Entidades do setor produtivo e trabalhadores criticam juros do BC
- Da Redação
- 19 de jun.
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A elevação da Taxa Selic (juros básicos da economia) para 15% ao ano recebeu críticas do setor produtivo. Para entidades da indústria, do comércio e centrais sindicais, a alta prejudicará a produção e o investimento.
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, classificou de “injustificável” a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo ele, os juros altos vão sufocar a economia.
“Não lidávamos com um patamar tão alto [da Selic] desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado e possibilidade de aumento de juros e custo de captação de crédito. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questionou Alban.
Para a Associação Paulista de Supermercados (Apas), o Banco Central poderia ter tomado outra decisão. “Havia espaço para estabilidade e até mesmo para queda da taxa. Não há justificativas para uma taxa de juros neste patamar”, ressaltou o economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, em comunicado.
“O cenário atual demanda uma política macroeconômica muito mais alinhada com o desenvolvimento macroeconômico doméstico, com estímulo à produção e ao desenvolvimento. E apesar dos juros neste patamar, mesmo assim, agentes econômicos ainda acreditam que o PIB vai crescer 2.2%. Se tivéssemos uma taxa mais civilizada, inegavelmente, o crescimento brasileiro neste ano seria muito maior”, acrescentou Queiroz.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) informou que a decisão surpreendeu as expectativas de mercado. No entanto, ressaltou que o núcleo da inflação, que exclui os preços mais voláteis, continua acima do teto da meta anual, de 4,5% em 12 meses.
“Apesar da desaceleração gradual da atividade econômica interna e da valorização do Real, que tendem a diminuir a pressão sobre os preços, a inflação subjacente, que pende a sinalizar a tendência do aumento de preços, ao excluir os mais voláteis, se mantém muito acima da meta anual, num contexto de expansão fiscal e expectativas inflacionárias ainda desancoradas, justificando uma política monetária mais contracionista”, explicou o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da ACSP.
Centrais sindicais
A decisão do BC também foi mal recebida pelas centrais sindicais. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o BC dificulta a vida das famílias com a nova elevação da Selic e mantém o esquema que transfere recursos dos consumidores, das empresas e do Estado para o setor financeiro.
“Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central”, destacou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Em nota, a Força Sindical, destacou que os juros altos são um “veneno” para matar a produção e o comércio.
“Juros altos são um convite à especulação e proporcionam excelentes rendimentos ao setor bancário em detrimento da indústria e comércio. Os trabalhadores estão convencidos que ao permanecer a atual política de juros altos do Copom a tendência será de aprofundamento do desemprego e da pobreza”, criticou o presidente da entidade, Miguel Torres.
Com a Selic em 15% ao ano, o Brasil se torna o país com a segunda maior taxa real de juros no mundo, segundo um monitoramento das consultorias MoneYou e Lev Intelligence. O Brasil tem uma taxa real de 9,64%, atrás apenas da Turquia, com 14,44%.
Deputada comenta: 'Domínio escancarado do rentismo'
Em publicação na rede social X, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) classificou a decisão do BC - que ganhou autonomia no governo de Jair Bolsonaro (PL) - como reflexo do “domínio escancarado do rentismo e da oligarquia financeira sobre a política monetária”.
Para Jandira, o Copom estaria atuando em sintonia com os interesses do mercado financeiro, o que, segundo ela, compromete os investimentos em infraestrutura, indústria e inovação.
“Ao manter esse patamar absurdo e vergonhoso, o COPOM, refém do mercado financeiro, reprime investimentos em infraestrutura, indústria e inovação, e condena os trabalhadores e empreendedores brasileiros a um ciclo permanente de subdesenvolvimento e desigualdade”, escreveu.
“Urge defender um Banco Central verdadeiramente independente — um guardião da estabilidade real e do crescimento soberano, que, longe dos interesses oligárquicos, use a arma dos juros para fomentar a economia, o emprego e a justiça social, e não para engordar a especulação financeira que mantém o país estagnado”, acrescentou a deputada, defendendo mudança na condução da política monetária.
Com a Agência Brasil
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