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Escola de Cinema Darcy Ribeiro tenta conciliação


Escola de Cinema Darcy Ribeiro ocupa prédio cedido pelos Correios desde 2001 (Fotos Públicas)

A Escola de Cinema Darcy Ribeiro (ECDR) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos terão audiência de conciliação nesta terça-feira (18) sobre a desocupação do prédio em que a escola funciona desde 2001. O edifício, situado na Rua da Alfândega, 5, Centro do Rio de Janeiro, pertence à empresa pública, que pediu a reintegração de posse na Justiça.

Por trás da tentativa de desocupar o prédio está o projeto de privatização dos Correios, hoje presidido pelo general Floriano Peixoto Vieira Neto, que se diz "soldado do presidente Bolsonaro" e já revelou que a privatização será "case internacional" - entre outras, estariam interessadas na compra gigantes norte-americanas como Fedex e Amazon e chinesa Alibaba, de acordo com informação do Estadão.

O Instituto Brasileiro do Audiovisual, que administra a escola de cinema, recebeu o direito de ocupar o prédio em 2001, por meio de um patrocínio de dez anos. O instituto reformou o prédio para suas atividades, porém o contrato com os Correios terminou em 2011 e não foi prorrogado.

Em julho de 2019, a empresa pública decidiu pedir que a ECDR desocupasse o imóvel em seis meses. Em posicionamento enviado à Agência Brasil em janeiro de 2020, quando reforçou o pedido à escola, a estatal afirmou que "visando sua sustentabilidade financeira, está avaliando todo o patrimônio imobiliário para otimizar a carteira de imóveis". Procurados novamente para comentar o processo, os Correios responderam que não iriam se manifestar porque o assunto se encontra em juízo.

A empresa pública entrou na Justiça em março, com um pedido de liminar, para obter a reintegração de posse, que foi inicialmente rejeitada na 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Os Correios recorreram e obtiveram decisão favorável no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que determinou a devolução do prédio.

A diretora e fundadora da escola de cinema, Irene Ferraz, lembra que ainda há um decreto de calamidade pública em vigor por causa da pandemia de covid-19 e pede que a escola tenha prazo maior para conseguir a destinação de seu acervo. A escola, que foi declarada Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro em 2018, guarda coleções pessoais de cineastas e cinéfilos como Daniel Filho, José Wilker e Moniz Viana, além de roteiros originais do cinema nacional, equipamentos para a produção audiovisual dos alunos e filmes produzidos por eles.

"Estamos tentando mitigar os prejuízos da escola, para que se possa fazer uma saída com calma e organizar um lugar. A escola tem grande acervo do cinema brasileiro", pondera. "É um acervo de tanta importância que caberia em uma instituição que cuida de acervos".

Em despacho publicado dia 13, a juíza federal Geraldine Vital registrou que a decisão de reintegração de posse está vigente e pendente de cumprimento. A juíza pediu que a escola fosse intimada a informar nos autos a destinação dos bens que se encontram no imóvel.

Irene Ferraz destaca que a instituição foi responsável pela reforma do prédio, que tem nove salas de aula, duas ilhas de edição, uma sala de exibição com 100 lugares, biblioteca e salas de equipamentos. "Esse prédio estava totalmente em ruínas. Se não tivesse existido a escola, talvez esse prédio não existisse mais", afirma. "A escola salvou esse patrimônio. Fizemos a manutenção dele por 20 anos".

A diretora lembra que mais de 20 mil alunos já passaram pela instituição e afirma que a escola faz um trabalho social importante com a concessão de bolsas gratuitas, sendo uma referência internacional no ensino do audiovisual. "A escola é um patrimônio, atende a alunos do Brasil e do mundo. Temos alunos de outros países aqui".

Diante do prolongamento da pandemia de Covid-19, a escola vai retomar de forma online seus cursos regulares de direção, roteiro e montagem a partir de 24 de agosto. A direção também tem buscado parcerias com produtoras para realizar aulas práticas e só deve retomar aulas teóricas presenciais no ano que vem.

Irene Ferraz destaca que o isolamento social evidenciou a importância do setor audiovisual para a economia e para o dia a dia da população.

"Graças ao audiovisual, as pessoas puderam atravessar melhor tudo isso", afirma ela, que vê o setor como atividade promissora no mundo pós-pandemia. "Há uma geração que está produzindo conteúdo e que se formou na escola. E a gente precisa continuar formando para que continuem trabalhando. É uma questão também de empregabilidade".

A Escola de Cinema Darcy Ribeiro foi criada pelo conselho fundador do Instituto Brasileiro de Audiovisual (IBAV), composto em 1998 por personalidades como Oscar Niemeyer, além dos cineasta, Nelson Pereira dos Santos, Walter Lima Jr., Cacá Diegues e Ruy Guerra entre outros.


Com Agência Brasil

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