27) nas redes sociais, diplomatas brasileiros tornaram pública sua insatisfação com a atuação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e pedem a saída dele do cargo. Manifestação ocorre na mesma semana em que senadores e o próprio presidente do senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AP), praticamente pediram a "cabeça" de Araújo a Jair Bolsonaro.

Entre os pontos destacados no texto, estão a maior crise da pandemia de Covid-19 no Brasil, onde mais de 310 mil pessoas já morreram em apenas um ano, o papel do Itamaraty no combate à pandemia e os sucessivos “exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo os códigos mais elementares da prática diplomática”.

O documento também revela que “o Itamaraty enfrenta aguda crise orçamentária e uma série numerosa de incidentes diplomáticos, com graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil. A crise da covid-19 tem revelado que equívocos na condução da política externa trazem prejuízos concretos à população. Além de problemas mais imediatos, como a falta de vacinas, de insumos ou a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país".

Apesar de não levar assinaturas, a autenticidade do documento foi confirmada pela Folha SP e o Correio Braziliense. O texto não foi assinado, segundo um diplomata ouvido pelo Correio, por ter sido elaborado por diplomatas da ativa “que não podem assiná-la como desejariam em razão de dispositivos da Lei do Serviço Exterior”, que impede que os servidores opinem sobre a política externa brasileira sem a “anuência da autoridade competente”.

O chanceler brasileiro tem uma atuação apontada como muito ideológica, com histórico de atritos com a China e críticas a um chamado “globalismo”. Em outubro do ano passado, em meio à pandemia, Araújo chegou a dizer que preferia ver a política externa do país sendo condenada por outras nações a se aliar ao “cinismo interesseiro dos globalistas”. "O Brasil fala de liberdade através do mundo; se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”, disse.

Segundo o Correio, o diplomata que atua há mais de 10 anos no cargo, disse que participou ativamente do processo de redação da carta, e que houve uma interação com “dezenas e dezenas” de colegas, espalhados em diversos postos no mundo. As mensagens entre eles foram trocadass pelo WhatsApp, e a intenção foi tornar público o documento.


Confira na íntegra a carta:

"Brasília, 27 de março de 2021,

Nos últimos dias, o Brasil superou a trágica marca de 300 mil mortes por COVID-19, tendo o papel do Itamaraty na resposta à pandemia ganhado grande relevância no debate nacional. Neste momento, às vésperas da celebração do dia do diplomata, não há o que se comemorar. Pelo contrário, nunca foi tão importante reafirmar os preceitos constitucionais que balizam as relações exteriores da República Federativa do Brasil, definidos no artigo 4º da Constituição Federal de 1988, assim como as melhores tradições do Itamaraty.


Historicamente, a política externa brasileira caracterizou-se por pragmatismo e profissionalismo. O corpo diplomático, formado por concurso público desde 1945, sempre investiu no diálogo respeitoso e construtivo, com interlocutores internos e internacionais, com a imprensa e o Parlamento. A Constituição de 1988 consagrou princípios fundamentais pelos quais nossa diplomacia deve guiar-se, entre eles a independência nacional; prevalência dos direitos humanos; o repúdio ao terrorismo e ao racismo; e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.


Nos últimos dois anos, avolumaram-se exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo os códigos mais elementares da prática diplomática. O Itamaraty enfrenta aguda crise orçamentária e uma série numerosa de incidentes diplomáticos, com graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil. A crise do COVID-19 tem revelado que equívocos na condução da política externa trazem prejuízos concretos à população. Além de problemas mais imediatos, como a falta de vacinas, de insumos ou a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país.


Nesse contexto e diante da gravidade do momento, sentimos ser nosso dever complementar os alertas emitidos pela academia, pelo empresariado, pelos movimentos sociais, por prefeitos, por governadores e pelo Congresso Nacional, a respeito dos graves erros na condução da política externa atual. Nunca foi tão importante apelar à mudança e à retomada das melhores tradições do Itamaraty e dos preceitos constitucionais - conquistas da nossa sociedade e instrumentos indispensáveis para a promoção da prosperidade, justiça e independência em nosso país.


Esta carta foi elaborada por diplomatas da ativa que não podem assiná-la como desejariam em razão de dispositivos da Lei do Serviço Exterior, que a propósito deveriam ser reexaminados tendo em conta sua flagrante inconstitucionalidade. Esperamos, com essas reflexões, oferecer mais elementos para que as necessárias e urgentes mudanças na condução da política externa ganhem maior apoio na sociedade, contribuindo, assim, para os esforços de superação das crises sanitária, econômica, social e política que enfrentadas pelo Brasil."

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