Escritório-fantasma de Bolsonaro no Rio já consumiu mais de R$ 1,7 milhão

Criado logo no começo do mandato presidencial, em 2 de janeiro de 2019, o escritório montado no Rio de Janeiro para o presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu domicílio eleitoral já consumiu R$ 1,7 milhão só em salários de servidores e jamais foi usado oficialmente pelo presidente. As informações são da reportagem do Globo, que esteve no prédio onde funcionários deveriam estar trabalhando durante a tarde, mas não encontrou ninguém no local. No dia seguinte, após falar com assessoria especial da Presidência no Rio, a reportagem voltou ao gabinete, mas foi impedida de subir.
O gabinete, instalado no tradicional Palácio da Fazenda, no Centro do Rio, também abriga salas que costumam ser usadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, quando ele está na capital fluminense.
A própria Secretaria-Geral do Planalto, que cuida das questões administrativas da presidência, confirmou por meio da Lei de Acesso à Informação que Bolsonaro nunca esteve no escritório.
O gabinete, localizado no prédio considerado um tesouro arquitetônico, foi montado com recursos públicos federais para que Bolsonaro pudesse trabalhar enquanto estivesse na cidade e serviria ainda, conforme informado pelo governo, para ministros de Estado, quando necessário.
Entretanto, a reportagem esteve no prédio na tarde de quinta-feira (7) e não encontrou qualquer sinal de servidores trabalhando. Na sala informada como o espaço destacado para Bolsonaro, não havia qualquer caracterização ou menção à Presidência da República.
Todas as outras salas próximas estavam trancadas. Um funcionário do edifício, que disse trabalhar no prédio há 32 anos, afirmou que nunca "tinha ouvido falar no gabinete" reservado para o presidente.
A assessora especial da Presidência no Rio, a capitã reformada da Marinha Andrea de Almeida Porto, disse que a ausência de servidores às 15h45 foi uma "coincidência", e que diariamente há alguém trabalhando no local. No entanto, ao voltar ao local no dia seguinte (8), também à tarde, a reportagem foi impedida de subir no edifício.
Embora tenha nascido em São Paulo, Bolsonaro fez carreira política no Rio, por onde, após ser afastado do Exército por um processo de expulsão, se elegeu deputado federal sete vezes e onde mantém uma casa em um condomínio na Barra da Tijuca. Desde que chegou ao Palácio do Planalto, Bolsonaro já fez nove viagens oficiais ao estado.
Construído em 1943 para abrigar o Ministério da Fazenda, o antigo Tesouro da época do Império e Real Erário do tempo colonial, o Palácio da Fazenda ocupa uma quadra inteira de 9.360 metros quadrados e 14 pavimentos de altura, numa área privilegiada na Avenida Presidente Antônio Carlos, no centro da cidade. O prédio é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).