Ex-chefe de Polícia preso assumiu cargo na véspera do crime
O delegado Rivaldo Barbosa, preso pela Polícia Federal (PF) neste domingo (24) por suspeita de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, assumiu a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro na véspera do crime, em 13 de março de 2018. Ele foi indicado ao cargo pelo general Walter Braga Netto, que atuava na época como interventor federal no Rio e depois virou ministro de Jair Bolsonaro (PL). O assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes aconteceu na noite do dia 14, no centro do Rio.
Braga Netto foi ministro da Casa Civil e da Defesa antes de ser candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022. Atualmente, ele é investigado pelo envolvimento no planejamento de um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula (PT) e manter Bolsonaro no poder..
Dez meses após assumir a chefia da Polícia Civil, em dezembro de 2018, Rivaldo Barbosa foi afastado do cargo.
Pouco antes, em novembro daquele ano, o ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando de Curicica, preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN) e suspeito de participação no crime, acusou a cúpula da Polícia Civil de acobertar assassinatos por mafiosos do jogo ilegal no Rio.
"Existe um batalhão de assassinos agindo por dinheiro, a maioria oriunda da contravenção. A DH e o chefe de Polícia, Rivaldo Barbosa, sabem quem são, mas recebem dinheiro de contraventores para não tocar ou direcionar as investigações", disse Orlando na ocasião.
Em resposta, por meio de nota pública, Barbosa desqualificou as acusações e disse que a investigação do assassinato de Marielle e Anderson estava "sendo conduzida com dedicação e seriedade". Ainda na nota, Barbosa afirmou que “nenhum esforço” era poupado para a “elucidação do caso”, e que “todas as técnicas e recursos disponíveis” eram empregados na investigação. E ainda garantiu que “o caso Marielle e Anderson está muito próximo de sua elucidação”.
Em 2019, um relatório da Polícia Federal indicava que Barbosa deveria ser investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pela suspeita de que teria recebido R$ 400 mil em propina para atrapalhar as investigações.
Indícios colhidos por investigadores apontariam, segundo apuração do site G1, que Barbosa prometeu, ainda antes do crime, que Domingos Brazão e Chiquinho Brazão ficariam impunes.
Rivaldo Barbosa foi preso neste domingo por parte da operação Murder Inc, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com a Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. Além dele, também foram presos os irmãos Chiquinho Brazão (deputado federal do União Brasil-RJ) e Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) - apontados como mandantes da morte da vereadora. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Atualmente, Barbosa desempenha a função de coordenador de Comunicações e Operações Policiais da Polícia Civil do Rio.
Os nomes dos três presos na operação constam da delação do ex-PM Ronnie Lessa, executor do crime, autor dos disparos de fuzil que mataram Marielle e Anderson.
Os irmãos Brazão
A família Brazão pertence a um importante grupo político do estado do Rio de Janeiro. Ex-deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Domingos é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), cargo do qual ficou afastado depois de ser preso, em 2017, na Operação Quinto do Ouro, acusado de receber propina de empresários. Essa prisão se deu no âmbito de desdobramento da Lava Jato no estado.
O irmão, Chiquinho Brazão, atual deputado federal pelo União Brasil-RJ, foi empresário e comerciante. Nas eleições de 2018, foi candidato a deputado federal pelo Avante e elegeu-se com 25.817 votos. .
Domingos Brazão disse, em entrevista ao UOL em janeiro deste ano, que não conhecia e não lembrava da vereadora Marielle Franco.
Já Chiquinho Brazão havia divulgado nota no dia 20 de março, depois que a acusação de ser o mandante vazou na imprensa. A nota diz que ele estava “surpreendido pelas especulações” e afirmou que o convívio com Marielle sempre foi “amistoso e cordial”.
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